Um convite

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Se alguém estivesse na porta do elevador e perguntasse a Will o que Lee queria tratar com ele, e a resposta certa valesse um milhão de dólares, Will não ganharia nunca.

-É sério? -perguntou Will.

Lee assentiu, solenemente.

-Você... não gosta?

Lee havia o recebido com um grande sorriso, e, depois de ouvir um pouco do pai como tinha sido a tarde com seus antigos amigos, havia levado Will para o seu quarto para mostrá-lo sua nova aquisição.

-Bem, se você não gosta delas acho que pode me ajudar a escolher novas.
Will respirou fundo, reuniu todo o seu bom humor e paciência, para então expirar toda a impaciência e responder o irmão.
-Taças?
-Sim! De cristal! -ele ergueu as duas com delicadeza e depois foi até perto das cortinas. -Agora veja.
Ele esticou as mãos com as taças para o sol, e assim que a luz as tocava elas emitiam um brilho colorido. Lee deu pulinhos delicados para não ter perigo das taças escapulirem das suas mãos.
-Ela tem a borda de cristal colorido. -ele suspirou, olhando-as, então fechou a cara. -O que você tem contra elas?
-Nada! -Will ergueu as mãos. -Só achei que fosse alguma coisa mais séria.
Lee franziu a testa.
-Desculpe, mas eu já escolhi o bolo.
Will revirou os olhos.
-Não era disso que eu estava falando.
Lee parecia mais confuso do que quando Will viu as taças.
A verdade é que, até chegar no quarto, Will havia nutrido uma esperança de que Lee estivesse o aguardando para um convite.
-O que de sério eu poderia tratar com você? -Lee perguntou, honestamente confuso, enquanto devolvia as taças para sua caixa luxuosa. -Desde quando eu falo sério com você?
Will se sentou na cama e riu, ele tinha razão.
-Ah, não sei. -disse Will, sem querer admitir. -Talvez... um convite.
-Convite? -Lee piscou com força, tentando clarear a mente, não sabia se a culpa de não estar entendendo era dele ou de Will. -Você pode falar com clareza? Não posso esforçar tanto meu cérebro assim.
Will franziu a testa.
-Por que?
-Envelhece.
Will revirou os olhos.
-É sério, veja. -Lee virou o rosto para o lado e apontou para o canto dos seus olhos. -Rugas.
-Você sempre teve isso. -Will replicou. -Até eu tenho. É como você sorrir. Não seja burro.
Lee se endireitou e colocou as mãos na cintura.
-O que diabos você quer então?
-Eu sinceramente estava achando que você ia me chamar para ser seu padrinho.
Lee arregalou os olhos e piscou rápido. Will viu o choque ir lentamente desvanecendo do rosto do irmão, até virar apenas uma expressão de surpresa e dúvida.
Lee engoliu em seco.
-Bem. Eu... eu...
-Você não ia me chamar.
-Não! Quero dizer, não é isso. -Lee passou as mãos no rosto. -O Dylan vai me matar.
Will franziu a testa.
-Por que?
-Por sua causa, seu mimado. -Lee se esticou e deu um tapa na cabeça de Will. -Não sabe ter paciência?
Will permanecia confuso. Lee deu meia volta e foi até a mesa de cabeceira, puxou uma gaveta e tirou dela um envelope prateado.
-Sim, eu vou te chamar para ser meu padrinho, mas isso ia ser em uma cerimônia bonita quando fôssemos todos jantar juntos. -disse Lee, balançando o envelope com raiva, enquanto Will era tomado pelo deleite. -E pare de sorrir! Você estragou tudo.
-Você ia mesmo me chamar! -disse Will, verdadeiramente feliz.
-Estou repensando nisso.
Will riu.
-Você não faria isso.
Lee suspirou e devolveu o envelope à gaveta.
-É bom você ficar muito feliz quando eu anunciar isso, ouviu?
-Eu já estou feliz.
Lee parou, analisando o irmão, quando viu que ele realmente estava feliz, começou a sorrir também. Quem diria? Will estava mesmo esperando por isso.
Lee sentou na cama.
-Por que você estava tão ansioso pra isso?
-Na verdade, só pensei nisso essa tarde. Só que eu descobri que eu ficaria muito feliz se fosse isso. Eu não tive muita oportunidade de... participar da sua vida, então se fosse isso, iria ser muito legal.
Lee apontou pra ele e respirou fundo.
-Você não vai me fazer chorar agora, seu... -mas seus olhos encheram de lágrimas e ele desviou o olhar para a janela. -Droga.
  -Não precisa ficar tão emotivo. -disse Will, acenando para que ele parasse com isso. -Não significa que eu vou ser um bom padrinho.
  Lee passou as palmas das mãos sobre os olhos a fim de espalhar as lágrimas e se recompôs.
  -Ótimo. Mas não conte ao Dylan que você sabe disso. Ele quer que tudo seja perfeito, mas é muito difícil pra mim manter tudo em segredo.
  Will assentiu.
  -Sem problemas. -Will levantou. -Agora que já consegui o que eu queria, vou indo.
  -Vai para onde?
  -Casa? Para onde mais eu iria? O Nico está com os amigos dele.
  -E você gira em torno dele, satélite? -Lee perguntou ao mesmo tempo que ria. -Aliás, como foi a partida de tênis?
  -Primeiro, sim, eu giro em torno dele. O que mais eu faria se não isso? E, segundo, -Will suspirou. -Foi interessante.
  Lee ergueu uma sobrancelha.
  -Papai adorou a tarde.
  -Ele se divertiu mais que todos. Infelizmente, descobriu que sabe jogar tênis e agora vamos ter que conviver com isso.
  -E você?
  -Assim... -ele balançou a cabeça de um lado para o outros, como se diferentes partes do seu cérebro estivessem pesando os acontecimentos em uma balança. -Conheci uma parte da família do Nico que, não me surpreende, não parece nada com ele.
  Lee assentiu.
  -O pessoal do Dylan também não parece com ele.
  -Eles não pilotam aviões?
  Lee revirou os olhos.
  -Não. Mas também são muito agitados, todos parecem ter berrantes ao invés de gargantas. O Dylan é muito mais calmo.
  -Ou você que é mais inquieto que ele?
Lee abriu a boca, mas a fechou novamente.
-Eu não sei dizer.
Will caminhou até a porta, seus dedos mal haviam tocado o frio da maçaneta, quando uma pergunta veio até a sua cabeça e ele se voltou para o irmão.
-Você lembra dos guarda-chuvas laranja do clube?
Lee contraiu as sobrancelhas e balançou a cabeça.
-É uma memória muito distante, mas lembro.
-Lembra de termos um deles em casa?
Lee inclinou a cabeça, como um cachorrinho confuso.
-Por que teríamos um desse em casa? Pertencia ao clube. Não sei se eles ainda usam desses, mas acho que cada portaria deve ter alguns. Por que quer saber?
Will balançou a mão, indicando que ele esquecesse.
-Me lembrei deles esta manhã, mas não tinha certeza se eram daqui.
-Ah. Sim, eram totalmente daqui. Nenhum outro lugar usa guarda-chuvas tão coloridos.
Will riu apenas para acompanhar ao irmão, porque, no fundo da sua mente, onde a lógica e a razão de encontravam para dar as mãos, Will começava a criar sérias dúvidas quanto a procedência daquele guarda-chuva.

Summer Strange Love - Solangelo Où les histoires vivent. Découvrez maintenant