Prólogo

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Pov. Ingrid

Sabe quando você toma uma decisão, que no momento você não julga ser precipitada, mas menos de um segundo depois surge uma voz na sua cabeça, muito parecida com a do Faustão gritando "errooooouu" bom, minha vida sempre foi resumida nesses momentos.

Agora mesmo, vendo a cara espantada do meu melhor amigo me olhando como se eu fosse uma louca desvairada por ter confessado que o amo desde a terceira série, que foi quando nos conhecemos, a voz gritava comigo enquanto ria da minha mais nova desgraça.

E tudo piora quando ouço o seu discurso pronto de rejeição, o mesmo que ele usa com todas as meninas iludidas da escola que achavam que tinham alguma chance com ele, e saber que agora eu também era uma delas deixava tudo ainda pior.

Mas também o que eu poderia querer, era só a amiga gordinha e meio nerd do garoto mais popular da escola, no auge dos seus dezessete anos ele já tinha a pele lisa e perfeita, nada das espinhas que cercavam o rosto de praticamente todo mundo que estudava com a gente, os cabelos negros como a noite e os olhos eram de um tom de verde ainda mais brilhante que uma esmeralda, perdi a conta de quantas vezes me peguei hipnotizada por eles, seu corpo já era diferente dos outros garotos da nossa classe, fruto da academia que ele frequentava quase todos os dias e que já tentou me arrastar diversas vezes, era o perfeito sonho de qualquer adolescente iludida, incluindo eu.

- Ei Ingrid! Está me ouvindo?

- Si.. Sim, me desculpe, acabei me distraindo um pouquinho aqui.

- Tudo bem, só espero que me entenda e que a nossa amizade continue a mesma. - sei que ele parecia sincero, mas essa era apenas a última pá de terra que eu precisava para  me enterrar num buraco bem fundo e nunca mais sair.

Já estava pensando em alguma desculpa sem graça ou então falar que tudo não passava de uma brincadeira quando o meu celular começa a tocar me salvando de mais alguma constrangimento.

- É minha mãe, eu preciso atender. - nem espero uma resposta dele e saio da sorveteria em que estamos mais rápida que um raio.

- Oi mãe, o que foi?

- Você precisa vir para casa , agora! - sua voz não estava serena e branda como sempre, parecia nervosa, aflita.

- O que aconteceu? - pergunto, mesmo temendo sua resposta.

- Ele nos achou! Precisamos ir embora o mais rápido possível.

Meu coração que já estava pequeno devido a rejeição agora havia se partido de vez, o nosso pior pesadelo havia voltado e não tínhamos muito tempo até que ele nos achasse, já havíamos conversado inúmeras vezes sobre o que iriamos fazer caso isso acontecesse, e sinceramente nunca achei que isso aconteceria.

Desesperada corro o mais rápido que posso enquanto a mantenho no telefone, sei que se desligar ela vai acabar desabando e eu também. Consigo escutar uma voz masculina chamar pelo meu nome, mas apenas o ignoro e continuo correndo, na escala dos meus problemas ele era o menor deles agora.

Minha casa não ficava muito distante da sorveteria, apenas duas quadras de distância e já conseguia ver mamãe em frente ao portão me esperando, travo na hora que vejo que ao seu lado há grande caminhão de mudança que estava sendo carregado com nossas coisas, era real mesmo, o pesadelo era real.

Corro os últimos metros para chegar até ela que me abraça forte, seu choro silencioso molha a camisa do uniforme que estou vestindo, algumas vizinhas sentadas em suas cadeiras de balanço olhavam a cena com curiosidade, não entendendo o que estava acontecendo, mas as ignoro e me aperto contra o corpo de minha mãe.

- Temos mesmo que ir, né? - mesmo sabendo que é uma pergunta ridícula, preciso que ela confirme.

- Você sabe que não podemos ficar, agora que ele sabe onde moramos não sei o que fará quando nos achar. - ela responde enquanto funga e se afasta. - Sinto muito, abelhinha.

Duas Vezes AmorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora