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ISAAC GILINSKY • CALIFORNIA

Saio da casa dela completamente atordoado e confuso. Como isso tudo aconteceu e eu nunca soube de nada? Isso é impossível, eu não consigo acreditar. Nada daquilo entra na minha cabeça, eu me recuso a acreditar que meu pai tenha feito todas essas coisas. Ele já bateu na Beatrice? Isso pra mim... eu simplesmente não consigo.

Atravesso a rua e vou para o ponto de ônibus. Essa conversa durou bastante, já é a hora da saída da escola. Vou ver se consigo pegar a Sarah no caminho, pra gente ir conversando. Pego meu celular e ligo pra ela.

- Isaac? Tá tudo bem? - Ela atende.

- Oi, sim sim, está tudo bem. Estou indo embora, você já foi pra casa ou ainda não?

- Ainda não, por quê?

- Podemos nos encontrar? Tenho muita coisa pra falar. - Falo enquanto subia no ônibus.

- Tudo bem, eu te espero aqui na escola e a gente vai andando.

- Tudo bem, estou à caminho. Beijo.

- Beijo. - Desligo.

Não sei com que cara olhar pro meu pai depois de tudo que eu ouvi e vi sobre ele.

O motorista estava indo bem rápido até, cheguei na escola em menos de 5 minutos. Encontro a Sarah no portão e aceno pra ela.

- Vish, você não está nada bem. - Fala assim que me vê.

- Está tão visível assim? - Pergunto.

- Sim, está. Você está com uma cara de assustado, sei lá. Aconteceu alguma coisa?

- Sim, aconteceu e eu vou te contar tudo.

Seguimos o caminho pra casa. Nossas casas são um pouco perto, têm a diferença de apenas 2 ruas.

- E então?

- Eu cheguei lá, ela foi muito legal comigo, me ofereceu almoço e tudo mais. Aí fui no banheiro e depois sentei no sofá. Foi aí que ela começou a falar. Ela disse que meu pai a forçou abortar quando estava grávida de mim porque estava falindo. Ele já tinha o Alex e disse que não conseguiria bancar outra criança. Mas a Danielle não abortou, aí depois que eu nasci, ele terminou com ela e a expulsou.

- Misericórdia.

- É, vai ouvindo. - Falo e suspiro. - Ela estava sem dinheiro, sem trabalho, sem casa e sem os filhos, mas um amigo dela deu casa e comida por um tempo, até ela se reestabelecer. Agora está com sede de vingança. Ela tentou alertar o Alex mas o meu pai o afastou completamente dela, mas ela conseguiu me alertar.

- Eu... não consigo acreditar.

- Pois é, eu também não. - Falo e paro um pouco, sentindo uma dor de cabeça.

- O que foi? - Pousa a mão no meu braço.

- Minha cabeça está doendo.

- Você está sem comer o dia inteiro e agora está caminhando no sol. Lógico que iria fazer mal. Vem, vamos parar em algum lugar pra você comer.

- Não Sarah, está tudo bem...

- Não está tudo bem não caralho. Se você tem um treco e cai duro aí no chão, o que eu vou fazer? Vamos comer sim, você querendo ou não. - Fala e pega minha mão, me levando na direção do restaurante. - Eu como com você. Até pago se você quiser.

- Não precisa pagar. - Falo e fica um silêncio mortal. - Obrigado por se preocupar comigo.

- De nada. - Fala. O silêncio mortal ataca novamente e só agora eu percebi que ela ainda segurava a minha mão.

- Então, continuando... - Quebro o silêncio. - Ela me disse que meu pai já bateu na Beatrice, uns anos atrás.

- Não, isso é mentira.

- Eu não duvido, meu pai tinha um temperamento colérico. Tudo irritava ele, qualquer coisinha era motivo pra ele explodir. Ele melhorou bastante agora, mas antes... até no Alex ele já bateu. Não duvido que tenha batido na Beatrice também.

- Não sei nem o que te falar.

- Pois então pense, pois vou precisar de sua ajuda pra decidir uma coisa.

- O quê?

- É questão de vida ou morte. - Falo e entramos no restaurante.

Fizemos nossos pratos e pesamos, logo pagamos e nos sentamos pra comer.

- Fala logo Isaac, eu estou ficando nervosa. - Fala enquanto tirava os talheres de dentro do saquinho.

- A Danielle me perguntou se... eu quero ir embora com ela.

- Ir embora? Ir embora pra onde, Isaac?

- Não sei, ir embora com ela. Ela quer me tirar de perigo.

- O perigo seria... seu pai?

- Sim, exatamente isso.

- Olha... você não quer minha opinião, quer?

- Eu quero.

- Eu não sei o que dizer porque existem dois lados. O lado dela e o lado do seu pai. Eu no seu lugar, não sei o que eu faria, sinceramente. Mas qualquer decisão que você tomar, eu vou te apoiar, independente de qual for. - Ela fala e eu sorrio, com vergonha.

- Eu não sei o que fazer. Sei lá, não tem como saber se é verdade ou se é mentira. - Ela concorda com a cabeça. - Posso te pedir um favor?

- Pode sim.

- Se eu decidir ir com ela, por favor, se alguém perguntar algo, por favor, fala que não sabe de nada. Que eu não te contei nada, que você não me viu e que não sabe onde eu estou.

- Tá bom. - Fala. - Não vou contar.

- Obrigado. - Falo e ela sorri. - Vamos embora?

- Vamos sim. - A garçonete pega nossos pratos e saímos do restaurante. Se eu não comesse, acho que se eu andasse mais um pouco nesse sol eu iria passar mal.

Fomos pra casa conversando, mas não sobre isso. Eu queria pensar nisso só quando eu chegasse em casa e... não quero meter a Sarah nisso. É uma coisa minha e não quero que ela seja prejudicada, de maneira nenhuma.

Me lembrei que fomos de mãos dadas até o restaurante, então, inventei algum assunto e peguei na mão dela como demonstração, depois disso, não soltei mais. Sei lá, me sinto bem com ela.

Ela virou na rua dela e eu segui caminhando para a minha, para chegar na minha casa. Confesso que não estou preparado pra encontrar meu pai. Tomara que ele não esteja em casa ou que esteja ocupado. Na verdade, não estou afim de encontrar ninguém agora. Quero ficar sozinho, com a casa só pra mim.

ᴍᴀғɪᴀ 3 ✦ ᴊᴀᴄᴋ ɢɪʟɪɴsᴋʏWhere stories live. Discover now