Nico odiava essa ideia. Cada concha, peixe, e onda que via, dava-o ânsia. Tudo parecia igual ao chalé do acampamento de Manhattan.

O molho começava a ter a cor certa. Nico diminuiu o fogo. Seus pensamentos estavam muito afastados da realidade, quando no canto dos seus olhos percebeu uma sombra se mexendo. Ele se virou, sem pressa.

Percy estava escolhendo uma maçã na fruteira. Parecia bastante empenhado nisso, pegando duas e as comparando, girando-as nas mãos. Nico tentava seu melhor, mas sempre que o olhava tinha vontade de criticar tudo que ele fazia, por exemplo: quem se interessaria por maçãs tão vermelhas como aquelas? Maçãs naturais não são perfeitamente vermelhas daquele jeito. Aquilo claramente era fertilizado com radiação.

Nico ignorou e voltou sua atenção para o molho já quase pronto. A próxima etapa era montar as camadas da lasanha. Ele começou a girar a colher mais lentamente.

  A sua direita, Percy se encostou no balcão de mármore branco. Ele tinha escolhido uma das maçãs e a girava na mão despreocupadamente.

  -Faz dois dias que você vem na minha casa, e não me dá nem um oi.

  -Também nos vimos na praia. -disse Nico. -E eu também não disse oi.

  Percy piscou confuso.

  -Exatamente. É o que estou dizendo.

  -E você ainda não entendeu que eu não quero falar com você?

  Nico não tirou o olhar do molho, e nem precisava para saber que Percy parecia ter levado um tapa na cara.

-Vou considerar que você está dizendo isso da boca pra fora.

-Não. -Nico ergueu a cabeça, encorajando-se a encarar aqueles olhos verdes que o olhavam com preocupação. -Eu estou falando sério.

Percy ergueu uma sobrancelha. Ainda não parecia acreditar fielmente em Nico, ou achava que havia alguma coisa de errado que ele não estava conseguindo deduzir.

-Pare de beber. -ele disse, como se essa fosse a fórmula mágica para fazer Nico voltar a sanidade e cair nos seus braços. -Acho que seu cérebro já está ficando ácido de álcool.

Ele tentou pegar a taça, mas Nico deu um passo para trás antes que ele a alcançasse e virou o resto do vinho. Não que ainda tivesse muito na taça, mas Nico não queria dar o gostinho a ele de tentar o controlar.

Percy respirou fundo, olhando-o como se Nico fosse uma criança encrenqueira.

-Precisava fazer isso?

Nico assentiu, deixando a taça dentro da pia para que não caísse e quebrasse, depois voltou ao fogão e tirou a colher da panela de molho.

-Estou ocupado. Se puder se retirar da cozinha...

-Na verdade, a cozinha é minha, então vou ficar.

Nico não tinha como argumentar isso, então continuou seu trabalho. Fechou a panela de molho e foi separar os ingredientes para montar sua lasanha em vasilhas.

Enquanto caminhava pela cozinha, sentia os olhos de Percy como se tivesse um alvo preso nas suas costas. Sentia-se tenso demais para que até o vinho não fosse capaz de lidar. Claro, estava um pouco zonzo, mas Percy ter aparecido o deu um clarão de lucidez.

-Antigamente, -começou Percy. Nico suspirou, cansado do joguinho. -Você sempre queria falar comigo.

Nico estava colocando azeitonas em uma vasilha quando Percy falou. Imediatamente, suas mãos tremeram e duas delas caíram fora e rolaram para o chão. Ele pousou o pote de vidro com azeitonas sobre a bancada antes que também a derrubasse.

Summer Strange Love - Solangelo Onde as histórias ganham vida. Descobre agora