Prólogo

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Constantinopla 1453

A vida era simples para Dmitry e Alina, na cabana que moravam nos arredores do coração da cidade, levavam uma vida segura, estável. O Comércio de perfumes de Dmitry prosperava, atraindo soldados romanos e suas esposas.
Tudo mudou em uma tarde fatídica, ninguém esperava o caos que seria formado em poucos meses com a tomada da cidade pelos Turcos, mas esse não era o caos principal.
Haviam rumores pelas vilas sobre criaturas sugadoras de vida, que matavam sem misericórdia e que a muito haviam abandonado a humanidade, muitos os viam como Deuses, os imortais, Dmitry os encarava assim e nutria um profundo respeito pelas criaturas, Alina porém nunca os encarou, e sempre implorava para Dmitry que se mantivesse longe, que não fizesse nenhum tipo de negócio com aqueles seres tão mortais. Ele não a ouvia porém. E naquela noite em meio ao caos da guerra entre os homens, havia também uma guerra entre as criaturas. Por poder, por mais territórios para os clãs.
Dmitry continuava ansioso e temia por sua família, temia por sua amada Alina que era tão frágil, não poderiam continuar no meio daquela situação.
- Mas não temos para onde ir Dmitry - a voz trêmula de Alina quebrava o silêncio
- Não podemos continuar aqui meu amor, eles não serão capazes de nos proteger aqui, os outros clãs podem tomar o poder e então não teremos proteção.
- Você garantiu que Sebastian nos protegeria, se continuasse dando seu sangue para ele.
- Sebastian está morto Alina - disse com urgência - temos que ir agora.
Mas o "agora" já era tarde demais, a porta da frente foi arrombado com um estrondo e vários homens marcharam para dentro, se é que poderiam ser chamados de homens, animais era o que pareciam, e a próxima coisa que Dmitry se lembraria pelo resto de sua existência eram os gritos de sua família, e os gritos de Alina que ecoaram em sua mente para a eternidade.

Istambul
Atualmente

-Kızım, venha logo - a voz ecoava pelas escadas e chegava até o quarto de Eda que teve seus planos de uma manhã preguiçosa arruinados pela voz da tia a chamando da cozinha.
-Venha logo o chá vai esfriar, chame a Melo também.
Eda não costumava reclamar de acordar cedo para o trabalho, mas naquela manhã ela só queria dormir para sempre. Mas não podia fazer aquilo com a tia, precisava levantar e a ajudar a abrir o antiquário. E depois ainda tinha seu estágio no museu. Não sabia como lidava com sua rotina frenética, mas adorava cada parte do seu dia, adorava passar a manhã toda com as preciosidades empoeiradas do antiquário, e adorava ainda mais ajudar a conservar o passado e as raízes de seu país, era essa sua paixão cuidar para que a história nunca fosse esquecida. Restaurava artefatos que contavam a sua história, a história da Turquia que era o berço da civilização, é foi com essa motivação que Eda marchou para fora do quarto.
- Hadi Melo - duas batidas na porta da prima - Melo se você se atrasar pode ir a pé para a loja, ninguém vai te esperar - ouviu a movimentação no quarto e muitos protestos.
- Oooooof Eda Oooff, não sei pra que a pressa pra encontrar aquelas velharias - a primeira disse enquanto tropeçava para fora do quarto - aquelas bugigangas não vão fugir, estão lá paradas à séculos, o que vai custar me deixar dormir mais duas horinhas.
- Günaydın kızlar - tia Ayfer comprimentou com um largo sorriso - Melo querida fiz as panquecas que você ama - ela disse enquanto colocava o prato na frente da garota e deixava um beijo estalado em sua bochecha.
- É por isso que eu te amo mamãe querida do meu coração - Melo disse já com o humor renovado.
- E você querida, dormiu bem? Percebi que a luz do seu quarto estava acesa quando fui dormir e já era tarde.
- Sim tia, eu só tinha muitas leituras para colocar em dia para a faculdade, o último ano está matador.
- Eu tenho certeza que todo seu esforço será recompensador, o que eu sempre digo?
- "Faça o que ama e você não trabalhará nenhum dia de sua vida" - as meninas repetiram em um coro que terminou em risadas das três.
A vida de Eda era equilibrada, tinha amor de sua tia e de sua prima, nunca sentiu realmente que era uma órfã, sempre teve todo o amor necessário, amor era a palavra que a resumia por completo, mas ainda assim as vezes sentia um vazio, um buraco, algo que faltava e ela não sabia explicar o que.
A batida da porta fez Eda despertar de seus pensamentos.
- Günaydın - Fifi dizia enquanto retirava a arma e o distintivo os depositando na cômoda perto da porta. A outra prima destoava por completo da irmã, enquanto Melo era sonhadora e vivia no mundo da lua, Figen era centrada, séria, quase mal humorada, trabalhava como detetive na polícia, trabalho que tirava a paz de Ayfer e muitas vezes o seu só o também, principalmente com o surto de mortes ocorrendo em Istambul.
-Kuzum benim- era comico mas Ayfer sempre a chamada de "cordeirinho" - estava preocupada, você demorou demais hoje.
- Nem me fale mãe, chegaram mais cinco corpos não identificados, o delegado está pensando em alertar o governador sobre um possível toque de recolher na cidade - Fifi parecia exausta, devorando o menemen sem nem esperar esfriar - e o pior é que não sabemos com o que estamos lidando, é tudo muito estranho, as vitimas não tem ligação, não existe um padrão.
- Que tal você não falar de morte enquanto eu to com a comida na boca irmãzinha? - Melo tinha uma expressão enjoada no rosto.
- E que tal nós nos aprontarmos pra abrir a loja hein Melocim, o que você acha?
- Sim chefe Eda, sabe mãe a senhora podia se aposentar a Eda ja é a patroa mesmo.
- Vamos Melo Hadi Hadi - Eda correu atrás da prima dando tapinhas em seu bumbum enquanto riam.

Joia de Sangue Where stories live. Discover now