Capítulo 18

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~♪Hannah  ~♪

Eu odiava mesmo, de verdade, meu vestido de casamento.
Era uma monstruosidade de tule e chiffon e organza, tão diferente dos vestidos soltos que eu costumava usar, o corpete era justo, o decote se curvava para destacar meus seios, e as saias... as saias eram como uma tenda reluzente, praticamente flutuando ao ar perfumado da primavera.

Não era à toa que Tamlin tinha rido. Até mesmo Alis, Balyo? Ele gargalhou por longas horas, enquanto me vestia, murmurara consigo mesma, mas não dissera nada.

Mais provavelmente porque Ianthe pessoalmente escolhera o vestido para complementar qualquer que fosse o conto que ela teceria naquele dia, a lenda que Ianthe proclamaria ao mundo.

Eu poderia ter lidado com tudo isso, não fosse pelas mangas bufantes, tão grandes que quase conseguia enxergá-las brilhando com minha visão periférica.

Meus cabelos tinham sido enrolados, metade para cima, metade para baixo, entrelaçados com pérolas e joias e o Caldeirão sabia o que mais, e fora preciso todo meu autocontrole para evitar encolher o corpo diante do espelho antes de descer as escadas espiraladas até o salão principal.

Meu vestido sibilava e farfalhava a cada passo.

Além das portas fechadas do pátio, onde parei, o jardim tinha sido decorado com fitas e lanternas em tons de creme, rosado e azul-celeste. Trezentas cadeiras estavam reunidas no pátio maior, cada assento era ocupado pela corte de Tamlin. Desci o corredor principal, suportando os olhares, antes de chegar ao altar na outra ponta...
onde Tamlin estaria esperando.

— Não fique nervosa — disse Alis, com a pele de casca de árvore exuberante e rosada sob a luz do crepúsculo, de um dourado mel.

— Não estou. -menti.

— Está se mexendo como meu sobrinho mais novo durante um corte de cabelo. -Ela terminou de arrumar meu vestido e enxotou alguns criados que tinham ido me espiar antes da cerimônia.

Fingi que não os vi, bem como a multidão reluzente emoldurada pelo pôr do sol, que estava sentada no pátio adiante, e brinquei com algum grão invisível de poeira nas saias.

— Você está linda -disse Alis, baixinho. Eu tinha quase certeza de que ela pensava o mesmo do vestido que eu, mas acreditei.

— Obrigada.

— E você parece a caminho do próprio funeral.

— e ela está, flor. -disse Balyo mesmo ela não podendo ouví-lo.

— quando acabar, lhe trarei um chá, para que se acalme. -ela prometeu.

Balyo soltou um risinho.

— o chá que ela quer está na corte noturna. -disse ele divertido.

Estampei um sorriso no rosto. Alis revirou os olhos. Mas me cutucou na direção das portas quando estas se abriram com algum vento imortal e se ouviu uma música alegre.

— Terá terminado mais rápido do que você consegue piscar — prometeu ela, e cuidadosamente me empurrou para a última luz do sol.

Trezentas pessoas ficaram de pé e se viraram em minha direção.
Desde minha última tarefa não havia tanta gente reunida para me assistir, me julgar.
Todas com adornos tão semelhantes aos que tinham usado Sob a Montanha. Os rostos eram borrões, se fundiam.
Alis tossiu das sombras da casa e lembrei de começar a andar, a olhar na direção do altar...
Para Tamlin. Para o filho de uma égua.

Perdi o fôlego, e foi difícil continuar descendo as escadas, evitar que meus joelhos cedessem.

Balyo ficou do lado de Tamlin, fazendo caretas para o grão-senhor e imitando sua postura, engoli, todas as gargalhadas que eu queria dar naquele momento.

Corte de Sonhos e EstrelasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora