O outro lado da história

Capítulo 20

P.V SIGYN

Eu não estava me sentindo muito bem hoje. Acordei enjoada e sem apetite. Provavelmente deveria ser de nervoso pelos últimos acontecimentos. 
Apesar de todo o mal estar, eu me sentia animada pela única coisa boa do mês: visita de Freya. Ela chegaria hoje para passar uns dias comigo. Depois de tudo, ela sabia que eu precisava de apoio.
- Majestade, a carruagem da rainha Freya chegou. - disse um dos guardas.
- Obrigada. Já irei recebê-la. 
Corri em direção ao portão de entrada e abracei minha amiga o mais forte que pude. Parecia que ela trazia a solução de todos os meus problemas! 
- Oi Sig. Como está? - perguntou de forma doce.
- Péssima. Mas agora estou feliz que esteja aqui. - sorri para ela.
-Eu também.
- Vem, vou te levar até o quarto. 
Seguimos em direção ao quarto de hóspedes e acomodamos suas coisas. 
Após isso, sentamos nas poltronas da sacada e conversamos sobre a viagem dela, as novidades de Alfheim e as confusões de Frey. Até que começou a conversa pesada.
- Sigyn, eu sei que é difícil para você, mas me conta: o que aconteceu em Asgard?
- Freya, eu nem sei por onde começar. Thor foi banido, como você já deve estar sabendo; Loki ficou com o trono temporariamente e enlouqueceu após descobrir ser adotado. 
- Espera. Loki não é filho de Odin? 
- Não, não é. Pelo menos não biológico. 
- Eu sei que é cruel o que vou insinuar, mas preciso perguntar: acha que esse é o motivo de serem contra seu relacionamento com Loki? 
- Sim, eu tenho certeza que sim. Inclusive, briguei com meu pai assim que cheguei aqui. Ele não me quer com Loki. Disse que ele não é bom para mim. 
- Isso é um absurdo! Por que adoção faz dele menos importante que Thor?
Eu queria contar para ela o que ele realmente era, mas eu não podia. Não era um segredo meu. Tenho certeza que Loki quer esse segredo escondido. 
- Acho que tem a ver com linhagem real. Querem que meus filhos sejam puros. 
-Isso é ridículo.
- Eu concordo.
Nesse momento, Freya apertou minha mão em sinal de conforto. Não pude deixar de sorrir em agradecimento. 
- Vocês vão dar um jeito, Sigyn. Loki vai resolver tudo. 
- Eu não sei. Ele me expulsou de Asgard da última vez que nos vimos.
- O que? Não é possível! Ele não faz nada sem você. Ele não escolheria isso. 
- Então por que me mandou voltar para casa? 
- O que ele disse exatamente?
- Disse que não quer sujar meus filhos com o sangue dele; que queria que eu fosse embora. 
- Eu sei que descobrir ser adotado foi difícil para ele, mas o Loki nunca faria isso, Sigyn. Ele pode até não querer "sujar" sua linhagem, mas te mandar embora... ele não faria.
- Mas fez.
- Por conta própria?
- Do que está falando?
- Olha, não seria a primeira vez que o obrigam a dizer algo que ele não quer. Muitos anos atrás, quando Loki foi em Alfheim em uma viagem com Odin, ele teve um desentendimento com um nobre que seria seu noivo. Como punição, Loki o enfeitiçou e o trancou numa caverna. Frey ficou furioso e disse que cortaria relações diplomáticas com Asgard. Isso faria Odin perder  oportunidade de ter mais poder, então ele pediu a Frey uma hora para resgatar o nobre e lhe entregar em perfeito estado. Eu estava passeando pelos jardins quando vi Odin ameaçar Loki. 

FLASHBACK ON

- Você perdeu o juízo? Prender o braço direito de Frey em uma caverna? Vamos perder qualquer vantagem que tivermos.
- Eu não ligo para isso. Ele estava se gabando para os outros, dizendo que casaria com Sigyn. Ele a desrespeitou. 
- Ele irá casar com Sigyn. Esse é o acordo. 
- O que? O senhor enlouqueceu? Ela nunca aceitará aquele verme como marido e nem eu deixarei.
- VOCÊ NÃO DECIDE NADA, LOKI. Eu te dou 30 minutos para ir até a caverna, tirar o nobre de lá e devolvê-lo ao castelo. Depois disso, pedirá perdão a Frey.
- E por que eu faria isso? Não vou deixar que case com Sigyn. 
- Se devolvê-lo, direi a Frey que não darei permissão ao nobre para casar-se com Sigyn. Se não devolvê-lo, darei a benção ao próprio Frey.
Odin saiu, deixando para trás um Loki furioso e pensativo. 

30 MINUTOS DEPOIS...

- Aqui está, Frey, seu querido nobre. Não se preocupe, ele está bem. Foi só uma brincadeira. Peço... é... perdão... pelo desentendimento.
- Peço perdão pelo meu filho, majestade. - acrescentou Odin após o pedido de desculpas pobre de Loki.
- Está perdoado. Conheço a fama de Loki. 
- Que bom, majestade. Sabe o que acontece quando... - Loki foi cortado por Odin antes que terminasse a frase.
- Obrigado por nos receber, Frey.  

FLASHBACK OFF

- Então Odin manipulou Loki? 
- É, ele ofereceu um acordo. - disse Freya.
- Acha que alguém fez um acordo com ele?
- Para te mandar embora? Não. Não há nada que ofereçam a ele que tenha mais valor que você.
- Então, o que está pensando?
- Acho que ele foi forçado a te mandar embora. 
- Ele não obedece ninguém.
- Não obedece quando não tem algo que ele ame em jogo. 
- Acha que alguém me ameaçou?
- Acho que alguém o convenceu de que seria melhor ficar longe de você.
- Só pode ser o meu pai.
Escutamos uma batida na porta.
- Com licença, majestades. Trouxe o café da tarde. 
- Obrigada, Mary. - agradeci com um sorriso. 
- Vou me retirar. Com licença. - respondeu Mary. 
Assim que provei um pedaço do bolo, senti uma vontade absurda de vomitar e corri para o banheiro. Após colocar tudo para fora, escovei os dentes e deitei na cama de Freya.
- Me perdoe. Eu usei a escova de dente que trouxeram para você - falei tentando tirar a ruga de preocupação de Freya.
- Você está melhor? Não acha inteligente visitar a enfermaria?
- Eu vou ficar bem. Acordei enjoada hoje, mas vai passar. 
- Comeu algo que fez mal? 
- Não. Eu não sei por que estou assim. Deve ser nervoso. 
- Tá bom. Espera um minuto que vou pegar meu remédio para dores abdominais. Estou naqueles dias e já está começando a doer.
- Entendo. A minha quase me mata também. Se bem que esse mês eu não senti dor. Espera, eu fiquei esse mês? 
Freya ficou me olhando com uma cara assustada e sentou na cama ao meu lado em silêncio.
- Sigyn, tem chance de você estar grávida? 
Eu ri. Ri muito. 
- Você está maluca? Claro que não. Eu estive com o Loki mês passad... - fiquei em silêncio também. Não podia estar acontecendo. Não. Foi uma vez. Não é possível!
- Sig, eu tenho uma poção para descobrir se a mulher está grávida. Vou fazer pra você. É bem rápido. 
Nisso, Freya levantou e pegou em sua maleta algumas ervas e água. Misturou tudo e me entregou. 
- O que eu faço com isso? Bebo?
- Não. Cospe aí dentro. 
- Que nojo!  
- Eu sei, mas é como funciona. Se a cor permanecer verde, você não está grávida, se ficar azul...bom, já sabe. 
- Ok. 
Fiz o que minha amiga disse. 
- Agora temos que esperar.
Assim que ela disse isso, alguém bateu na porta.
- Majestades, a Lady Sif as aguarda na sala de jantar. 
- Lady Sif? O que ela está fazendo aqui? - perguntei. 
- Não sei, majestade, mas ela diz ser urgente. 
Loki. Meu coração acelerou. Com certeza era sobre ele. Fui correndo até a sala de jantar e encontrei Sif andando de um lado para o outro com a mão na testa e um arranhão na bochecha. 
- Sif, o que aconteceu? 
- Sigyn, é o Loki. É tudo culpa dele.