Contra Regra

Boa Escolha.

Após uma tarde inquietante e, diga-se de passagem, interminável, a noite resolveu finalmente dar as caras. Eu estava acostumada a frequentar as áreas nobres de Londres, as quais exigiam trajes que você pudesse exibir toda a sua fortuna de forma discreta e elegante, mas quando Savanna mencionou algo relacionado a "racha", meu cérebro que até então se encontra em perfeitas condições de discernimento, piscou um tipo de alerta vermelho, eu não sabia que tipo de roupa usar naquela ocasião.

E que se dane a índole daquele evento, tinha plena consciência da ilegalidade, mas nada me assustava tanto quanto não saber o que vestir. Ainda inconformada e a ponto de desistir, eu estava finalmente posta em meus saltos e pronta para acompanhar minha insistente e, de acordo com minhas percepções recentes, apaixonada amiga.

Saber que estávamos indo para algum lugar afastado da cidade, me fez querer entrar em pânico e perguntar a Savanna a onde diabos ela estava com a cabeça, era um evento ilegal e tudo o que eu conseguia imaginar eram homens tatuados, fedendo a nicotina barata e cantadas nojentas. O que definitivamente, não combinava comigo.

Até que não levou tanto tempo assim para chegarmos, havia muitos carros, caros, e as pessoas não tinham a aparência tão catastrófica quanto eu imaginava. A música começava a ficar cada vez mais alta e nítida à medida que íamos nos aproximando, Savanna se empenhou a me apresentar diversas pessoas, as quais pelas correntes de prata que usavam, me davam a entender que aquilo não era um simples racha, aquilo com certeza dava muito dinheiro. Nos posicionamos em frente a um dos limites permitidos perto da pista onde iriam correr e, duas garotas vestidas como ring girls ou coisa do tipo, desfilaram segurando cartazes que diziam, "Arrancada" e "Ponto a Ponto". A música foi interrompida e segundos depois um locutor começou a explicar tudo aquilo, dava pra perceber que apesar de ser ilegal, todos ali levavam muito a sério.

Os primeiros a correr fizeram a Arrancada, era apenas uma corrida reta em que o objetivo era cruzar a linha de chegada, e eu, para a minha própria surpresa, me encontrava bastante interessada naquilo. Quando finalmente o locutor voltou a falar, todas as atenções, inclusive a minha, se voltaram para a direita, onde seis carros todos esportivos e, sem dúvidas muito caros já estavam se posicionando.

– Como vocês devem saber, nessa temporada o ponto a ponto será disputado em equipes. Hoje teremos a apresentação de apenas dois grupos da competição para realizarem a abertura. Representando a equipe um, temos a McLaren, Audi R8, e BMW M5. Representando a equipe dois, Corvette, Ferrari F430 e Bugatti Veyron – assim que ele termina, o público se explode em aplausos, assovios e gritos.

– O Chaz está na equipe dois, só não sei em qual carro – Savanna diz empolgada sem tirar os olhos da pista.

Hum, isso quer dizer que os outros dois, Ryan e Justin também estão na equipe dois.

O ponto a ponto começa a ser muito mais emocionante que o anterior, o objetivo era voltar ao ponto de partida, mas antes era preciso passar por alguns obstáculos. O final foi bem acirrado, apenas dois carros estavam à frente, um preto e um azul chumbo, e apesar de não ter a mínima ideia de quem possa estar no azul, meus olhos o acompanhavam desde o começo. E então eles cruzam a linha de chegada, meus olhos mal podem identificar quem realmente foi o vencedor, até o locutor anunciar.

– Bugatti Veyron! Por 0,7 milésimos a McLaren fica pra trás! Senhoras e senhores – ele faz um momento de suspense e o público se cala em expectativa – queiram aplaudir a equipe campeã.

De repente um telão se acende, revelando um símbolo com a legenda "equipe 2", e em seguida a foto dos três representantes e.... Puta que pariu! Sinto meu estômago revirar com a foto do último integrante, olhos de um bronze intenso, cabelos perfeitamente alinhados em um tom de loiro e a legenda, "Justin Bieber".

Era ele. Era o mesmo garoto de horas atrás. Por um instante me sinto nervosa, com o coração batendo forte a ponto de disparar. Percebo que não estou ouvindo nada em minha volta, até que Savanna parada em minha frente, faz gestos tentando me despertar.

–– Lana, alô? Bem vinda ao planeta terra! Agora venha por que acabou por aqui, o lugar precisa ser esvaziado, por isso a comemoração será em um outro lugar perto daqui. Depressa!

E lá vamos nós novamente, aquela com certeza estava sendo a noite mais agitada da minha vida, e tudo que eu estava fazendo era ignorar por ficar pensando em um garoto que eu mal tinha falado e que por sinal não me pareceu ser muito receptivo.

Ah mas que diabos.

Assim que chegamos, a energia do local logo tomou conta de mim, música alta, luzes coloridas, bebidas, e garotos bem bonitos. Nem preciso dizer que uma pequena parte do meu cérebro se atreveu a compara-los com um certo alguém.

Mas que merda, talvez Savanna tivesse razão, eu deveria desistir de ficar com ele... Droga, eu realmente queria ficar com ele, um garoto que eu "conheci" apenas há algumas horas. Forçando-me a desistir de procura-lo, acompanho Savanna até a pista de dança e começamos a dançar rodeadas de gente ao som de Take It Off.

Perdi as contas de quantas músicas dancei, conseguindo de fato, não pensar em certos olhos bronze, até que senti que precisava sair dali, eu precisava de ar.

Me arrasto para fora da multidão e um pouco a minha frente, visualizo um barzinho iluminado apenas por uma luz azul fluorescente, reparo que o balcão possuí detalhes artesanais sobre a madeira escura muito bem cuidada, mas logo meu foco se direciona para as bebidas atrás do barman. Me sento no banquinho e o rapaz do outro lado do balcão se aproxima sorridente.

– Uma tequila, por favor – peço, retribuindo-lhe o sorriso.

Ah era muito bom respirar longe de todas aquelas pessoas, e agora sentada e relaxada, eu começava a sentir a dor subir pelos meus pés. Afasto meus cabelos dos ombros e sinto como se estivesse sendo observada.

– Boa escolha – um timbre rouco soa ao meu lado, viro-me para identificar o dono, a tempo de vê-lo repousar seu copo sobre a madeira, sem tirar os olhos de mim.

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