Corte de Sombras e Sons (concluída)

Deus da Morte

Pov Nestha

Emerie e eu voamos.
Nenhuma de nós podia voar no sentido literal da palavra, mas foi a sensação que tive enquanto nos lançavamos pela escuridão abrindo caminho até ela.
Até a nossa terceira parte.
Dizem que a Mãe é uma deusa tripla, uma deusa de três faces. Eu espero que cada uma delas olhe por uma de nós.
Quando o caminho ficou alagado e a lama grudava nos pés, eu soube que estávamos perto.
Não tive tempo para ter medo, ou para ficar apreensiva quando vi os cabelos ruivos da minha amiga dançando na noite como uma chama escarlate.
Parada ao lado de Gwyn eu queria cobrar os chutes que prometi.

Gwyn: é bom ver vocês, eu as abraçaria mas temos poucas horas até os machos e parceiros chegarem reivindicando a luta e nossa proteção.

Nestha: ao inferno com isso.

Os olhos azuis oceano de Gwyn brilhavam.
Eu conhecia aquele olhar.
Ela tinha um alvo.
Um objetivo.
Um foco.
Como eu disse a Azriel meses atrás, não há sombra no mundo que proteja alguém da determinação de Gwyn.
Ela cortou aquela fita.
Ela dobrou o Encantador de Sombras.
E eu confiava que seu próximo alvo ia sucumbiu perante aquele olhar da mesma forma.

Emerie: qual é a plano?

Gwyn: vocês se lembram da nova formação que Cassian tentou nos ensinar?

Nestha: era a coisa mais confusa que já vi.

Gwyn: sim, então vamos simplificar, uma de nós será a isca, a outra vai atacar com tudo o que tem pra deixa - lo confiante, e a terceira espera pelo golpe final.

Ouvimos nossa irmã com atenção, e então nos dirigimos ao lago.
Tínhamos entendido sem que fosse necessário dar nomes.
Andando, juntas como uma unidade.
Sem nos esconder.
E sem demostrar medo.
A poucos passos do lago, aquela voz odiosa ressou

Koschei: sabia que chegaria o dia em que você viria ao meu encontro.

Devia estar falando comigo.
Já nos encontramos antes.
E eu matei Briallyn que agia em favor dele.
Koschei devia saber que pagaria pelo que fez a Cassian.

Nestha: você fez questão de atrapalhar bastante a minha vida ultimamente, vim devolver o favor.

Koschei: ah, olá Nestha.

Ao som do meu nome Emerie avançou.
Um escudo erguido e uma espada fina em riste.
Ela se chocou contra o centro da criatura, empurrando e tentando cravar a espada em algum lugar.
Mas sempre evitando a água do lago.
Por mais que tentasse, ela não conseguia atingi -lo.
Era como atacar a névoa.

Emerie: não abra essa boca imunda pra dizer o nome dela.

Koschei pareceu se irritar, e lançou Emerie pelos ares.
Que caiu próxima a margem do lago.
Meu poder rugiu dentro de mim, ele não era mais tão vasto, mas isso não era de todo ruim.
Me dava mais controle.
Avancei gritando, a imagem de Emerie caindo impregnada em meus olhos.
Ataxaria brilhando em minhas mãos, pulsando no mesmo ritmo que o meu coração. Como um.
Koschei desviou das minhas investidas, ele não se deu ao trabalho de desviar da espada de Emerie.
Mas ataraxia era um item feito.
Forjado por mim.
Ainda assim, não conseguia ser tão rápida quanto ele.
Em um descuido, senti ele agarrado minha cabeça, a mão tão grande que a pressão era imensa.
Vi um brilho vermelho e azul se aproximando e abri melhor os olhos a tempo de ver Gwyn atingir em cheio o rosto do Deus da Morte com um chute.
Do outro lado, um farfalhar de assas e a lâmina de Emerie surgiu no horizonte, atingindo uma das pernas dele.
Não conseguia me soltar, ele era muito forte.
Então, não me soltaria.
Eu era a isca.
Agarrei com força a mão e o braço que Koschei usava pra me segurar.
Mantendo ele no lugar.
Gwyn e Emerie ficaram mais livres para golpear.
Dizem que guerreiro e espada são uma extensão um do outro, se isso é verdade, Gwyn e Emerie eram tanto o guerreiro quanto a espada uma da outra.
Enquanto eu segurava firme, os pés enterrados no chão, podia ver, uma atacava e seguia para o próximo alvo, a segunda vinha logo atrás pra terminar aquele primeiro golpe.
Tão rápidas que a minha visão ficava borrada.
Eu tinha a sensação que os pés delas náo tocavam o chão, e me perguntei se Gwyn estaria fazendo isso.

Gwyn: Nestha!

Ao som do comando dela liberei as amarras sob o meu poder.
Aquela onda subiu e emergiu pela superfície com sede. Caçando, farejando.
As pontas dos meus dedos brilharam em prata, e eu sabia que meus olhos as imitavam.
Podia ver Gwyn atacando sem parar, uma chuva de golpes em uma velocidade impressionante, e Emerie, embora ferida, empunhava a espada na posição perfeita e desferia golpe após golpe. Dando tudo de si.
Minha chama ondolou e se expandiu em direção a ele.

Koschei: a morte é minha companheira e minha amiga, Nestha Archeron, a mais tempo do que este mundo é mundo.

Foi como um puxão.
Como segurar uma corda com força, enquanto alguém puxa do outro lado.
Ele estava agarrando o meu poder, levando embora.
Tomando.
Meu poder era a própria Morte.
Koschei era um Deus da Morte.
Rugi, gritei e rasguei.
Puxei aquela corda até que não restasse nada de mim para puxar.
Podia ouvir minhas irmãs gritando.
Sabia que o que estava acontecendo dentro de mim, apenas eu e ele víamos.
Mas elas entendiam.
Sabiam que eu estava sendo roubada.

Gwyn: não vai tirar mais nada de nós.

Aquela voz que era e não era dela.
Que era única e várias.
Que parecia vir de um ponto único e central, mas que ressoava pelo mundo.
A água do lago se agitou e se levantou como uma onda do oceano.
Gwyn fluatava ao meu lado, os olhos brilhando.
Mesmo que água não a tocasse, era como ver alguém mergulhando. O cabelo dancando ao redor do rosto.
Feyre devia pintar isso.
Pisquei, afastando o pensamento.
O volume de água crescia e crescia sob nossas cabeças.
E quando não restava mais nenhuma gota no chão.
Quando tudo a nossa volta era uma parede letal d'agua, uma redoma que nós cercava de todos os lados
Eu vi.
Todos nós vimos.

Koschei: sabia que viria, todos sabíamos.

Ele não estava falando comigo.
Koschei não estava esperando por mim.
E naquela redoma feita da água do lago, nós podíamos ver porque.
Com um último puxão ele levou o resto da minha chama.
Mesmo que Gwyn quisesse atacar, mesmo com toda aquela água a sua disposição
Agora ela não podia.
O Deus da Morte estava esperando pela minha amiga.