Apolo - Capítulo dois

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Mas estar sempre neste limbo do tratamento mental, isso me cansava. Queria apenas estar realmente bem, porém por mais que eu caminhasse em direção ao meu bem-estar, parecia uma esteira ligada. Eu andava, mas não chegava em lugar nenhum.

Estava bem, mas não estava extremamente feliz. Havia sido extremamente feliz uma vez, antes daquele acidente. Antes de me esquecer de coisas que não voltaram.

A verdade é que depois, mesmo que estivesse tudo bem, a ausência das lembranças do verão ainda me causavam um "quê" de infelicidade.

Acelerei o carro pela estrada visando chegar o mais cedo possível em casa, se tivesse sorte Gina ainda estaria na faculdade e eu teria um tempo para relaxar e refletir sobre minha consulta, como Emily me recomendava, há dois anos.

Não tive tamanha sorte. Assim que pisei no apartamento Gina me encarava da mesa de jantar que nunca usávamos com um enorme sorriso, como um gato esperando sua presa se aproximar para ataca-lo. Não tive dúvidas de que ela matou o último período apenas para me esperar chegar da consulta.

E eu admito, esse carinho dela por mim enchia meu coração de um amor puro e leve. Gin era uma das minhas pessoas favoritas no mundo.

Me sentei ao seu lado e entreguei a ficha, como sempre fazia. Era minha forma de deixar a porta da minha mente sempre aberta para ela. Seu sorriso se apagou um pouco.

— Sinto muito. — disse com cautela. — Como se sente?

— Cansado, um pouco decepcionado, só que aliviado também.

Gina me abraçou e pousou a cabeça em meu ombro, me dando o consolo que eu sabia que precisava.

— Vamos fazer um jantar bacana, o que acha? — perguntou se animando novamente. — Você podia cozinhar aqueles hambúrgueres caseiros, ficaram ótimos da última vez.

Sorri, sabendo que ela apenas queria me ver na cozinha. Eu gostava de estar em frente as panelas e facas, isso me trazia controle de algo, quando eu sabia que nada mais estava em minhas mãos. Consequentemente um consolo.

— Vou começar a preparar as coisas. Vai chamar alguém? — perguntei sabendo a resposta. Gin nunca estava sozinha.

— Bela vem dormir aqui hoje. — disse sorridente. — Capricha nesse hambúrguer, vou ganhar essa mulher pela barriga.

Dei risada, me lembrando de quando Gina me contou sobre sua orientação sexual semelhante à minha: Mulheres.

É bem engraçado conviver com uma irmã mais nova e não precisar se preocupar com nenhum malandro querendo fazer algum mal a ela. A casa estava sempre cheia de garotas na verdade. E por mais que eu não tivesse qualquer interesse nelas, preferia encontrar uma jovem de pijama do que um marmanjo de cueca box na minha cozinha.

Perdi a noção da hora na cozinha, e quando percebi, o sol já havia se posto e Bela estava entrando pela porta.

— Hey garotão, como estão as coisas? — perguntou. Bela era uma garota muito bonita. Olhos verdes cristalinos e cabelos castanhos cacheados que batiam em sua cintura e dançavam com ela quando se movimentava.

— Estou bem, e você Bela? Gin me disse que vai passar a noite conosco.

Bela corou de uma forma engraçada, provavelmente constrangida com o fato de eu saber que ela não era apenas uma amiga de Gin.

— Sim, a menos que tenha algum problema.

Dei risada antes de fazer piada com a situação, como sempre fazia.

— Devo me preocupar com alguma gravidez adolescente?

Senti um tapa de Gina em meu braço e vi Bela corar em diversos tons de rosa.

Me lembrava os tons de rosa das bochechas de uma certa pessoa, mas afastei esse pensamento de minha mente.

Nos sentamos para comer em silencio, e quando eu ia perguntar o que estava havendo, dado que Gina não é apta ao silencio, ela o quebrou.

— Apolo, a verdade é que precisamos de você. — disse Gina, decidida. — Precisamos que seja o acompanhante de Bela, para que possamos fazer nossa primeira viagem juntas como casal, mas não parecermos um casal. — completou.

O pedido de Gina rodou em minha mente umas três ou quatro vezes como uma gravação, a qual eu tentava entender o que realmente ela queria dizer.

— Não entendi como posso ajudar, Gin.

— A família de Bel... Bom, eles não são muito tolerantes. Sabem que eu sou... — disse dando ombros, me deixando completar a frase mentalmente.

— Sim, sinto muito Bela. — disse com sinceridade. — E eu entro onde?

— Meu primo vai se casar. Preciso que alguém vá comigo ao casamento, e você é um cara bem convincente. Não teria segundas intenções, e como estou com sua irmã, consigo levá-la sem levantar suspeitas do porquê. — disse objetivamente.

Aquilo não me parecia uma boa ideia, mas ao mesmo tempo, o que poderia dar errado?

— Quando é? — disse dando mais uma mordida em meu hambúrguer, vendo os olhos de Gina se encherem de esperança.

— Sábado! — disse Gina empolgada. — Mas não é na cidade, em média umas duas horas de viagem, em uma das praias da costa. Já tem hospedagem e tudo incluso. — concluiu, como se isso fosse ser um problema

Dei ombros, comprando a ideia delas. O que poderia dar de errado, além de perceberem que não havia absolutamente nada entre mim e Bela?

Pensando bem, fazia anos que eu não colocava os pés na areia quente de uma praia, seria divertido.


Trajeto Paralelo - Alpha e Apolo | Parte IITempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang