42 | Mereces um osso só por isso.

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"Tens que ir descansar."

"Você manda, senhora dona Safaa." Eu digo num tom de brincadeira, após deixar o fumo tóxico sair por entre os meus lábios gretados do clima inconstante que se tem verificado nestes últimos dias.

As minhas mãos estavam impedidas de se mexerem devido ao frio que se entranhava nos ossos e que me arrepiava o resto do corpo. Estou certo de que vou adoecer mas pouco ou nada me importa realmente.

A voz sussurrada da minha pequena irmã acorda-me para a realidade envolvente.

"Zayn?"

"Sim?"

"Tu tens uma namorada, não tens?"

Nunca havia feito referências com a minha família relativamente à minha vida amorosa mas estou ciente de uma mudança significativa de humor desde que efetuara a minha mudança para a universidade. Todavia, isso agora acabou e não tenho nenhuma vontade em falar sobre isso.

"Acho que devias ir dormir, Safaa. É mesmo muito tarde."

"Eu sei que devia, tens razão. Eu apenas queria saber, desculpa..."

"Não, eu não tenho namorada. Tu sabes que isso é muito impossível de acontecer."

"Eu sei, desculpa ter referido isso. Sei que tens um problema com o amor, mano, mas se tu me amas e não me magoas é porque consegues fazer o mesmo, não é?" Safaa pergunta a medo, como se estivesse a fazer menção a um tabu.

Ainda que as minhas irmãs tenham conhecimento do meu transtorno sexual, Layla e Safaa, as minhas irmãs mais novas, não conseguem compreender muito bem este assunto. Elas não costumam falar muito à minha frente pois sabem o quão incomodado eu normalmente fico.

"É complicado, meu amor. Devias ir dormir."

"Eu só quero que tu sejas feliz..."

"Eu sou feliz, princesa. Eu sou feliz contigo, com a mamã e com as manas."

"Eu quero que tu sejas ainda mais feliz, mano."

"Boa noite, princesa. Dorme bem..."

"Tu também."

As palavras repletas de inocência e de ingenuidade da minha irmã não me conseguiam sair da cabeça. Desde sempre me reprimira pela minha perversão até atingir a aceitação, que ainda não é uma fase instável em mim. Sinto-me enclausurado por não conseguir ter a mesma visão do mundo que a maior parte das pessoas tem.

Ninguém sabe o quão sufocante é desejar causar dor nos outros durante os momentos de prazer ou então desejar sentir esse sentimento de ardor, de tortura. Pedir a normalidade parece uma desejo muito impossível de se concretizar visto que, por mais tentativas que já tenha feito, não o consigo realizar. Além disso, a minha personalidade fria, arrogante e direta não contribui em nada para a criação de amizades e, ou, possíveis relacionamentos.

Coloco os fones nos meus ouvidos e, enquanto uma das minhas músicas favoritas sussurrava a meu ouvido, um cigarro queimava entre os meus dedos, tão já habituados do vício. Culpo muito os meus pais por não me terem criado num ambiente familiar favorável pois caso isso tivesse acontecido eu seria um homem normal e não estaria com este transtorno. Os meus pais guerrearam desde que me lembro, tento crescido por isso sempre rodeado de irregulares e instáveis sentimentos. Eles apenas se divorciaram após o nascimento de Layla, a minha irmã mais nova e, desde então, nunca mais vi o meu progenitor.

Não tivera mais nenhum contacto com mais nenhuma aluna, após a confrontação com Blair. Perdê-la fora como uma tempestade dentro de mim que me fizeram questionar o que estava errado e o que estava certo nos meus comportamentos. Não responder às provocações das mais novas fizera-me acordar para uma realidade, até à altura impensada por mim: elas não eram a Blair, por isso, não eram elas quem eu verdadeiramente queria.

Toxic 》 malikWhere stories live. Discover now