SEIS

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     Era de noite. A chuva já havia sessado. Abrimos a porta rangendo em um silêncio desconcertante, adentrando a mata escura como intrusos em um reino sombrio. Cada passo que eu dava, as folhas cruéis e afiadas pareciam perfurar minha pele, como agulhas de uma árvore maligna. A escuridão era densa, engolindo nossas formas e segredos, enquanto a aura enervante do desconhecido se infiltrava em cada poro.

     A incerteza envolvia meus pensamentos, infiltrando-se em minha mente como heras venenosas. Eu me perguntava em silêncio até quando deveria continuar seguindo Jepperd, e se aquela busca desesperada era realmente necessária. No entanto, apesar de minhas dúvidas, eu sentia a presença maligna ao nosso redor, à espreita nas sombras, faminta por carne e medo.

     Jepperd, um guia tortuoso por esse pesadelo que nos cercava, parecia ter uma determinação insana. Ele caminhava à frente, sua figura se misturando com o ambiente sinistro, como se pertencesse a esse tormento sussurrante. Cada vez que seus passos afundavam na terra úmida, ecoavam como uma sentença macabra, lembrando-me da crueldade deste mundo distorcido.

     As árvores retorcidas e sinistras sussurravam segredos sombrios, suas folhas secas e quebradiças tremiam como esqueletos dançantes. A brisa gélida sussurrava canções inquietantes em meus ouvidos, enquanto galhos retorcidos se estendiam em nossa direção, como garras de uma besta oculta. Cada sombra se transformava em um predador faminto, aguardando o momento perfeito para atacar.

     Enquanto adentrávamos cada vez mais naquele abismo obscuro, o medo ganhava vida, serpenteando por minhas veias e corroendo minha coragem. O eco distante de um uivo bestial ecoou, fazendo meu coração se congelar em meu peito. Não havia escapatória, não havia salvação. Apenas a fome insaciável da escuridão, pronta para devorar nossas almas desprotegidas.

     Finalmente havíamos parado nas portas de uma cidade, iluminada por pequenos lampiões pregados nas casas enfileiradas. Eu já tinha escutado sobre Pineview Springs, uma típica cidade de interior, onde os cafés eram servidos nos mesmos lugares em que bebidas alcoólicas eram servidas; juntamente do aroma das comidas, em que você se questionaria por breves momentos se o que você estava comendo era novo ou se estava naquele balcão de vidro manchado, por mais ou menos uns três dias. O Sr. Jepperd inclinou seu corpo para que ninguém o visse. Andei atrás dele, copiando seus movimentos. Olhei brevemente a estrada de asfalto rachado molhado, resultado da chuva. Paramos atrás de alguns caixotes de madeiras deixados enfileirados na calçada. Olhei por cima de uma delas e observei de longe algumas pessoas andando pelas ruas. Todas elas, sem exceção, haviam corpos grandes e fortes.

     Me lembrei vagamente de Joana e Charles, questionando-me assim como o Sr. Jepperd, por qual razão eles viviam naquelas condições opostas dos que estavam dentro da cidade. Depois, me recordei de Dilan, "Ele podia ter conhecido esse lugar, a Srta. Zhang." Eu estava convencida de que o que matou Dilan, cruzou a cerca no mesmo dia em que descobri que Richard estava doente. E se ele não tivesse morrido disso, morreu de fome, de me esperar, talvez todos os dias. Talvez ele ainda estivesse lá, seu corpo caído na grama, esperando que eu voltasse.

— Achei ela! — O Sr. Jepperd falou em um tom baixo, mas mostrando entusiasmo na voz.

Balancei minha cabeça, voltando para a realidade.

— Quem? — Me aproximei dele.

O Sr. Jepperd apontou entre as caixas.

— Aquela é a Zhang!

     Vislumbrei fugazmente a silhueta de uma mulher de estatura mediana, adentrando uma casa no coração da cidade. Como sombras em movimento, nos esgueiramos cautelosamente, buscando o nosso objetivo final. Por fim, chegamos ao destino, e paramos nos confins do terreno daquela morada misteriosa. O único meio de entrar ali, era pelo duto de ventilação, fixo na parede. O Sr. Jepperd obviamente não conseguiria passar.

Sweet Tooth: FLAGELO (Em Revisão)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora