15. Passado, o corruptor

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Muitas vezes até chegar lá Jihyun já melhorava, suas crises não costumavam ser muito longas. Quando não, recebia alguns tranquilizantes. A médica que quase sempre estava de plantão quando Jihyun aparecia até mesmo reconhecia os dois irmãos, dando docinhos para eles depois do atendimento mesmo não sendo da ala pediátrica.

Ao melhorar, Jihyun ficava sem chão. Quando era de madrugada, iam comer em uma barraquinha de cachorro-quente ao lado do hospital antes de voltar pra casa, aproveitando o pouco movimento e a rua vazia para sentir um pouco de calma. Porém Jihyun sempre comia quieto. Detestava reconhecer que tinha perdido o controle. Que não era perfeito.

Jimin costumava pedir para que o Jihyun dormisse junto com ele naquelas madrugadas, temendo deixar o irmão mais velho sozinho. Fingia que caía no sono logo quando encostava a cabeça no travesseiro, porque sabia que Jihyun chorava muito naquelas noites e que detestava que os outros o vissem chorar. Dormiam pouco, logo tinham que acordar e Jihyun tinha que ir para o seu quarto, já que seus pais também reprimiam carinho e apoio entre os irmãos.

O resumo da casa do Jimin era: pais rígidos demais que acabaram criando um filho ansioso e o outro anestesiado.

Jimin não lembrava com detalhes de quando começou a ser comparado com o Jihyun, porque era algo que o perseguia desde o comecinho de suas memórias, até aquelas de quando era pequeno demais para esperar-se que atendesse expectativas em vez de brincar. Nunca era bom, nunca era o suficiente. Sempre era vergonhoso, imperfeito, incompleto.

Nunca teve um desenho torto de giz de cera que fazia na escolinha elogiado pelos pais. Eles nunca conseguiam enxergar os dois, Jimin e Jihyun desenhados ali, mesmo que o filho mais novo fizesse questão de explicar que tinha retratado a família no pedaço de papel. Isto é, isso quando Jimin conseguia mostrar algo, pois raramente estavam em casa.

A verdade era que não sabia se desejava ou não a presença dos pais. Ao mesmo tempo que temia a presença deles, porque sempre saía chorando de qualquer tipo de interação com eles, ainda eram a única referência que ele tinha. Se não fossem eles a validar o que fazia e suas atitudes, quem mais seria? Sempre tinha uma pequena esperança de poder sair sorrindo.

Mas não lembrava daquilo ter acontecido. Tudo era acompanhado por punições. Levou diversas palmadas, reprimendas e humilhações verbais por "ser bichinha demais", mas nunca soube pelo que, exatamente, ele estava sendo punido e humilhado. Afinal, como uma criança poderia avaliar feminilidade excessiva ou não em seu próprio comportamento? Invadir o quarto de seus pais enquanto eles estavam fora, buscando algum tipo de recorte deles que pudesse o acolher fazia parte de sua rotina. Brincar com as roupas da mãe, assim como as gravatas do pai, escondido, era algo tão natural para ele que simplesmente ficava confuso quando recebia punições. Ele não podia buscar os pais de outra forma?

Ficava de castigo se derrubasse comida sem querer durante o almoço, se conversasse demais sobre histórias que inventava na cabeça criativa de raciocínio rápido com os convidados da casa. Se ouvisse divas pop e ficasse entretido com as coreografias. E se estivesse com o cabelo bagunçado, e se não fosse o melhor entre os coleguinhas da escolinha, e se simplesmente existisse. Era esperado que fosse perfeito, e não uma criança.

E Jihyun, que sucumbiu à pressão que o casal Park botava nos filhos, permitindo que a criança que tinha dentro de si fosse enjaulada e suprimida, acabou virando um modelo para que Jimin seguisse. Uma lição para que ele aprendesse, uma referência para sua vida. Mas a primeira coisa que Jimin sentiu ao perceber aquela situação mesmo com sua compreensão infantil dos fatos não foi culpa por não ser igual ao Jihyun, e sim saudades de brincar com o irmão tão gentil.

Nunca tendo provado o gosto da realização por alguma coisa que tivesse feito na vida, mesmo com várias tentativas e muito esforço, Jimin simplesmente decidiu parar de tentar.

Empresário • jikookDonde viven las historias. Descúbrelo ahora