12. Rubrum tuorum

356 60 17
                                    

     O clima entre Namjoon e Jin estava começando a ficar constrangedor, não sabiam o que fazer para quebrar o silêncio. O choro já havia parado, porém os dois continuavam abraçados. A mágoa do escravo deixava uma incógnita com Jin: ele estaria arrependido do que falou para o Ômega, ou havia outro motivo? Queria continuar ali, mas a lembrança da briga o forçava a se afastar. Ele até poderia ser paciente, mas não se enganaria por um alfa alto e bonito que foi um grande insensível. Ao contrário de muitos ômegas, Jin não era inocente o suficiente para cair na lábia do primeiro homem que aparecesse por aí, bancando o valente que nunca mostrava seus sentimentos. Queria alguém para conversar, uma companhia mútua, entretanto já estava vendo que o rapaz a seu lado ainda precisava aprender, ou talvez, reaprender a sentir qualquer coisa diferente da dor. Não conseguindo aguentar mais a confusão, Jin se afastou:

     -Já que você está melhor, vou voltar para os meus compromissos. Sugiro que entre, não está nas melhores condições para ficar aqui fora, no meio da chuva. Se pegar um resfriado, não conseguirá se livrar de mim tão rápido.- Namjoon retrucaria, se não soubesse que estava errado, desde o início.

                   "Não vá, eu imploro. Eu tenho medo, não vou suportar ficar naquele quarto triste no meio da chuva.

                                                                       Eu tenho medo"

           Como uma última estratégia, de fazê-lo ficar, mesmo não sabendo pedir, o escravo agarrou seu pulso. Não havia força nenhuma, já que a memória havia secado qualquer vontade de lutar, do corpo do alfa. Era uma súplica, uma saída para fugir do buraco onde fora enterrado desde o fim da adolescência. 

     -Que foi?

     -Hum...desculpe. Sei que não posso escolher minha condição, muito menos reclamar do que fez por mim.- "sei que você não é ruim, na verdade, é melhor do que qualquer um poderia esperar"- Não foi a minha intenção te ofender, afinal, não te conheço e te julguei- " posso sentir seu coração bom de longe"- Não sei se isso muda algo na sua vida, na verdade, a chance do meu pedido de perdão ter algum efeito é mínima, porque eu não sou muita coisa. Eu só não consigo esquecer...

      -Se está se sentindo culpado, nem pre-

     -Eram muitos deles e eu mal conseguia enxergar um palmo à frente do meu nariz. Era a primeira vez que estava acontecendo, eu me descontrolei e paguei o preço, ou melhor, ainda pago. As cicatrizes nunca foram curadas. - O pavor em seus olhos mostrava o quão sério o assunto era.

      Lembrou-se da primeira vez que viu o escravo, na Mina, e seu corpo não tinha cicatrizes tão profundas como as descritas. Por um momento, parou de respirar. Seokjin não era ignorante, ele adiquirira conhecimentos suficientes pelos livros para entender o peso e o significado daquelas palavras. Não gostou de pensar em um garoto tão jovem sendo desrespeitado de forma tão desprezível. Não gostou, principalmente, de imaginar seu alfa naquela situação.          

     -Hum...

     -Eu sei que sou sujo e não chego perto nem dos seus animais de estimação. Sinceramente, eu preferia ter morrido naquela mina, mas você me ajudou, só que me sinto culpado, porque, agora que você que sou defeituoso, não vai mais tentar me ajudar, não que eu tivesse conserto. Não entendo como Taehyung consegue ficar perto de mim com toda aquela vitalidade, porque eu consigo estragar a juventude dele com qualquer uma das minhas experiências. Se quiser me deixar na mina de novo, eu não vou lutar, sei que não há muita utilidade em me manter aqui.

     -Você precisa entender que não é imundo por ter sofrido. Pelos Deuses, você é a porra da vítima! Entendo que já sofreu muito e que até hoje você tem cicatrizes por conta das memórias, mas você precisa superá-las e para isso é necessário querer ser ajudado. Não estou pedindo para esquecer pelo o que passou, só quero que consiga criar novas lembranças. Não adianta simplesmente me ignorar e se prender à ideia de que lhe farei mal. Pode não confiar em mim, mas eu não vou desistir de tudo e fingir que não aconteceu nada durante a última semana.- as mãos do nobre pousaram sobre as bochechas do alfa- Você tem sentimentos e merece recuperá-los, porque você jamais foi ou será um animal. Pela milésima vez, nunca deixaria que te levassem para aquele inferno de novo.- ele queria explicar o por quê, mas sabia que Nam precisava processar muitas coisas.

     -Eu quero superar, mas não é tão simples. Não é como se de repente o escuro fosse virar somente um lugar sem luz, ou a chuva apenas gotas d'água caindo do céu.- O filho do Imperador, então, com um sorriso suspeito no rosto, tomou a mão do alfa e guiou-o até a grama, onde deitou-se. Nam, ainda sem saber como reagir, só fez o mesmo.

     -Sabe, toda vez que eu olho pro céu, eu lembro da minha mãe. Venho aqui toda vez que ela chora, por não ter vivido a longa vida que lhe fora prometida. Talvez se eu tivesse nascido um alfa, ela não teria tanto desgosto, pelo menos é o que meu pai diz. Apesar disso, deitar na chuva é o que mais me distrai, ainda mais quando meu pai está fora.

     O alfa ainda continuava com medo, era visível, não parava de tremer e seus músculos estavam rígidos. Depois de um tempo, notou que Jin já fechara seus olhos, mas ele não queria fazê-lo, pois o escuro o levaria de volta para aqueles dias infernais. Em uma tentativa de lembrar a si mesmo de que não estava sozinho, pegou de leve a mão do ômega, que entrelaçou seus dedos nos dele, correspondendo ao toque de suas mãos trêmulas. Conforme o caminhar dos segundos, a corrente de calor que se estabelecia entre eles se intensificava, porém o escravo não conseguia se livrar de toda a tensão, que deixava os pelos de seu braço eriçados e suas mãos frenéticas. Assim que notou, o nobre, atrevido como sempre fora, agarrou seu braço e posicionou-o sobre a região de seu coração. Por um instante, os olhos violeta se encontraram com as orbes cinzas e uma força magnética os atraía, era quase impossível negá-la. O mais velho podia ouvir as batidas do predestinado e, sem pensar muito, juntou seus lábios nos do mais novo.

     Com certeza foi um choque, mas, pela primeira vez em muito tempo, Namjoon pode sentir o coração de seu lobo novamente, tanto, que seus olhos passaram para um vermelho vivo, mas foram despercebidos pelo outro lúpus, que estava tão envolvido quanto ele.

Imperius- NamjinWhere stories live. Discover now