- Está tudo bem, mãe. - não estava, mas nesse momento meus problemas adolescentes ficariam em segundo plano.

Nossa felicidade e segurança, mas a sua na verdade, seria a prioridade.

Caminho com ela de volta para a casa que havia sido nosso lar por tantos anos e que agora ficava cada vez mais vazia. Mamãe já havia feito suas malas e os poucos móveis que levaríamos já estavam sendo carregados para o caminhão, corro até o meu quarto para fazer a minha parte também.

Assim que entro sou recebida pelas paredes em tons de rosa contrastando com os diversos pôsteres de bandas de rock que as cobrem em quase sua totalidade. Só de pensar que teria que descolar um por um e que eles poderiam acabar rasgando já sentia meu coração doer, se tinha uma coisa que eu amava mais do que o meu melhor amigo, apesar da rejeição, era música, e os pôsteres junto aos discos que colecionava era o que externava esse amor.

Como se soubesse que era o domínio de meus pensamentos, meu celular vibra no bolso com uma nova mensagem, dele.

"Hey, tá tudo bem?! O que aconteceu? Por que saiu correndo da sorveteira? Estou indo aí!"

Vendo o final da sua mensagem, minha respiração trava na hora, já havia partido meu coração por saber que não era correspondida por ele, mas me despedir dessa forma tão abrupta não estava nos planos, não queria ter que passar por isso. Covarde, eu sei! Mas não quero ter que me despedir dele dessa forma, talvez por mensagens seja melhor, isso é claro quando já estivesse longe o suficiente para que ele não pudesse mais me encontrar, já que tinha certeza que ele viria correndo até minha casa quando soubesse que estava indo embora.

"Não precisa, eu estou bem! Era apenas um problema com minha mãe, mas já resolvi, não se preocupe"

Digito a mensagem rapidamente enquanto caminho até meu guarda roupa pegando as duas malas que tenho em cima dele, não que precisasse de muito mais do que isso.

"Tem certeza? Ainda não terminamos nossa conversa e hoje íamos assistir filmes na sua casa, né?"

"Minha mãe ainda não está 100% então vou ficar com ela, podemos deixar para outro dia?"

"Tudo bem, fala pra tia que mandei melhoras, até amanha Boo"

"Até"

O apelido carinhoso mesmo depois do seu fora ainda me deixava com borboletas no estômago, o que era estupidez eu sei, mas a sua projeção de estarmos juntos no dia seguinte era o que mais pesava, não estaria aqui amanhã, na verdade não tinha noção de onde estaria, as conversas com mamãe nunca chegavam até o momento em que ela me falava qual era o nosso plano b, ou onde ele ficava. E quanto mais velha e apaixonada eu ficava,mais não gostava de pensar sobre isso, mas agora minha realidade era essa e uma vida nova me aguardava em algum lugar, eu querendo ou não.

Tento não pensar muito nisso e faço as malas de forma automática, trato tudo como se fosse apenas uma viagem de férias e que logo estaríamos de volta, tentando afastar um pouco a tristeza de estar indo embora sem poder avisar ou me despedir de ninguém, como se fossemos criminosas.

Meia hora depois deixo que os homens que estavam carregando o caminhão de mudança entrarem no meu quarto para empacotar e carregar as minhas coisas que eram as únicas que faltavam para que pudéssemos ir.

Saio arrastando minhas malas e encontro minha mãe no caminho que me ajuda, nossa casa não era muito grande, mas agora sem os móveis ela parecia uma mansão, nossos passos ecoavam pela sala conforme caminhávamos em direção a saída, respiro fundo duas vezes olhando em volta tentando guardar cada detalhe da nossa casinha, mordo meu lábio com força para segurar as lágrimas que queriam vir com força, mas tenho que ser forte, por mamãe.

Coloco nossas malas no carro e enquanto ela conversa com os carregadores e checa os cômodos da casa, sento no banco passageiro e puxo o meu velho celular e os fones de ouvido do bolso do moletom que estou usando, seleciono o modo aleatório e abro um pequeno sorriso quando os primeiros acordes de Smells like teen spirit do Nirvana começa a tocar, nunca importaria o tamanho do problema, com apenas um pouco de música sempre me sentiria melhor.

Não demora muito até que mamãe se sente ao meu lado e me dê um sorriso de lado, sei que não quer demonstrar o quanto tudo isso a está afetando e decido fazer o mesmo, dou um leve aperto em sua mão e digo que ficaremos bem, mesmo não tendo muita convicção em minhas palavras.

Ela não precisa de mais nada, apenas liga o carro e partimos deixando nossa pequena cidade onde vivemos por tantos anos incríveis para trás, permito que uma lágrima ou outra caia ao lembrar do que deixarei e do que estamos fugindo, mas ao olhar para minha mãe toda minha força se restaura automaticamente, sei que sempre estaremos juntas lutando quantas batalhas fossem necessárias, no final o destino não importava mesmo.


Oie pessoinhas

Apenas um pedacinho do que vem por aí pra deixar vcs com um gostinho de quero mais

Será que Ingrid e Ethan já podem reservar um cantinho no coração de vocês?!

Duas Vezes AmorWhere stories live. Discover now