Capitulo Um

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Era mais um dia de noite eterna para Dmitry, em todos os seus 568 anos ele nunca mais viu o sol, nunca mais o sentiu.
Vivia todas a noites na prisão da sua existência, buscando apenas a segurança para seu clã, sua família.Havia acordado de mais um sono perturbado, e agora se arrumava para mais uma noite gerenciando seu império, um rápido vislumbre da cama mostrou sua mais recente diversão, a mulher ainda dormia, ele sequer lembrava seu nome. Eram todas apenas sacos de sangue para ele, era assim que tinha passado a enxergar os humanos, desde a fatídica noite em que acordou para sua imortalidade banhado no sangue da família, sabia que algo havia mudado em si mesmo. Ele nunca mais seria o mesmo, nunca mais sentiria, apenas existia.
Encarava o espelho quando sentiu mãos o segurando por trás.
- Você pode sair agora, meus homens a levarão para casa.
- Eu não vou te ver de novo? - a mulher disse em tom manhoso enquanto fazia um biquinho, ele detestava esse tipo de coisa, se aproveitou dela a noite toda, se alimentou dela e ela ainda o queria, a falta de amor próprio do ser humano às vezes o enojava. Criaturas fracas, débeis, mas deliciosos.
- Para a sua sorte não verá, agora saia.

Alguma horas depois a casa noturna já estava cheia, as luzes confundindo as mentes, a bebida servida ali nublando os sentidos. Era o paraíso para seres como ele, ali nenhum deles se escondia, era um santuário para vampiros de todo o mundo que buscavam por abrigo, e, por que não alguma diversão?
É claro que haviam aqueles que também não queriam estar ali, que preferiam uma existência pútrida e animalesca, selvagens que não tinham nem um pingo de classe. Em toda a sua existência Dmitry nunca matou ninguém, achava desperdício, humanos sempre se regeneravam, produziam mais e mais sangue, podia beber um pouco e sempre voltar para beber mais, isso não aconteceria se matasse porém, ele já serviu de alimento para um vampiro, Sebastian, muitos anos antes, dava seu sangue para ele em troca de proteção, mas no fim essa proteção não bastou para Alina. E foram esses vampiros selvagens que a tiraram dele, os mesmos que agora o perturbam, tirando a paz e provavelmente expondo a sua verdadeira natureza para a população, alarmando as autoridades e isso causaria uma caçada que não terminaria de maneira pacífica. Por vários anos Dmitry buscava maneiras de exterminar esse clã, e seu líder Hakan, não apenas pela vingança, mas para a segurança dos seus próprios protegidos, vampiros que buscavam apenas uma existência pacífica. Hakan e seu clã imundo eram uma ameaça a isso, e Dmitry garantiria que iria exterminar cada um deles. E ele já tinha o plano perfeito para isso, a lendária kan mücevher, a Joia de sangue.
Sentado em seu escritório acima da pista de dança da boate, ele observava as pessoas abaixo de si, os corpos se jogando uns contra os outros em uma mistura sensual, ele se pegou imaginando como eram diferentes as danças em sua época.
- Bariş, relatório das buscas - ele exigia a seu segundo em comando, divida tudo com Bariş, conquistara todo o poder com sua ajuda e suporte, não eram irmãos de sangue, mas o sangue os forjou. Assim como Dmitry, Bariş tinha servido Sebastian por anos o alimentando, e assim como Dmitry, teve sua família toda exterminada na mesma noite pelos selvagens.
- As rondas de observação nas ruínas de Göbekli Tepe acabaram por não resultar em nada, as fontes de pesquisa eram falsas.
- Precisamos nos apressar nessa caçada Bariş, você sabe o que está em jogo de verdade aqui.
- Sim eu sei, mas o que você quer que eu faça? Ressuscite uma das bruxas antigas pra benzer outra pedra? - Bariş sempre tentava suavizar a situação com seu humor ácido. Dmitry nem notava mais esse sarcasmo - Escute irmão, só nós sabemos sobre essa joia, e do que ela é capaz.
- Não sabemos disso Bariş, Hakan e sua tribo podem estar buscando a mesma coisa que nós, eu nunca os vi tão agitados.
- A única coisa que aqueles ignorantes buscam é uma carne fresca pra fincar as presas, não se preocupe. Por que não desce um pouco hoje e desfruta a noite, quem sabe você não encontre um novo sabor pra essa sua vida chata.
- A vida não é só diversão Bariş
- Graças a Deus que eu já estou morto então - Bariş disse com uma piscadela já deixando o escritório, sim, ele estava certo. Hoje ele poderia se dar ao luxo de um pouco de diversão.

- Eu não acredito que finalmente vocês toparam uma noite das garotas, eu já estava me sentindo uma das estátuas da mamãe, só aqui acumulando poeira e formando teia - Melo estava saltitante
provando o que deveria ser o quinto vestido.
- Você é exagerada Melo, a gente saiu essa semana já
- A gente foi em um simpósio Eda, UM SIM-PÓ-SI-O, sobre história da Arte Otomana, a pessoa mais jovem que eu vi naquele lugar tinha 79 anos
- Foi divertido, todas aquelas informações, tanta história por trás daquelas pinturas.
- Eda você precisa arrumar um namorado, uma vida social, você tá ficando excitada lembrando das cores dos tapetes dos palácios, isso não é vida.
- Eu acho incrível, é o que me traz tranquilidade.
- Continuo achando que isso é falta de vida social.
Melo não estava de todo errada, Eda realmente vivia trancada com o passado, mas era essa sua paixão, e não podia fazer nada a respeito.
- Vocês estão prontas? - Fifi apareceu na porta já pronta, sempre de preto, apesar que para onde iriam Fifi estava perfeitamente adequada.
- Só vou passar o batom, um minutinho - Melo se apressou para a penteadeira enquanto Fifi bufou.
- Não precisa se arrumar tanto, só vamos entrar e sair, eu só preciso reconhecer a área, a última vítima foi vista naquela boate, só preciso entrar, falar com o bartender e sair.
- Aaaah mas você está muito louca achando que eu só vou entrar e sair, se você quiser ir embora até pode, eu e Eda vamos ficar e nos divertir.
- Na verdade Melo, amanhã eu tenho prova e seria bom voltar antes pra est.....
- Ssshhhhhh quieta, calada, você não tem direito a opinião até eu conseguir espanar esse pó de coisa velha de você.
- Ai Melo você não existe, vamos logo então.

   A boate Kanlı Ay era famosa pelo submundo de Istambul, todos falavam de lá, mas havia algo estranho naquele lugar, todos tinham medo de lá também. Parada na entrada Eda sentia uma estranha sensação que percorria sua pele, quase como um arrepio, e ao entrar na boate isso só se intensificou, Eda não sabia ao certo o que estava sentindo, medo? Animação? Adrenalina? Mas naquele momento ela sabia que não se sentia nem um pouco segura ali.
- Melo, não acho que seja uma boa ideia nós ficarmos aqui sem a Fifi - Eda não havia soltado da prima em nenhum momento, Melo porém já estava distraída pelas formas e cores que dançavam ao redor.
- Garotas fiquem de olhos abertos tamam? Eu não acho que esse lugar seja seguro, tem algo estranho aqui - Fifi estava alerta, olhando para todos os lados.
- Ai vocês duas ainda vão ser o motivo do meu colapso social.
- Vamos resolver logo o que viemos fazer aqui e ir embora o quanto antes.
Enquanto as mulheres se dirigiam ao balcão de bebidas elas não perceberam olhos selvagens e sombrios que já tinham escolhido sua próxima presa.
Fifi se aproxima do balcão ja fazendo sinal para o bartender, não queria mesmo perder tempo ali,
- Boa noite senhoritas, sou Ozan e irei servi-las essa noite, o que gostariam de tomar? - o bartender sorridente e impossívelmente bonito destraiu o medo de Eda por um momento.
- Vamos querer três gin-tônicas - Melo se apressou no meio das duas para chamar a atenção do rapaz.
- Saindo agora mesmo - os movimentos ágeis do barman deixaram Eda confusa, era possível se mover tão rápido assim sem derramar a bebida? Bem, ela não conseguiria, talvez por ser muito desastrada, talvez ele tivesse uma coordenação normal e ela fosse defeituosa. Eda estava tão distraída com os movimentos que não reparou a aproximação de outro moreno alto ao seu lado
- Ozan, pode deixar as bebidas das moças por conta da casa - Eda se virou sobressaltada, parecia que todos os seus sentidos estavam gritando para que corresse dali
- Merhaba, eu sou Bariş - ele esticou a mão em direção a Fifi que o estudou de cima a baixo antes de responder.
- Figen, você deve vir muito aqui ja que conhece até o barman - O moreno que também era impossívelmente bonito sorriu antes de responder
- Na verdade eu sou o dono - mais um sorriso de tirar o fôlego e ao mesmo tempo que fazia soar vários alarmes na cabeça de Eda - um dos donos, na verdade.
- Aqui está meninas, seus drinks - Ozan entregou os três copos para elas, Eda pegou o seu, assim como Fifi, mas só então perceberam
- Onde está Melo? - Eda perguntou a uma Fifi que começava um interrogatório bem ali
- Estou ocupada agora Eda, eu e o cavalheiro aqui temos muito o que conversar - Fifi tinha olhos inquisidores para Bariş, e ele a olhava como se fosse comê-la.
- Vou encontrá-la e então iremos embora - Eda disse se afastando, sem saber que justamente por se afastar acabava de selar o seu destino. Os mesmos olhos selvagens que antes estavam a espreita agora começavam a sua caçada.

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