Capítulo 35 (Parte II)

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Ao erguer o olhar, engoliu o choro secando as lágrimas com as costas da mão. O homem se arrastou até a lápide à sua frente, apoiando as mãos sobre a pedra gelada e voltando a abaixar a cabeça. Ele podia sentir o toque caloroso do seu pai no ombro e apertando levemente a região. A voz suave do mais velho ecoava em sua mente, fazendo-o lembrar do sonho de Raj em visitar o restaurante do seu filho e acompanhar a sua jornada como uma boa pessoa.

— Eu sinto tanto a sua falta, baldi. Desculpe não ter sido forte o suficiente, desculpe não seguir o caminho que te traria orgulho. Eu tentei... Tentei muito mas o miserável do Aseem estava certo. Eu precisei seguir a minha essência ruim para proteger minha família. Eu só não fazia ideia de que seria tão doloroso perder tudo dessa forma...

Dinesh se erguia secando as últimas lágrimas teimosas escorrendo por suas bochechas. Ele lançou um olhar melancólico em direção à lápide enquanto sentia um nó se formar em sua garganta. Mesmo destruído por dentro, forçou um sorriso como se tentasse tranquilizar o seu pai.

— Não se preocupe comigo, baldi. Eu desci ao inferno tantas vezes que, agora, só espero encontrar o meu lugar lá.

Então, ele dava as costas seguindo o seu caminho para fora do cemitério com a cabeça erguida. Apesar do sofrimento, não iria agir como um covarde e fugir do seu destino. Afinal, como sempre afirmava, era um homem de palavra e há muito tempo havia prometido proteger a sua família.

(...)

Dinesh chegava na cafeteria, retirando a neve do seu gorro e do casaco com leves tapinhas. Após retirar as roupas mais pesadas, sentava-se à frente da jovem soltando um longo suspiro. Sakura o encarava com certo receio, o seu longo cabelo escuro estava preso em um rabo de cavalo e encolhia as mãos dentro do bolso do sobretudo rosa.

— Perdão, mas nem Papai Noel consegue andar de trenó com essa neve.

— Entendo.

— O que queria falar comigo? Pretende me envenenar com café? Pois bem, aproveitarei para pedir o meu favorito. — comenta acenando para o garçom. — Um irish coffee, por favor.

— Um expresso.

Após notar os pedidos e se afastar da mesa, Dinesh focava sua atenção nela.

— Mas creio que não veio somente para isso.

— Como é a sua relação com o Kiran?

Dinesh exclama surpreso com a pergunta, desviando o olhar por breves segundos.

— No começo, eu o amava porque estava feliz por ter um irmãozinho mais novo. Porém, quando ele voltou da tortura, todos o mimavam demais e esqueceram da minha existência, então eu o ignorei por bons anos. Com o tempo, amadureci o suficiente para entender que o bhai não tinha culpa do que houve, nossa relação voltou ao normal e eu o ajudei a se defender, ensinando alguns golpes.

— E depois do incidente comigo, a relação de vocês voltou à estaca zero.

— Isso mesmo, jovem. Eu nunca pensei que receber o desprezo do Kiran fosse tão doloroso, mas eu era culpado e não podia fazer nada. As coisas só pioraram quando as consequências das minhas ações começaram a machucar o bhai também.

— Ele aguentou tudo calado, passou tanto tempo sem desabafar comigo mas todos os dias ele sofria sozinho, não é?

— Provavelmente. Eu fui um péssimo irmão e tentei me redimir, mas o erro já havia sido cometido.

— Eu passei algum tempo meditando com monges na América do Sul, encontrei um pouco de paz e voltei para o Japão decidido a ser um irmão melhor. Infelizmente, o Kiran não queria nem me ver no mesmo lugar que ele.

O filho perfeitoWhere stories live. Discover now