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"Você ligou para o número 31031727. No momento não posso atender. Deixe sua mensagem após o sinal"

— Mãe, é o Tadeu. Me desculpe por falar daquele jeito agora pouco. Estava nervoso e acabei descontando na senhora. Me ligue quando...

— Tadeu? — uma voz velha e rouca atendeu o telefone.

— Mãe? Sua voz...

— Meu filho. Você está vivo. Vivo! — Lurdes chorava e tossia copiosamente.

— Por que você está com essa voz? O que aconteceu?

— Filho, você está bem?

— Claro que eu estou mãe. Ontem eu estava melhor.

— A mãe está bem também.

— Eu te conheço dona Lurdes. O que houve?

— Por que você desapareceu e abandonou tudo? Todos esses anos foram duros para mim. O câncer no pulmão se alastrou e sua mãe agora está com esse respirador infernal.

— Câncer? A senhora está... por que não me falou? Desde quando isso?

— O último ano foi o mais duro. Mas estou conseguindo respirar. Semana passada me deu uma crise e fui para o hospital com falta de ar. Graças a Deus que deu tudo certo e agora tenho que andar com esse cilindro para lá e para cá.

— Mãe, por que você não me falou? Mãe, mãe, mãe... Isso não surge de um dia para o outro.

— Você age igual seu avô e seu pai. E infelizmente tomou o mesmo rumo que eles. Talvez seja uma doença isso. Quando a mulher engravida, o homem desaparece de casa. Foi assim com seu pai e com seu avô. Seu pai, depois que engravidei de você, ele um dia saiu para fazer um sei lá o quê e sumiu. Ai toda vez que eu conseguia falar com ele pelo telefone ele ficava dizendo que o tempo estava diferente e que ele iria voltar e concertar. Mas nunca voltou. Já com seu avô, o caso foi bem mais severo. Ele chegou a ficar senil antes de desaparecer. Não falava coisa com coisa. Ele... só um segundo. — o som era baixo mas dava para ouvi-la arrastando alguma coisa e batendo em algo. — Isso aqui está muito empoeirado. Não lembrava que era tão grosso. Fazia tempo que não... Filho, eu lembrei agora que seu avô havia escrito — Lurdes tossiu talvez pela doença, talvez pelo excesso de pó que havia inalado ao bater naquele diário — Seu avô sempre gostou de escrever suas ideias e invenções. Lembro dele sempre dizendo que mudaria o mundo. Um ser inteligentíssimo que, pelo exagero de comprometimento com o trabalho, esqueceu de sua família. Existem relatos assustadores. Eu mesmo me arrepio quando os leio. Ele jurava que eram reais por mais inacreditáveis que poderiam ser. — Lurdes silenciou sendo possível notar o som de páginas sendo viradas.

"Eu viajei para outro mundo. Um mundo idêntico a esse. Foi rápido. Não sei explicar o que era aquilo. Eu estava numa arquibancada lotada de gente. Então, uma nave triangular posou onde seria o estádio. Meu coração gelou. A nave então se abriu revelando uma criatura gigante e vermelha. Era o demônio. Fiquei incrédulo quando eu o vi. Principalmente por conta daqueles grandes chifres e seu rabo pontudo. Ele falou algo sobre estar com fome e então robôs voando atrás dos seres humanos e os prendendo dentro de casulos. Um se aproximou de mim, mas parou e me olhou. Era como se eu não pertencesse àquele lugar e ele soubesse. Ele continuou sua captura por humanos. Eu então desapareci daquele lugar sinistro."

— Tem outra passagem aqui bem sinistra também:

"Eu agora estava em outro lugar. Sinto que a Terra se foi. Os humanos se transformaram em uma espécie de zumbi. Conheci dois doutores que estavam estudando em como colocar o DNA em outros seres humanos afim de modificá-los. Eles me perguntaram se eu queria ajudá-los. De alguma forma, eles sabiam que eu não pertencia àquele lugar. Queria aceitar. Queria saber mais sobre aquele projeto. Mas despareci antes mesmo que eles pudessem me dizer quais seriam os DNAs testes. Lembro-me apenas do DNA do William Shakespeare."

Como eu era a mais nova dos meus irmãos, eu não lembro muito do seu avô, mas nunca me esqueci do dia que ele apareceu dizendo que viu um lugar cheio de homens iguais. Ele chamou aquele lugar de O mundo de Adams em homenagem ao nome de todos aqueles homens iguais. Pelo que me lembro essa foi a última vez que o vimos. Depois ele desapareceu. a voz feminina ao telefone ficou muda dando para ouvir uma longa inspiração e o som das páginas sendo passadas. — Eu te ligo todo dia, Tadeu. — e novamente aquela voz amuada e triste começou a chorar — Mas sempre cai na caixa postal. Foi uma surpresa eu receber sua ligação. Você falou com sua filha? Hoje é aniversário dela.

— A Flávia contou. Três anos, né?

— Três? Sua filha vai fazer seis anos hoje, Tadeu.

—Me desculpe por tudo mãe. Eu... eu estou indo agora até você. Não desligue otelefone, por favor. Mãe? Está me ouvindo? Não desligue se não vai acontecer denovo! Por favor mãe... — Tadeu gritava e chorava no telefone que já seencontrava desligado.

FIO CONDUTORWhere stories live. Discover now