Primeira carta

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24 de maio de 2020.

Laura,

Achei que conseguiria lidar com sua ausência, mas ela grita tão alto! Por que você precisa ser um fantasma? Toda hora ouço sua risada me assombrando, acho que vi seus movimentos com o canto do olho. Meu coração dispara, eu travo, e então tudo desaba quando percebo que não era real, não era você.

Caitlín R. Kiernan dizia em A Menina Submersa que "fantasmas são essas lembranças fortes demais para serem esquecidas, ecoando ao longo dos anos e se recusando a serem apagadas pelo tempo". Eu acredito nisso. Acredito porque você é os dois. Um fantasma e um fantasma de uma lembrança.

Você me assombra como uma ferida que se recusa a fechar, tem um lugar permanente na minha mente. Eu te odeio, odeio, odeio. Odeio porque te amo.

Sua ausência, tanto quanto sua presença, me afeta tanto que me assusta. Sinto que perdi o controle do meu corpo, da minha mente. São todas essas emoções afloradas e incontroláveis que não sei processar. Como posso esperar que minha racionalidade me salve quando não consigo nem mesmo controlar meu coração disparado?

Eu não sou religiosa, mas gosto de fazer preces para o universo. Rezo para que o sentimento simplesmente vá embora, que meu peito se acalme, que sua ausência seja amenizada. Enquanto isso, te vejo nos meus sonhos e em cada sussurro baixinho que ouço no meio de uma tarde silenciosa.

Com amor,

Alice

Anjos Como VocêWhere stories live. Discover now