quem fez isso com você?

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Pov Gwyn

Os dias a seguir se passaram calmos.
Todos os dias eu inventava um jeito novo de fazer Azriel pegar no sono, noite passada fingi que estava cantando karaoke com a parede.
Foi ridículo, mas deu certo, em poucos segundos eu estava rodeada de sombras. E logo depois pude ouvir a respiração pesada dele.
Claro que quando eu abri a porta no dia seguinte pra dar bom dia ele estava me olhando com a cara mais debochada do mundo.
Mas não foi um problema, já que nos treinos eu conseguia socar aquela carinha várias vezes.
Ainda não tinha conseguido joga -lo pra fora da linha, mas eu estava aprendendo muito. Os músculo da minha barriga já estavam duros como pedra, e a minha cintura tinha diminuído 4 cm.
Na hora do almoço a gente quase sempre comia no meu cantinho da biblioteca, e depois conversamos um pouco sobre os livros, Az ja estava terminando o quarto a essa altura.
Nenhuma das nossas conversas eram muito profundas ou sei lá, mas nós dois estávamos muito a vontade em jogar conversa fora como se a vida fosse perfeitamente normal.
Tudo ia bem.
Até eu acordar hoje sabendo que ele não estava na cama.
Simplesmente sabia.
Como se fosse um membro faltando.
E quando abri a porta pra confirmar, encontrei um pedacinho minúsculo de papel escrito "Rhys".
O Grão Senhor deve tê - lo convocado ainda de madrugada pra eu não ter visto nada.
Sem saber porque, senti meu estômago se contorcer e sai correndo escada acima.
Encontrei Azriel perto da mesa onde eu sabia que Nes e Cassian faziam as refeições.
Ele estava de costas, mas pelas mãos cerradas ao seu lado não podia ser coisa boa.

Gwyn: Az?

Ele ficou levemente surpreso, como se não tivesse me ouvido chegar.
Quanta raiva devia estar sentindo pra desligar os sentidos sempre alertas?

Azriel: agora não Gwyn.- a voz dele estava tensa.

Gwyn: o que houve?

Azriel: por favor.

Um sussurro, um pedido real pra que eu fosse embora.

Gwyn: não vou a lugar algum.

Azriel: você não entende?! - ele disse um pouco mais alto - agora eu não consigo pensar em ser...a pessoa que você merece.

Gwyn: não to interessada nessa baboseira. - eu ainda estava alguns passos atrás, não estava com medo, mas sabia que agora não era o momento de provocar.

Azriel: não posso fazer isso com você, com você não.

Gwyn: já te perdoei, não importa o que faça está perdoado. - ele agora tremia levemente, com certeza lutando contra aquilo - o que aconteceu, Azriel?

--------- Pov Azriel

Eu devia ir embora, agora mesmo.
Entrar nas sombras e sumir, atravessar.
Posso ser um babaca com todo mundo..mas com ela não.
Eu nunca me senti tão normal, como quando estou ao lado dela.
Nunca me perguntou nada sobre trabalho de espionagem, ou do trabalho como torturador.
Com ela eu falava de coisas normais.
Deuses, eu até contei que tinha um morcego. Ninguém mais sabe disso.
Posso ser normal com ela...mas vou perder isso se não for embora agora.
É.
Isso é o melhor.
Comecei a entrar dentro delas, das sombras.
Quando senti um soco me atingir em cheio no queixo.
Meio paralisado olhei pra frente, pra fêmea que tinha um olhar muito sério no rosto, e um punho levantado na minha direção.

Gwyn: quem fez isso com você? - a voz carregava uma promessa de morte fria.

Não respondi, e ela me socou no estômago.
Eu deixei.

Gwyn: quem?

Flashes de nossas conversas anteriores passaram na minha cabeça, me lembrei de quando disse a ela como o combate corpo a corpo abria uma porta para a honestidade.
Um chute nas minhas pernas, do qual não desviei.

Gwyn: fale, grite, bata, revide. Mas faça alguma coisa! - uma grande sequência de movimentos na minha direção agora, não desviei de nenhum.

Gwyn agarrou os meus cabelos, me forçando a olhar pra cima, já que estava meio que ajoelhado agora.
Olhar pra ela.

Gwyn: se é dor o que você esta sentindo então aceite, mas não fique ai parado. Faça alguma coisa com isso.

Mais um soco na direção do meu rosto, mas eu segurei a mão dela no ar, apertando com força.

Azriel: me disseram...pra manter distância...

A perna dela se levantou, se preparando pra um chute nas minhas costelas, bloqueiei.

Gwyn: quem disse?

Azriel: alguém que eu amava.

Amava.
Alguém que eu amava.
Mais um soco na minha direção que eu segurei.

Gwyn: e você é o cachorro de alguém pra seguir ordens?

Um chute que eu não vi me acertou nas costelas, me fazendo arfar.
Segui ordens a minha vida inteira.
Sim.Quando seria o bastante?

Gwyn: quem é você?

Mais socos, mais chutes.
Muito rápidos agora pra que eu pudesse desviar de todos.
Não que eu quisesse.

Azriel: O Encantador de Sombras - um chute nas pernas - O Mestre Espião - um soco no estômago - O Torturador da Corte Noturna - um soco na cara.

Com o meu nariz escorrendo sangue, Gwyn me obrigou a olhar pra ela de novo.
E eram lágrimas naqueles olhos.
Gwyn estava chorando.
Como se doesse tanto nela quanto em mim.
A realidade daquelas lágrimas doeu mais do que qualquer outra coisa que já senti em minha vida.
E essa dor que me rasgava de dentro pra fora, me obrigou a acordar.

Gwyn: é mesmo? Esse é você?

Hesitei.
E isso pareceu deixa - la furiosa.
Agarrei um soco e um gancho de esquerda e um chute.

Gwyn: quem é você?

A voz dela tinha mudado, era como estar abaixo D'agua com várias pessoas gritando ao mesmo tempo, mas de uma única direção.
Um comando claro e irredutível.
Olhei pra cima a tempo de ver ela cair sobre mim, completamente imobilizada Gwyn me deu uma cabeçada.
Com o susto e a dor, a soltei.
Ela caiu ajoelhada a minha frente e passou os braços ao meu redor, num abraço quente e reconfortante.

Gwyn: quem é você?

Ela sussurou ao meu ouvido, ao mesmo tempo em que eu a abraçava de volta.
Sentindo o corpo dela estremesser com o choro.

Azriel: não chore por minha causa.

Gwyn: você vale a pena.

Não Gwyn...eu...
Gwyn se afastou apenas o suficiente pra me olhar, e eu vi um filete de sangue escorrer pela testa dela.

Gwyn: quem é você?

Azriel:...Azriel.

Gwyn: sim, você é. E isso é o bastante. O que quer fazer?

Azriel: sair daqui. - ela sorriu pra mim, compreensiva - vem comigo?

Queria ir embora.
Pra longe.
Mas não queria ficar longe dela nem por um segundo.
Mas Gwyn nunca saia daqui... Da montanha.
Mesmo depois de vencer o Rito de Sangue ela quis voltar pra biblioteca.
No entanto, ela sorriu pra mim de novo.
E eu atravessei nós dois.

Corte de Sombras e Sons (concluída)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora