Flores negras

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Enquanto um ar gélido se espalha pelo ambiente, vejo Carl abrindo a porta sete. Foi como se eu tivesse visto um cordeiro indo diretamente para o abate. De lá de dentro só se via escuridão, era como se realmente não houvesse luz lá dentro. Eu conseguia ver os cabelos grisalhos de Carl balançando para frente e para trás por conta da pressão que emanava daquele lugar, mas ele não temia e não escutava eu implorando para ele retornar, Carl apenas seguiu em frente, e à medida que ele entrava, a porta se fechava lentamente, como se estivesse o acompanhando.

Ver aquela porta fechar foi algo horrível de se observar, de um instante para o outro, foi como se o gerente misterioso que eu tanto admirava nunca tivesse existido. Quando finalmente voltei a conseguir me mover, senti um arrepio atordoando minha espinha, olhei para as minhas mãos e lá estava ele, o livro que sempre tive curiosidade de tocar mas nunca pude por conta da regra de número nove. Ele estava aberto na página em que estavam contidas as regras, mas algo estava estranho, lá havia uma regra que eu nunca tinha visto antes, quando a li, meu corpo instantaneamente ficou paralisado, em choque, apenas por conta de uma "simples" frase.

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Capítulo 1: Introdução

Não sou um exemplo de pessoa, quando adolescente me envolvi com drogas, fui expulso de algumas escolas e até mesmo já fui preso por atropelar uma pessoa enquanto dirigia bêbado. Isso inclusive me perturba até hoje, principalmente por ter descoberto depois que ele era um pai de família, a ideia de ser um peso para a minha própria já me desagradava, imagine como me senti depois de ter descoberto isso. Mas afinal, não tenho do que reclamar e nem me fazer de coitado, a culpa foi minha.

Bom, depois desta discrição totalmente sincera sobre mim, vamos ao que importa, me chamo Levi, sou loiro, magro e falam por aí que sou bonito, mas eu me acho apenas normal. Tenho vinte e cinco anos e moro no interior de São Paulo, mais especificamente na cidade de Holambra. Gosto muito de morar aqui, é uma cidade pequena e recente, fundada em 1948, pelo seu nome, já da para perceber que é uma cidade com descendência e raízes holandesas. Holambra tem prédios baixos e coloridos, tem um aspecto bem positivo e alegre, pode-se dizer até que é fofa, bom... com exceção de um lugar.

Aqui existe um cinema um tanto peculiar, apesar desta cidade ser conhecida como a cidade das flores do Brasil, quando se chega perto deste cinema as flores começam a ficar cada vez mais escuras por algum motivo. Eu já fui lá uma vez, afinal é o único cinema da cidade. Fui para assistir algum filme de comédia que um amigo de fora me indicou, porém logo na entrada me deram uma lista de regras a serem seguidas com extrema atenção, não lembro delas agora, porém eram mórbidas e um tanto quanto surrealistas. Uma coisa que ficou na minha mente ao sair de lá era o quão sem vida aquele lugar era, fui ver um filme de comédia que teoricamente me faria gargalhar, porém não dei uma única risada, o ambiente era tão pesado que não me permitia rir. Vi gente conseguindo dar alguns risos de canto de boca, mas eu sentia a energia do local mais do que eu deveria, não me considero um sensitivo nem um médium, mas claramente sempre senti coisas que a maioria não sentiria.

Bom, fiquei preso dos meus vinte anos até os meus vinte e três, era para eu ter ficado mais tempo considerando o que fiz, mas digamos que eu tenho privilégios, minha família é dona da empresa que mais exporta flores da América Latina, então digamos que meu pai deu um jeito de me tirar daquele lugar. Mesmo ele não gostando de mim por eu ser a ovelha negra e decepção da família, ele ainda é meu pai e não me deixaria apodrecendo lá.

Depois que saí da cadeia, meu currículo não era um dos melhores, muito pelo contrário, e por conta disso ninguém queria me empregar, nem a minha própria família em sua empresa. Então você se pergunta, do que estou vivendo até agora? Da mesada que minha mãe me dava escondido do meu pai, porém por algum motivo este mês o dinheiro não havia entrado na minha conta, então resolvi ir tirar satisfação com ela.

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