Apolo - Capítulo cinco

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 Tudo aconteceu rápido demais para que eu pudesse entender. A única coisa que se passava em minha mente era; conte até dez e por favor, não vomite e jamais tenha um ataque agora.

Foi assim que passei a meia hora da cerimônia. Encarando o chão e contando até dez, e depois de dez a zero. Fiz isso mais de trezentas vezes, e acredito que apenas por conta disso ainda conseguia respirar.

Não posso dizer exatamente o que aconteceu naquele altar, como foram os votos, sei que ele disse sim.

Ela disse sim.

Todos aplaudiram e começaram a se levantar, ao mesmo momento que os noivos saiam pelo caminho de pétalas de rosas brancas. Não tive forças para encara-los, apesar de sentir seus olhares queimando em mim.

Eu não conseguia me mexer. Os dedos de Gina tocaram meu braço e o apertaram mais que o necessário me tirando do transe.

— Eu sinto muito. Não tenho como dizer para você o quanto eu sinto. — disse com lagrimas nos olhos.

Ela havia visto algumas fotos de Alpha enquanto ainda estávamos juntos, por isso havia reconhecido, e eu sabia disso. Ela não sabia de nada, assim como eu.

— Vamos embora agora, está bem? Apenas se levante, e vamos embora.

— O que está havendo, Gin? — perguntou Bela, confusa.

Os olhos apavorados de Gina voavam de mim para Bela, lagrimas grossas manchavam sua maquiagem e então seus olhos param atônitos atrás de mim.

— Apolo? É realmente você? — a voz da piscina, Louise. Como pude não reconhecer?

Engoli em seco, respirando fundo mais uma vez e contando até três, prometendo que eu ia retomar minha compostura.

Dois anos de terapia intensa e medicamentos precisavam ser o suficiente para passar por aquilo sem precisar correr para um banheiro ou desmaiar. Ou sei lá, entrar em coma, se é que isso é possível.

Reuni todas as forças que pude e me recompus. Mais uma lufada de ar e eu estava em pé.

— Gin, porque não vai com Bela para a festa, comer algo? — Gina me olhava com desespero no olhar, mas Bela a puxou, visivelmente preocupada com minha irmã.

Me virei e lá estava Louise. Estava menos magra do que na época da faculdade, parecia bem. Olhos azuis claros e um cabelo castanho longo e liso que corria até sua cintura. A maquiagem preta e pesada contrastava com o vestido em tom champanhe que abraçava suas curvas. Seus olhos estavam marejados e me encaravam assustados quando caminhei até ela. Antes que eu pudesse falar algo, minha bochecha ardeu com o impacto de sua mão, em um tapa dolorido.

— O que... — não pude terminar.

— Como tem coragem de aparecer aqui depois de dois anos? No casamento dela? Como você pode, Apolo? — e todo meu temor deu margem para um novo sentimento; a raiva.

— Está maluca? — ri amargamente. — Acha que eu escolhi vir até aqui ver Alpha se casar com o amante da época da faculdade? Eu tenho um pouco de amor próprio Louise.

— Ah claro, e o que está fazendo aqui? — disse revirando os olhos.

— Por incrível que pareça, estou como acompanhante de Bela. Belatriz, prima do noivo. — Aquele otário — quis complementar.

Louise parecia completamente confusa, ela não me esperava lá. Eu não esperava estar lá. Não esperava encarar Alpha Moody nunca mais em toda minha vida.

— Precisa ir embora, Apolo. Agora. — eu estava realmente sendo expulso do casamento da minha ex-namorada-traíra?

Algo em toda aquela situação tinha um "quê" de cômico. Foi pensando em como tudo aquilo aconteceu que comecei a rir.

De desespero? Bem, provavelmente, mas era melhor do que ter uma crise de ansiedade ou pânico em meio a um casamento, não?

Louise me olhava assustada com minha repentina mudança de humor, lagrimas escorriam de meus olhos e eu gostava de pensar que eram de tanto rir.

Polo? — meu riso cessou instantaneamente ao ouvir a voz suave de Alpha atrás de mim.

Que mania era essa das pessoas chegarem por trás de mim?

Louise me olhava assustada, como se a qualquer momento pudesse sair correndo dali. Mas logo seus olhos se fixaram em Alpha.

Antes de me virar e encarar a imensidão azul que eu sabia que me esperava, fiz mais uma vez o exercício de respiração da Dr. Emily. Até cinco, respirando fundo e soltando.

Então por fim me virei.

Ela estava ainda mais linda do que eu me lembrava, se é que isso era possível de alguma forma.

Os olhos azuis estavam contornados por uma maquiagem leve e as bochechas rosadas com a maquiagem. Estava bronzeada e os cabelos loiros antes presos pelo véu, agora estavam soltos em uma cascata maravilhosa sobre seus ombros, estavam mais longos do que costumava usar.

No seu olhar, apesar de poder ver inúmeros sentimentos, um deles se sobressaia. Alpha estava apavorada, assim como eu.

Envolvida nos braços de Alpha, a mesma garotinha da piscina que vi mais cedo, dormia tranquilamente.

— Quer que eu a leve para dormir? — interrompeu Louise, com um carinho evidente pela criança nos braços de Alpha.

Alpha desviou os olhos de mim para então olhar a criança.

— Ela está apenas cansada, foi uma manhã longa e está ficando tarde. — constatei que o sol havia realmente se posto e já estava escuro. — Pode levá-la para seu quarto, Lou?

— Claro, vou pedir que fiquem de olho nela. — disse pegando a criança nos braços e se afastando.

Alpha e eu as observamos se afastando, antes de pousarmos nossos olhos um no outro novamente.

Nada foi dito. Não havia nada a dizer. Meu coração martelava em meu peito de uma forma desesperada e minhas mãos ardiam para tocá-la, saber se era real.

Mas eu estava me sentindo completamente apavorado. Meu cérebro gritava "saia correndo daí agora!", mas meu corpo não respondia. Era como voltar naquela antiga lacuna em que o espaço e o tempo pararam, apenas para que eu e Alpha vivêssemos aquele momento. Éramos a nossa própria gravidade.

— Precisa ir embora. — foram as primeiras palavras dela. Em seguida, uma lagrima solitária rolou de seus olhos azuis.

— Dois anos e meio e a primeira coisa que faz é me mandar embora? — uma parte escondida do meu coração que ainda possuía o nome de Alpha tatuada se partiu naquele momento em infinitos pedaços.

Eu esperava que ela dissesse muitas coisas.

Sinto muito por ter te traído, queria que tivesse sido diferente. Eu o amava mais, sempre foi ele, errei ao voltar para você depois de ir embora. — essas são apenas algumas delas.

Mas me mandar embora, isso não estava nos meus planos. Com certeza não estava nos meus planos.

Então eu simplesmente não disse nada. Dei a ela meu olhar mais frigido, e a encarei com nojo, antes de marchar em direção a entrada da pousada, abandonando-a sem olhar uma segunda vez.

Assim como, um dia, ela havia feito comigo.

Apesar de achar que virar as costas para ela como ela um dia fez comigo teria um gosto maravilhoso de vingança, a única coisa que senti foi um amargo. Um amargo como um café forte em uma manhã de ressaca e doloroso como... Eu não sei sequer com o que comparar minha dor naquele momento.


Trajeto Paralelo - Alpha e Apolo | Parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora