Episódio 03 | Um ato cruel

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[Quarta-feira, 08 de agosto de 2019]

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[Quarta-feira, 08 de agosto de 2019]

Sem a máscara, eu estava sentado em frente a Francisco, cuja cabeça cabisbaixa indicava que ele ainda não havia acordado. Nos encontrávamos no meu porão, que ficava sob a casinha ao lado do hotel. O porão era composto por uma enorme caixa de vidro à prova de balas, de modo que cada parede contivesse em torno de quarenta metros quadrados de área. Além das duas cadeiras, havia uma mesa com meus pertences de tortura — e nada mais.

Era início de noite. A única lâmpada no teto de vidro iluminava o lugar inteiro.

Devagar, Francisco deu os seus primeiros indícios de que estava acordando. Seus pulsos algemados por trás e as pernas amarradas o impossibilitavam de escapar da caixa. Seu corpo também estava preso na cadeira, com cordas mantendo-o colado ao encosto. Como se já não bastante toda essa imobilidade, ele estava muito mal para conseguir fugir dali. A ressaca era sua melhor amiga no momento.

Piscando freneticamente os cílios abatidos, ele me encarou. Um feixe de baba misturada com sangue escorria da lateral de seus lábios inchados — uma consequência da pancada brutal do taco de beisebol. Uma única paulada certeira em sua cabeça o fizera desmaiar.

— Desgraçado — ele sussurrou, voltando a fechar suas pálpebras cansadas. — Você é um puto desgraçado, moleque.

Nas sessões em que vi Dimitri conversando com os monstros que capturava, notei que ele usufruía uma formalidade calma e inegavelmente fria. Nunca dava para saber quando ele estava com raiva. Ao contrário dele, eu não teria toda essa elegância para lidar com meus criminosos. Eu não conseguia me imaginar formando uma avassaladora expressão de paciência; teria que deixar esse charme para ele.

Entretanto eu levaria a sério um dos pedidos de Dimitri: de não estender minha conversa com a vítima. Dimitri me dissera que, quanto mais sucinto eu fosse, melhor seria. Para ser sincero, se eu passasse mais uma hora com esse filho da mãe, enlouqueceria. Então fui direto ao ponto.

— Você matou uma travesti há pouco mais de três anos — comentei, incapaz de dominar a reprovação. — Lembra-se disso?

Ele riu, parecendo um fumante com sérios problemas respiratórios. O cheiro de bebida alcoólica era gritante.

— Se tá me esperando pedir desculpas, pode esquecer, cara. Não me arrependo nem um pouco de ter feito aquilo. — Francisco lentamente abriu os olhos frios. — Aberrações como você precisam ser exterminadas da Terra. Foi mal aí, parceiro, mas o mundo não foi feito para você.

— Não sou seu parceiro.

— Então vá se foder, veadinho.

Irritado, tirei uma faca de arremesso do meu blazer e a pressionei contra suas partes íntimas, fazendo-o se contorcer na cadeira. O objeto era tão afiado que facilmente atravessou o tecido grosso da calça jeans.

INTENSÉMENT (temporada dois)Where stories live. Discover now