o canto da sereia

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Pov Gwyn

Quando meu expediente acabou, eu estava exausta.
O treinamento.
Correr de um lado pro outro por causa de Merill.
E ter ficado a tarde toda tentando conjurar o meu poder de cura sem sucesso nenhum tinha me exaurido completamente.
Caminhando até onde ele estava, eu só conseguia pensar na vergonha que iria passar.
Que tipo de idiota não consegue acessar o próprio poder?
Mas em minha defesa, nunca tentei desenvolver aquilo, era tão pequeno, tão ridiculamente pequeno, que eu não via razão para se quer tentar.
E agora que precisava não fazia ideia de por onde começar.
Merda, porque eu aceitei aquilo?
Já no quarto, tentava não parecer nervosa mas meu cheiro me denunciava.

Azriel: como ela se tornou a maior assassina da cidade com quinze anos?

Poderia ter facilmente caído no chão com o susto, eu nem tinha notado que estava congelada no centro do quarto surtando com a minha tarefa impossível.
Respirei, do que diabos ele estava falando?
Ah sim, do livro!

Gwyn: ela foi criado por um mestre de uma guilda de assassinos.

Azriel: mesmo assim.

Gwyn: você já tinha cem anos quando realizou seu primeiro feito histórico?

Por algum motivo, eu sabia que ele tinha começado aquela conversa só pra me distrair.
E eu também achava que ele estava me instingando a insulta -lo.
Como se gostasse disso.
Bom, eu gostava também.

Azriel: você não consegue mais sentir?

E agora ele estava perguntando sobre aquela minúsculas gota de poder de cura dentro de mim.

Gwyn: mais ou menos, quase sinto. Quer dizer, sei que ainda está lá, mas não consigo alcançar, quase...quase como...

Azriel: uma sombra.

Eu não tinha percebido que olhava pra janela esse tempo todo, mas virei pra encara -lo nesse momento.
Ascentindo positivamente com a cabeça.

Azriel: então não é um problema, você se da muito bem com as minhas.

Tinha um leve toque de...ciúmes?
Quase como se ele estivesse surpreso por alguém além de si mesmo conseguir esse feito.
Não consegui me impedir de corar.
Em um instante, aquilo parecia íntimo demais.
Ele percebeu, porque assumiu seu ar de professor imediatamente.

Azriel: o poder responde a você, só precisa convoca -lo, com determinação.

Fechei os olhos e me concentrei em mergulhar pra dentro de mim mesma, acabei levando isso muito ao pé da letra porque quando notei estava no fundo de um lindo aceano, a luz do sol dançava na água provocando lindos reflexos.
Algas, estrelas do mar, golfinhos e peixes passavam por mim como se eu fosse um deles.
Casa.
Eu me sentia em casa.

Azriel: chame.

A voz dele parecia distante, vinda da superfície, mas o comando era claro e exerceu sua influência.
Sabia o que precisava fazer.
Uma melódia explodiu do meu peito, mesmo debaixo d'agua eu podia ouvir com clareza.
Era algo antigo, mas que me pertencia, estava aqui a muito tempo eu só não tinha olhado nessa direção.
Flutuando dentro e fora de mim ao mesmo tempo eu pude sentir aquela força.
Uma luz prateada inrrompeu das minhas mãos banhando todo o oceano ao redor.
Era só luz.
Era apenas...bondade.
Nada de ruim poderia surgir daquilo.

Azriel: abra os olhos, Gwyn.

Meu nome na voz dele me fez despertar.
Era extremamente raro ouvi -lo chamar alguém pelo nome.
E esse pensamento me fez acordar.
Ainda parada no centro do quarto, eu empunhava aquela luz.
Mais calma do que nunca em minha vida eu caminhei até ele na cama.
Tocando suas asas levemente. Senti ele estremesser sob o toque.
Azriel levou as mãos ao colo, um jeito muito gentil de me mostrar que não pretendia se mexer enquanto eu estivesse tão próxima.
Mas eu não me importava. Não agora.
Mesmo acordada a sensação daquela luz me fazia sentir que ainda estava muito abaixo da superfície,  quilômetros e quilômetros abaixo d'agua.
Em casa.
Em um lugar onde só existia paz e nunca o medo.
A luz fluiu da ponta do meus dedos para ele, e por mais que fosse boa ainda assim não era forte o suficiente.
Durou alguns segundos, mas pareceu ser o bastante, porque ele parecia bem melhor quando me afastei.
E só quando a luz prateada se extinguiu eu percebi que estava cantando, a mesma melodia sem palavras de dentro do oceano.

Azriel: o canto da sereia.

Pensei em perguntar o que diabos ele queria dizer, mas estava muito cansada.
Me joguei na poltrona ao lado da cama,  só precisava fechar os olhos por um minutinho...

Corte de Sombras e Sons (concluída)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora