Capítulo Três

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Acordei cuspindo água, tossia até o gosto salgado sair da minha boca, o que não adiantava muito. Abri os olhos e levantei minha cabeça, estava amarrada em algum lugar, a corda rodava meu tronco.

Olhei para os lado e percebi pessoas, mais homens que mulheres, estava em um navio, no meio do mar. Olhei para cima, procurando a bandeira e não tive muita dificuldade em achá-la.

Preta com uma caveira branca.

Eu estava em um navio pirata.

Já estava no pôr do sol, tentei me soltar mas as cordas estavam apertadas e bem presas.

- Ela acordou!- alguém gritou me assustando, outros repetiram até o convés ficar cheio, como era possível? Só podia ser um sonho, eu sonhei com sereias e agora estava em um navio pirata.

Todos estavam me olhando, curiosos e cochichavam provavelmente sobre mim. Eu não entendia o que estava acontecendo, só queria voltar para a minha casa.

Da cabine do capitão, um homem saiu primeiro e depois outras duas mulheres que se juntaram a multidão. O homem usava roupas escuras, uma bandana vermelha no cabelo, a pele era bronzeada, olhos castanhos escuros e tinha uma barba escura grande, acho que tinha uns quarenta ou cinquenta anos.

Ele vinha na minha direção.

Eu iria morrer, ou pior eles iriam abusar de mim, escutei diversas histórias sobre piratas pelos mares, uma delas é que eles não respeitavam muito as mulheres.

Medo atingiu meu peito e não dava nem para eu me defender, no máximo poderia chutar sua canela ou pisar no seu pé.

Ele se aproximou de mim, sentia o cheiro forte de rum vindo da sua barba, com a mão cheias de anéis ele segurou meu queixo me olhando, puxei meu queixo fazendo ele me soltar.

Ele riu ajeitando a postura.

- O que está acontecendo? O que vocês querem de mim?- pergunto, eu precisava de respostas.

- Você, minha cara, é a pessoa que eu venho procurando todos esses anos. Rapazes.- ele se virou para a multidão.- Finalmente estaremos livres da maldição!- todos comemoraram levantando as espadas ou pistolas.- Achamos o Santo, ou melhor, A santa.- ele se virou para mim.

- Do que você está falando? Eu não sou santa nenhuma, sou apenas uma garota.

- Não parece. Eu fiz um acordo com algumas sereias e elas foram em cada cidade, cantando uma antiga canção amaldiçoada de um livro banido. Essa canção, minha cara, apenas Santos na terra podiam escuta-la.

A fala daquele marinheiro veio na minha cabeça, " elas eram lindas e cantavam mas eu não consegui escutar a música, apenas vi suas bocas se mexendo."

Não podia ser.

Olhei para um canto do navio e as cinco estavam lá, suas caudas sumiram e foram substituídas por um par de pernas, cada uma usava um vestido simples branco e os cabelos estavam secos. Elas desviavam o olhar, não queriam me olhar.

- Qualquer um poderia ter escutado. Eu apenas vi as meninas perto das pedras e vi se elas queriam ajuda, não escutei canto algum.- menti.

- Pós bem, então vamos para mais um teste.- ele tirou do bolso do casaco um pêndulo de ônix, a corrente era dourada. - Esse pêndulo, foi dado a cada pirata para achar o santo. Se ele apontar para você, você é uma santa, se não, te jogamos no mar para os tubarões para não contar a ninguém o que aconteceu.

Não sei o que era pior, a ideia maluca de que eu sou uma santa ou ser jogada no mar para tubarões.

Ele deixou o braço o mais parado possível, o pêndulo começou a girar em círculos sozinho em uma velocidade muito rápida, alguns piratas se aproximavam para ver.

O ônix girou e girou até parar subitamente apontando para mim, ele estava parado no ar, a corrente dobrada apontando para o meu rosto. Era impossível que o homem na minha frente o tivesse manipulado.

Os piratas ao redor comemoraram mais uma vez.

O homem sorriu enquanto guardava o pêndulo de volta no casaco.

- É impossível, eu não...- eu não acreditava.

- Minha cara, há muitas coisas que dizem serem impossíveis mas elas são possíveis.- ele segurou meu queixo novamente.- Você vai acabar com a maldição do meu navio primeiro do que os outros, quando eu estiver livre eu pensarei o que fazer com você. Você é uma santa, é mais valiosa do que qualquer tesouro, qualquer continente e reino.- ele apertou meu queixo .- E agora você é minha para sempre.

Cuspi no seu rosto fazendo ele se afastar e soltar meu queixo. Ele limpou meu cuspe com um pano e soltou o ar fortemente.

- Levem ela para o calabouço.- disse se virando.

- Sim, capitão.- quatro piratas se aproximaram, quando soltaram as cordas, eu tentei tirá-las do meu corpo e correr. Mas dois piratas, o dobro do meu tamanho, seguraram meus braços , tentei me soltar deles mas acabava machucando meus braços de tanta força que eles usavam.

Desisti e fui arrastada para o calabouço.

A Maldição dos SantosWhere stories live. Discover now