Capítulo 9: O gerente

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Carl narrando:

Senti as gotas de suor caírem de meu rosto enquanto minhas pernas tremiam e meus dedos batiam na mesa, eu não esperava que fosse acontecer tão cedo. Arthur abriu a porta, atrás dele estava um homem alto e elegante, ele vestia um chapéu e terno preto, era tão moreno que seria impossível vê-lo no escuro, seus dentes eram extremamente claros, o que fazia contraste com sua pele escura, em resumo, ele era elegante e intimidador, mas eu sei quem ele realmente é.

-Bom dia Carl, é um prazer conhecê-lo.

-Bom dia senhor, sente-se, sobre o que lhe devo a honra?

-Não seja tão formal e nem tente esconder o medo, sei que você está apavorado, vejo em sua alma. -Disse enquanto se sentava.

-Certo, então o que quer comigo, mensageiro de Lúcifer?

-Você sabe por que estou aqui, acabou o seu tempo Carl, a porta irá se abrir e vocês não tem o que fazer. Finalmente teremos nossa vingança nesta nova guerra santa, mas desta vez, grande parte do alto escalão do inferno estará presente na guerra.

-Não tem nada que eu possa fazer para prolongar apenas mais uma semana?

-Acha que não sabemos que o vaticano trará seus homens para cá em uma semana? Apesar de você ser um dos principais exorcistas do vaticano, não consegue mais lutar depois que fez aquele acordo com a dama de vestido preto, não é?

-Como você sabe?

-Sua aura está reduzida pela metade, e pelo que Astaroth me contou, você não tem mais aquela munição batizada por Deus, não é mesmo? Gastou nele para sair do inferno e resgatar sua filha, mas sinto muito, o Grão-Duque do inferno não morreria tão facilmente.

-Foi por isso que ele capturou Liz, não é? Ele queria que eu gastasse a bala antes da guerra.

-Não, você sabe que Astaroth não colocaria a própria vida em risco por conta disso, ele fez isso por causa do moleque fora desta sala.

-Está falando do Levi?

-Sim, dele mesmo, você sabe que ele pertence a nós, este mundo escondeu quem ele realmente é. Agora tenho que ir, só vim para comunicar que nosso acordo está acabado, hoje mesmo a porta se abrirá.

Esperei ele sair e imediatamente peguei o livro negro, abri na página em que estavam as palavras a serem ditas para invocar a mulher do vestido preto, disse-as em voz alta e saí correndo para o corredor, ela já estava lá me esperando.

-Carl? Não esperava que iria me invocar de novo tão rápido.

-Preciso da sua ajuda...

-Quanto vai querer?

-Tudo o que posso.

-Se fizer isso, vai reduzir seu tempo restante de vida pela metade, lembre-se que você já fez isso uma vez, então o que lhe restará após o processo será metade da metade que lhe resta.

-Não é como se eu me importasse com isso nessa altura do campeonato.

-Certo, não vou reclamar, afinal eu ganho muito com isso. -Disse ela enquanto estendia o copo com o mesmo líquido negro de sempre para mim.

Enquanto bebia, sentia o estranho líquido descendo e queimando mais do que a bebida com maior teor alcoólico existente. A sensação era de uma dor visceral, meus órgãos pareciam estar se desfazendo, era como se aquilo estivesse corrompendo minha alma. Depois de alguns instantes, uma nova sensação terrível surgiu, senti o sangue subindo até minha boca e comecei a vomitar sem parar.

-Carl, do jeito que está, lamento mas não lhe resta muito tempo. Faça logo o pedido antes que seja tarde.

-Quero que você impeça a sala sete de se abrir por pelo menos uma semana. -Minha voz estava fraca e confusa.

-Bom, só tem um jeito de fazer isso, e você não vai gostar...

-Não importa, me diga!

Levi narrando:

Fiquei com Arthur na entrada do cinema, nós o fechamos e ficamos aguardando Carl, mas estava demorando demais. O clima estava cada vez mais pesado, como se um peso enorme estivesse se acumulando em nossas costas, então decidi ver como Carl estava e o que estava acontecendo.

Antes de chegar ao corredor, esbarrei com a mulher de vestido preto.

-Oi, por acaso você sabe por que Carl está demorando tanto?

-Garoto, não o aconselho a entrar nesse corredor agora.

-Por que? Aquele homem ainda não foi embora?

-Não é isso...

Antes de ela terminar de falar, repentinamente o chão do cinema começou a tremer, será que era um terremoto? Não, um terremoto no Brasil dessa escala é impossível. Alguma coisa estava acontecendo e eu sabia que Carl estava envolvido nisso. Empurrei a mulher e saí correndo para o corredor, olhei para a direita e meus olhos se arregalaram, ele estava parado em frente a sala sete, seu olhar era frio e calmo, parecia que tinha perdido as esperanças e aceitado a morte, sua roupa estava coberta do sangue que escorria pela sua boca, cada segundo vendo aquilo me assustava mais.

Enquanto um ar gélido se espalha pelo ambiente, vejo Carl abrindo a porta sete. Foi como se eu tivesse visto um cordeiro indo diretamente para o abate. De lá de dentro só se via escuridão, era como se realmente não houvesse luz lá dentro. Eu conseguia ver os cabelos grisalhos de Carl balançando para frente e para trás por conta da pressão que emanava daquele lugar, mas ele não temia e não escutava eu implorando para ele retornar, Carl apenas seguiu em frente, e à medida que ele entrava, a porta se fechava lentamente, como se estivesse o acompanhando.

Ver aquela porta fechar foi algo horrível de se observar, de um instante para o outro, foi como se o gerente misterioso que eu tanto admirava nunca tivesse existido. Quando finalmente voltei a conseguir me mover, senti um arrepio atordoando minha espinha, olhei para as minhas mãos e lá estava ele, o livro que sempre tive curiosidade de tocar mas nunca pude por conta da regra de número nove. Ele estava aberto na página em que estavam contidas as regras, mas algo estava estranho, lá havia uma regra que eu nunca tinha visto antes, quando a li, meu corpo instantaneamente ficou paralisado, em choque, apenas por conta de uma "simples" frase.

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"Agora você é o gerente"

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Falaí leitores, tudo de boa? Postei esse capítulo um pouco antes do que estava nos meus planos, mas espero que gostem. Não se esqueçam de votar e comenta, isso me ajuda muito. :)

Flores negrasWhere stories live. Discover now