Chegamos, tiramos as malas do carro e minha vó tinha sido liberada para ir embora, mas ela não podia, O BENJAMIN TAVA NO CARRO AINDA.
Ok, ok, ok, pânico no sistema. O que eu faço?

_A senhora já vai embora? - perguntei.
_Não minha querida, magina, vou ficar aqui pra dar apoio.

Oh glória.
Parei na sala e me sentei na poltrona do meu pai. No sofá estava meu pai, sentado na ponta, o investigador no meio e minha vó na outra ponta. Do nada pensei: e se eles revistarem o carro?

_Eu sou o investigador Márcio e estou aqui para fazer perguntas sobre o paradeiro do seu amigo Benjamin.
_Namorado. - corrigi ele involuntariamente.

Pra que eu fui fazer isso?

_Ok - olhou pro meu pai - namorado. - e fez uma anotação num caderninho. - Você sabe alguma coisa sobre onde ele possa estar? Ele fez algum contato com você nesse meio tempo? - e me olhou atentamente.
_Eu vi o que aconteceu pel televisão quando estava na casa da minha vó, mas nada além disso. Não sei de mais nada. Desculpe.
_Tudo bem, é só isso por hoje. Tenham um bom dia.

Nem tinha me dado conta que já era de manhã.
Ele foi embora com os outros policiais e meu pai fechou a porta.

_Senta ai, precisamos conversar. - meu pai disse apontando de novo para a poltrona, de onde eu tinha acabado de levantar. - Você sabe que o ataque aconteceu no começo do mês...
_Sim - interrompi sem querer.
_Então, mas só vieram de contatar agora porque estão mais concentrados nos outros dois principais mandantes do negócio todo, pelo menos foi o que ele me explicou quando veio aqui antes...
_Calma, o investigador veio aqui quando? - perguntei confusa.
_Um dia depois do ataque. Bateram na porta da Rosa quando eu estava saindo de casa, ai eu perguntei se eu poderia ajudar e expliquei que ela não estava em casa fazia um tempo. - nessa hora me lembrei do porquê - Ele me fez algumas perguntas, perguntou da minha relação com o Benjamin e me deixou o cartão. Ele chegou a voltar de novo pra falar com você, daí eu expliquei sobre a casa da sua vó e como a urgência não estava tanto pro seu lado como eu disse, só avisei a sua vó pra você voltar antes e resolver o que tivesse pra ser resolvido. 
_Se estivesse mais grave pro Benjamin, eles teriam ido até a minha casa? - minha vó perguntou assuatada.
_Provavelmente sim.

Santo Deus, isso nunca tinha passado pela minha cabeça. Poderiam ter descoberto o Benjamin lá fácil, fácil. Ai droga, como eu vou tirar ele do carro?

_Bom, a senhorita já está entregue em segurança, dona Lizandra também já está em casa... Vou indo. - pegou sua bolsa que estava no sofá.
_Calma vó - a impedi - fica só mais um pouco, quero te mostrar... - tentei pensar em algo - uma receita nova que meu pai me ensinou. A senhora não pode voltar pra casa sem comer nada né? - sorri de canto.
_Oh meu amor, não precisa, nem esntou com tanta fome assim.
_Não, mas eu faço questão. Fiquem aqui que eu já venho preparar, vou só pegar meu fone de ouvido que deixei no carro e já venho ta?

Eles foram pra cozinha conversando sobre a vinda da polícia e eu corri até o carro. Abri o porta-malas totalmente desesperada.

_Você está bem? - já inclinei minhas mãos direto em sua direção.
_Hum, o quê? - perguntou se alongando.
_Você dormiu?
_Ué, o que mias teria pra fazer? - foi se levantando.

Eu aqui suando frio, mentindo pra polícia e pra minha família enquanto o bonito tira um cochilo.

_Vem logo, pode ter alguém olhando. - fechei a porta e peguei na mão dele. Fomos até a lateral da minha casa.
_Pra onde ta me levando?
_Pro meu quarto ué, ou você acha que ta podendo ficar na sua casa com a sua mãe fora e com a polícia podendo aparecer a qualquer momento?
_Mas eles também podem vir aqui.

Merda, isso era verdade.

_Já sei, você fica aqui um tempo e quando eu puder eu te levo pra casa da minha mãe. Bem menos possível irem lá te procurar e mesmo assim, lá tem vários cantos onde você pode se esconder numa boa.
_Numa boa? - perguntou rindo.
_Ta, nada vai ficar muito numa boa agora. - ri também. - Vai, sobe logo, eu preciso voltar lá pra dentro, eu só ia pegar meu fone.
_Não é esse ai saino do seu bolso? - apontou.
_Exatamente. - pisquei. - Vai, rápido. E não faz barulho.

Ele subiu, olhei em volta pra saber se alguém tinha visto e voltei pra dentro de casa.
Comecei a preparar uma versão do frango assado pra café da manhã e pensei em perguntar pra eles como eles reagiriam se soubessem o que eu estava fazendo.

_Gente, hipoteticamente falando... se eu tivesse tido notícias sobre o Benjamin, ou sei lá, se tivesse visto ele, o que vocês fariam?
_Mas você não viu né? - meu pai perguntou desconfiado.
_Não, não, é só uma suposição mesmo.
_Claro que iríamos denunciá-lo. - respondeu com a maior naturalidade.
_Pai!
_O quê? - o olhei torto - Aisha, em hipótese nenhuma iríamos ajudar um foragido da polícia, não interessa quem fosse, nem que seja o Benjamin.
_Pai, você ta falando isso como se ele fosse qualquer pessoa. Você viu ele crescer, você sabe como ele é, eu sei como ele é, você não daria nem uma chance dele se explicar?
_Ele teria que se explicar pra polícia, não pra mim.
_Você acha que ele fez aquilo por que ele quis? - parei de fazer o que estava fazendo - Pai, fala sério, você ta falando do Benjamin, o garoto que sempre me ajudou e sempre ficou do meu lado quando o senhor bebia, o garoto que tem medo de cozinhar sozinho por medo de estragar a cozinha... Ele é o mesmo garoto que você viu encher a calça de areia no parquinho quando tinha 6 anos e sair andando como se fosse o mostro de areia do homem aranha. Ele não é uma pessoa má, você sabe disso.
_Pode não ser uma pessoa má, mas fez coisas más. O Benjamin não é mais um garoto Aisha, é um homem que entrou numa câmara municipal e saiu atirando em pessoas inocentes sem mais nem menos. Pessoas morreram, ta entendo a gravidade? Aquele homem que fez isso, não é mais o Benjamin que conhecíamos. - pegou uma uva na fruteira e foi pra sala.

Olhei pra minha vó indignada.

_Vó...
_Ih, nem comece. Não vou me meter em nada disso. - se levantou - Pior que ele não está errado. -  também foi pra sala.

Eu estava desacreditada. Eu sabia que era uma possibilidade dele me responder que não defenderia o Ben, mas não que falaria todas essas coisas a respeito dele. E nem minha vó, caramba, nós estavámos sozinhos.
Terminei o café da manhã e deixei na mesa pra eles. Peguei algumas frutas e como sempre fiz um sanduíche pra levar pro Ben.

_Vou comer no quarto. - avisei - Vou desarrumar a mala. - e subi.

Entrei no meu quarto e entreguei a comida pro Ben. Nos sentamos na cama.

_Precisamos conversar Ben.
_O que foi? - perguntou descascando a banana e deu uma mordida.
_Precisamos conversar sobre o que vai acontecer com você. Alguma hora você vai precisar se entregar ou vão te achar. Não pode ficar fugindo pra sempre.
_Nesse tempo em que ficamos na casa da sua avó, eu fiquei pensando sobre isso. - deu outra mordida na banana. - Eu to em dúvida sobre quando fazer isso. Se eu me entregar antes de pegarem o resto da equipe, eu posso conseguir um acordo judicial pra me livrar de uma pena muito grande, mas vou estar colocando a vida da minha mãe em risco, mesmo ela estando com a minha tia. E se eu me entregar depois de prenderem eles, não conseguir acordo judicial nenhum. Fora que eu também to correndo o risco de ser preso antes de conseguir me decidir e perder qualquer uma dessas possibilidades.

Minha ficha ainda não tinha caído de que ele iria ser preso, até ele mesmo falar isso. Caramba, olha no que esse ano se transformou pra gente. Esse ano só não, a vida dele estava totalmente de pernas pro ar. De um possível oficial do exército, para um "terrorista" foragido da polícia em menos de um mês.

_Ben, seja sincero comigo...
_Eu sempre sou.
_Eu sei... mas me fala, você realmente matou aquelas pessoas?
_Aisha, não! Você não viu o vídeo nas reportagens?  Eu não atirei em ninguém. Eu atirei em direção aos lugares, não as pessoas. Chão, teto, mesas... Eu não matei ninguém.
_Eu fico tão aliviada de ouvir isso. - o abracei aliviada.
_Aisha, vem dar tchau pra sua avó. - meu pai gritou do andar debaixo.
_Já volto.

Desci e me despedi dela. 



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⏰ Last updated: Mar 16, 2021 ⏰

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Perfeita Amizade ColoridaWhere stories live. Discover now