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Shinsou terminou de ler a carta e ficou congelado na cama, sem saber como reagir. Ele tinha lido aquilo certo? Existe a possibilidade de ter um outro Shinsou Hitoshi? Kaminari… o amava? 

E antes mesmo que pudesse perceber, seus olhos se encheram de lágrimas. Não sabia ao certo o motivo do choro, mas foi incontrolável e inevitável. Fazia tempo que ele chorava por uma pessoa que não fosse si próprio.  

Eu sou muito idiota – Ele falou enquanto se sentava na cama e limpava o rosto com a manga do moletom. – Como vou me encontrar com ele amanhã? E se eu começar a chorar de novo? Por que caralhos eu to chorando? 

Porque ninguém nunca demonstrou um sentimento tão profundo por mim. 

Porra – E voltou a chorar, fazendo esforço para não ser tão alto e acabar perturbando seu pai. 

Como se ele se importasse com o choro do próprio filho, ele nunca ligou, não ia ser hoje que bateria na porta perguntando o motivo da tristeza. 

Denki… se você tivesse aqui eu ficaria melhor… muito melhor. 

[...]

Naquela noite, Shinsou decidiu que não iria telefonar para Kaminari. Ainda não fazia ideia de como falaria sobre esse assunto e não queria deixar o loiro preocupado com um Shinsou chorando do outro lado da linha. 

Acabou dormindo após desabar em lágrimas e foi brutalmente acordado pelo seu despertador. Ele se arrumou e deu uma leve ajeitada no quarto. 

Estava decidido que levaria Kaminari para sua casa, ele tinha que levar. Queria mostrar que também confiava nele e se importava com sua companhia. 

Ele atravessou o corredor e entrou na cozinha, dando de cara com seu pai que bebia uma xícara de café. 

Bom dia – Shinsou falou, seu pai levou um susto pequeno e o deu bom dia também. – Olha pai, um amigo meu vai vir aqui em casa hoje, tudo bem? Não precisa me buscar na escola, vou pedir um táxi ou algo assim. 

Se Shinsou queria matar seu pai, estava indo no caminho certo. O senhor estava pálido como se tivesse acabado de ouvir que um irmão morreu em um acidente terrível. Mas tudo que ele fez foi parar de beber o café e encarar o filho com uma expressão preocupada. 

Um táxi? Não faça isso com seu amigo. É aquele loiro, não é? Eu posso trazer os dois, hoje tirei uma folga do escritório então não tinha nada planejado, mas eu busco os dois e saio para algum lugar para deixar os dois em paz. 

Shinsou piscou os olhos, completamente confuso. Seu pai nunca tinha feito questão de fazer algo desse tipo, ou quem sabe ele nunca fez porque Hitoshi jamais tinha convidado alguém para ir a sua casa. 

Tem certeza? Não quero te incomodar. 

— Não vai. Agora se apresse logo, vou aproveitar e pegar as chaves do carro. Não precisa ir de ônibus hoje. 

Mas o que estava acontecendo? Desde quando seu pai agia assim? Era por causa de Kaminari? Ou ele simplesmente lembrou que tinha um filho para cuidar? 

Hitoshi continuou parado, confuso com toda a situação. No entanto, quem era ele para reclamar da carona? 

Ele olhou para o relógio e calculou que iria chegar cedo na escola. 

"— Vou fazer questão de chegar cedo amanhã, quem sabe tu não recebe uma visita minha na sua sala.

Que bom, um ótimo motivo para também chegar cedo. Talvez hoje o dia não fosse de todo ruim, quer dizer, tinha começado ótimo, certo? 

Vamos? – Seu pai perguntou, já abrindo a porta da frente. 

E assim foram. Hitoshi usava o mesmo moletom de ontem por cima do uniforme escolar, o envelope amarelo estava guardado em um bolso de sua mochila. Ele pretendia devolver a Kaminari e confessar tudo o que prendia dentro de sua mente. 

Hitoshi sempre gostou da companhia de Denki, era bom quando o garoto surgia na porta da sala e ia direto para sua carteira perturbá-lo às sete da manhã de segunda-feira. 

Eram desses pequenos momentos que Shinsou gostava. Bastou ler uma simples e sincera carta para notar o quanto Kaminari era importante para si também. O sentimento era mutuo. Ele só não sabia disso. 

Como planejado, o garoto chegou cedo na escola. Foi direto para sua sala e encontrou já alguns alunos sentados ou conversando em pé no meio da sala. 

Nada de Kaminari Denki. 

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Publicado em: 26/05/2021

Palavras nunca ditas | KamishinWhere stories live. Discover now