DOIS

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O mindinho. Era a forma mais convicta de saber se você estava ou não com a praga. Seu dedo mindinho começava a mexer involuntariamente, e depois era só questão de tempo para que seu corpo entrasse em fadiga. Infelizmente só descobri isso quando minha mãe estava acamada no quarto. Lembro-me vagamente de caminhar na ponta dos pés segurando meu ursinho de pelúcia e ver meu pai sentado no corredor, chorando baixinho. Me aproximei dele. Coloquei meu urso sob suas pernas e me sentei.

- A mamãe vai ficar boa? - Perguntei escorando minha cabeça em seu braço.

- Eu não sei querida. - Ele se afastou e arrumou meus cabelos. - Mas enquanto isso nós temos que nos proteger. Lembra do que eu falei, qual a primeira coisa que a gente tem que fazer?

Pensei. Inclinei a cabeça. - Lavar as mãos? - Eu sabia a resposta, mas ainda tinha medo de errar.

- Muito bem! - Ele me parabenizou com um sorriso no rosto. - A segunda coisa?

- Hm... Ficar longe de pessoas doentes. - Essa eu sabia de cor. Quando minha mãe pegou o flagelo, mantive o mínimo de contato possível com ela.

- E a terceira coisa? - Sua expressão mudou, ficando mais sério.

- Ficar.... - Pausei e olhei para o carpete. - Ficar longe dos Híbridos.

- Essa é a minha garota! - Ele sorriu e então me abraçou.

. . .

Eu não conseguia parar de pensar em Dylan. Aquele garoto magricelo poderia me trazer as respostas que eu queria sobre o mundo. Enquanto eu e Gus estávamos desenhando na grande pedra, sentados em um velho tronco de árvore; comecei a pensar no que fazer para me reencontrar com Dylan de novo, que perguntas eu faria a ele e se eu realmente estaria preparada para todas as respostas.

- Maya... - Gus curvou suas orelhas e parou de desenhar. - Eu sempre quis saber, como que você conseguiu passar do fogo lá fora?

- Como assim Bambi? - Soltei o giz que eu segurava.

- Ah, sabe. - Ele coçou a nuca e apertou os olhos. - Papai sempre fala que depois da cerca só tem fogo e coisas ruins, certo? Então, como que você não se queimou?

Fogo e coisas ruins. Quando Gus perguntava para Richard sobre o mundo, essa era sempre sua resposta. Eu tive que me acostumar com isso. Certa vez, eu e Richard discutimos sobre esse assunto, mas a sua única resposta foi: É para o bem dele, ele ainda é muito novo para entender o quão ruim são as pessoas. Então tive que compactuar com a sua mentira.

- Richard me encontrou antes do mundo ficar assim. - Menti. Abaixei a cabeça e voltei a desenhar.

- Paba é um homem muito bom. - Era assim que Gus chamava Richard as vezes. Ele sorriu orgulhoso. - Você não acha?

- Claro! Mas sabe quem mais me faz sorrir? - Parei, olhei para ele e abri bem minhas pálpebras para fazer suspense.

- Sou eu? - Ele sorriu.

- É você! - Me aproximei dele e então o enchi de cosquinhas.

Ele gargalhou alto e suas bochechas ficaram vermelhas de tanto rir.

Sweet Tooth: FLAGELO (Em Revisão)Where stories live. Discover now