Capítulo 7- Josh

3.2K 325 169
                                    

  Sentado no banco da praça, abraçando meus joelhos e com o queixo encostado no meu braço. Observo as novas crianças correndo pelo parquinho, rindo, gritando, pulando, como se hoje fosse o último dia das suas vidas.

A felicidade permanece nos olhos das crianças no balanço. A pequena adrenalina infantil para as outras que estão descendo no escorregador. O medo da altura para os que estão na gangorra, e a irritação para os que estão tendo os castelos pisoteados na parte da areia.

Quando eu era criança, achava que crescer seria legal. A pia do banheiro não seria mais tão alta e eu mesmo poderia arrumar a temperatura do chuveiro. Achei que os machucados iriam se curar mais rápido, como se nunca tivessem existido. Quando eu era criança, eu odiava dormir porque tinha medo de perder a diversão da vida, agora eu durmo para evitá-la.

Mas eu não sabia, que crescer significava morrer por dentro. A cada dia que passa, em todos os minutos respirando.

Os machucados superficiais realmente não parecem existir, diferente dos que tem na alma, que doem mais a cada segundo que é lembrado. Doem como se um novo tivesse acabado de ser feito.

Noah descobriu que dei o relógio que ganhei dele em troca do dinheiro, a irritação e a mágoa permanecem em sua face mesmo depois de dias. Ele mal conversa comigo, e a vergonha dentro de mim não permitiu nem que eu o olhe nos olhos.

Eu não gastei o dinheiro, nem mesmo um centavo. Mas quando fui tentar recuperar o relógio já era tarde demais, Drack já tinha passado ele para outra pessoa.

Minha respiração falhou quando meu peito se apertou, a mesma dor que eu senti quando vi a mágoa nos olhos dele. Noah não merece passar por isso, ele deveria se preocupar somente com a faculdade e aproveitar seu namoro.

Já falei centenas de vezes que a preocupação dele não deveria ser comigo, não deveria ser em que horas eu chego em casa ou se vou conseguir chegar até ela. Não deveria ser se vou chegar inteiro ou com uma parte do corpo quebrado. Não deveria ser se vou chegar drogado ou totalmente sóbrio.

Eu estou tirando o foco da vida dele, e Noah parece que não percebe isso. Parece que não percebe que eu não deveria ser a sua preocupação da madrugada.

Virei minha cabeça para o lado, para conseguir ver quem se sentou no espaço vazio do banco. Ela abriu um sorriso, mas seus olhos não tem nenhum brilho de alegria.

- Oi.- ela sussurra.

- Oi.

Volto a observar as crianças brincando, não a vejo faz dias, como se de uma hora para outra ela tivesse desaparecido do mapa.

- Você não está bem hoje.- isso não foi uma pergunta.

- Estou sim.- murmurei.

- Não. Hoje você não parece estar bem.

Any continuou afirmando como eu aparento estar, triste, cabisbaixo, pouca energia. Ainda olhando para as crianças a minha frente, com os olhos cheios de lágrimas, eu insisto em dizer que estou bem.

- Você quer um sorvete?- ela pergunta.

- Sou eu quem compro o sorvete aqui.- sussurro.

- Não importa, você quer sorvete?- pergunta mais uma vez.

- Não.

- Ok.

Ficamos em silêncio por longos minutos, observando a energia das crianças nunca se esgotar. Nenhum de nós dois pareceu querer dizer algo nesse tempo.

- Você usa drogas?- Any pergunta receosa.

- Usava.- sussurrei mais uma vez.

Talvez seja por isso que não a via faz dias, descobriu sobre o que sempre falam sobre mim e teve medo de voltar.

- Você tem um irmão chamado Noah?- a olhei com um certo medo.

- Está pesquisando sobre a minha vida, Any?

- Não. Mas se você realmente tiver um irmão chamado Noah, ele sempre vai na lanchonete onde trabalho e um dia falou sobre você.

- Não ligue para o que ele fala, está chateado comigo e pode acabar dizendo demais às vezes.

- Vocês tem personalidades totalmente diferentes.- murmurou.

- Noah tem mais a cabeça no lugar do que eu.

- Ou talvez ele seja um pouco mais extrovertido.

- Sempre foi assim, sempre falou mais do que a boca permitia também.

- Seus olhos brilham quando fala dele. Da para ver que o ama.

- Ele é um cara legal.

Voltamos ao silêncio e as crianças a nossa frente, os raios do sol ultrapassam as folhas das árvores, deixando alguns riscos iluminados no banco.

- Ouvi o Noah dizer que você anda mais sorridente.- Any sussurrou, mais uma vez quebrando o silêncio- Eu quase concordei com ele, mas não tinha certeza se era sobre você que ele falava. Dês do primeiro dia em que te vi até hoje, você anda sorrindo mais, pelo menos quando nos encontramos. Você parece estar mais leve, e tem um leve brilho nos seus olhos enquanto fala.

Continuei em silêncio olhando para frente. Suas palavras entram pelos meus ouvidos e percorrem minha mente.

- Eu sei que você não está bem hoje, Josh. Seus olhos estão opacos sem nenhum brilho, a única vez que ele apareceu foi quando falei do seu irmão. Está desanimado, que se alguém chegar aqui e te der um soco, você é capaz de nem querer revidar.

- Você também não fez nada quando jogaram lixo como se seu corpo fosse uma lixeira.- murmurei.

- Mas eu já tentei fazer e saí na pior, então tive que me acostumar com isso. Aquela não foi a primeira nem mesmo a quinta vez, Josh.

- Não é legal te confundirem com uma lixeira.

- Sei que os machucados doem mais às vezes. Criamos uma máscara para esconder a dor e tudo volta a parecer normal. Pode ter certeza que eu estou mais quebrada do que aparento estar, Josh.

Eu olhei em seus olhos, a dor sempre esteve perceptível neles, isso nunca será possível de ser escondido totalmente.

- Me deixe descobrir você, Josh.

- Você não vai gostar do que vai ver.

Any puxou um dos meus braços que ainda está no meu joelho. Entrelaçando seus dedos nos meus quando sua mão alcançou a minha.

- Não tenho medo.

- Você provavelmente vai ir embora depois.

- Não. Eu irei ficar. Vou ouvir seus segredos e trancá-los a sete chaves. Quero saber seus medos e o que te faz rir. Um dia você me disse "Bem vinda ao meu mundo", e eu quis dizer que eu já estou nele a muito tempo.
De uma hora para outra todos se foram, não sobrou ninguém. Notícias falsas foram espalhadas até em jornais da cidade e eu não pude fazer nada.
Então eu sei como é difícil você querer ter alguém para desabafar e não encontrar nenhuma pessoa disposta a realmente te ouvir.
Nunca fizeram isso por mim, então eu gostaria de ser a pessoa que está aqui para fazer para você.

- Aceito que você seja essa pessoa apenas com uma condição.- falo passando meu dedo na sua mão.

- Qual?

- Que permita que eu seja essa pessoa para você também.- seus olhos brilharam junto a claridade da tarde.

- Trato fechado, Josh Beauchamp.

- Trato fechado, Any Gabrielly.

__________________________________

Capítulo depressão e alegria.

Decidi que realmente não vai ter capítulo no domingo pq simplesmente ninguém lê e quando fazem não comentam.

E entendam, eu preciso da dose diária de comentários.

Josh no Canadá já me deu mais mimos do que em um ano inteiro

Votem e comentem

Até a próxima, Kyara!

De repente... Você!Where stories live. Discover now