Capítulo 62- Josh

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Faz uma semana. Uma semana que nada acontece. Uma semana que decidi caminhar até o apartamento como se tivesse o direito para aquilo.

É uma tortura não saber o que está acontecendo em sua mente, o que realmente está pensando sobre eu ter lhe pedido uma segunda chance. Ela tem um cachorro! Any tem um pequeno filhote de cachorro!

Certo dia eu disse que lhe daria um como presente, mas nunca dei.

Estou cansado, exausto. Já faz dias que não consigo dormir, com problemas que não saem da minha cabeça.

Pego meu celular, escrevo uma mensagem e apago em seguida. Jogo palavra e excluo no mesmo instante. Formo uma frase e envio, sem pensar se vou ter que apagar novamente.

"Eu só queria dizer, hoje eu passei o dia pensando em você... Assim como os outros. Te vejo em breve!"

Sei que também não vou receber uma resposta.

- Você vai formar um buraco no chão.- Noah diz parado na porta da cozinha.

Perco o ar pelo susto, parando no lugar como estátua. Me viro na sua direção, observando a carranca em seu rosto que sempre se forma quando fala comigo.

- A quanto tempo está parado aí?

- Tempo o suficiente para ficar tonto de ver você andando de um lado para o outro.

Noah entra na cozinha, abrindo a geladeira e pegando a jarra de suco que minha mãe colocou lá dentro.

Seu silêncio é ensurdecedor, parece que faz meu sangue gelar somente pela forma que fica quieto.

- Papai disse que quer conversar com você no escritório dele.- ele murmura devolvendo a jarra na geladeira mais uma vez.

- Sobre?

- Sei lá, não sou o papai para saber o que quer conversar com você.

- Poderia parar de ser frio?- murmuro.

- Poderia parar de agir como um babaca?

E então ele saí da cozinha segurando o copo que encheu, sem nem sequer me dar a chance para uma resposta.

Caminho até o escritório do meu pai, batendo na porta e esperando por uma resposta na qual não tive.

- Pai?- o chamo entrando no escritório.

Claramente não obtive respostas, o lugar está vazio. Foram poucas às vezes que eu entrei aqui, acho que consigo contar nos dedos os momentos em que meu pai me chamou para vir até aqui.

Observo a estante lotada de livros, sempre me perguntei se meu pai realmente leu todos que estão aqui, eu mais vejo ele com um jornal do que um livro em suas mãos.

Pego um qualquer para poder ver enquanto ele não aparece. Aparentemente é um livro sobre administração de trabalho, talvez seja por esses que meu pai tem uma empresa organizada.

Quando paro para ler uma página, mal vejo quando um envelope cai no chão, fazendo um leve barulho no carpete.

Não me lembro do chão ser oco para fazer barulho.

Me agacho e bato com o punho fechado no chão exatamente onde parece oco. Percorro meus dedos no carpete até achar um espaço onde pudesse puxar. Não me surpreendo por ver uma madeira solta.

A puxo tirando do chão, envelopes, uns cinco deles, confesso que fiquei um pouco decepcionado por não ter dinheiro neles.

Uma carta de amor.

Fofo, meus pais escrevem cartas de amor.

Abro me sentando na poltrona e pego o papel. Leio cada maldita palavra, a letra nada igual a da minha mãe.

"Querido Ron. Essa talvez seja a maior loucura e burrada que estou fazendo... Me apaixonei por você... Mas eu ainda tenho meu marido e minha filha... Talvez devêssemos parar... Eu te amo... Com amor, Priscila."

Pego outra carta, leio, fico enjoado, enojado. Continuo abrindo os envelopes numerados, um por um. Eu consigo sentir meu coração batendo mais rápido em meu peito.

"Vamos fugir!"

Está escrito na última. Não deveria nem sequer ter aberto.

"Meu amado Ron... Podemos fugir... Você me disse que já não a ama mais... Minha filha vai entender... Outra cidade... Uma nova vida... Aguardo a sua resposta... Te amo... Priscila."

- Filho?

- Como você pode?

- Do que está falando?

Me levanto indo até a sua mesa. Arremesso as cartas em sua frente ao mesmo tempo em que ele senta em sua cadeira.

- Traiu a minha mãe!

- Onde você achou isso?- pergunta assustado.

- Nem tenta negar.- resmungo.

- Você sabe que não gosto que mexa em minhas coisas!

- E você sabe que odeio mentiras! Como você consegue dormir na mesma cama que ela sabendo que essas cartas estão um andar a baixo?! Como você consegue trair aquela mulher?!

- Priscila já não é mais nada para mim.- ele diz se levantando.

- Se não fosse nada, você já teria se livrado dessas merdas, teria apagado ela da sua vida por completo!

Seu silêncio me machuca.

- Você ia fugir. O que te fez mudar de ideia?!- grito.

- Jaden.

- Claro que foi, ele entrou em seus sonhos ou você foi em um centro espírita bater um papo com o filho morto?

- Nunca mais vi ela desde o dia em que Jaden bateu o carro. Nunca mais a procurei por vocês, minha família precisava mais de mim do que outra mulher.

- Bravo!- digo batendo palmas- Agora você é o herói da nação! Percebeu que sua família era mais importante quando um deles morreu!

- Josh...

- Faz tanto sentido a Priscila odiar a Any.- murmuro- Se o acidente não tivesse acontecido, vocês ainda estariam juntos, provavelmente longe dessa cidade irritante...

- Como sabe que é a mãe da Any naquelas cartas?

- É só ligar os pontos. A forma como vocês se olharam naquele jantar de meses atrás entrega tudo.

- Não conte nada para a sua mãe.- ele pede.

- Não vou precisar, você vai fazer isso mais cedo ou mais tarde. Se você não fizer ela vai descobrir, é questão de ela entrar nesse escritório e pisar no lugar certo.
"Sabe, eu achei que era você que sempre teria que ter vergonha de mim, mas agora percebo o contrário. Eu que sempre vou ter vergonha de você, minha vida teria mudado muito menos se você jamais tivesse me chamado para uma conversa!"

- O que está acontecendo aqui?- Noah pergunta da porta- Está dando para ouvir a gritaria lá de baixo.

- Você nem pode acreditar Noah.

- No que eu não posso acreditar?- pergunta confuso.

- Talvez o papai te conte. Eu tenho um acidente para investigar.

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Por essa vcs não esperavam nenhum pouco que eu sei kkkk

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Até a próxima, Kyara!

De repente... Você!Where stories live. Discover now