CAPITULO 1

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Kyara

Coloco a mão sobre a boca e oculto mais um bocejo, devolvo o sorriso ao rosto e finjo estar imersa na conversa com o senador Kelson, a conversa que antes tinha começado sobre os problemas que ele estava tendo acabou indo para a direção em que ele seria beneficiado por isso, e o seu tagarelar estava me deixando um pouco enjoada e a sobremesa em meu prato foi totalmente esquecida.


Com a visão periférica vejo o meu tio debatendo com os outros convidados da forma taciturna com a qual ele sempre lida, os outros assentem em silêncio e ninguém ousa tomar a palavra, a mesa longa e os ruídos do restaurante não deixam que eu escute o que ele está dizendo, e só o que eu escuto é a ladainha insistente de Kelson.


- O que me diz senhorita? – Ergo uma sobrancelha em dúvida e ele repete a pergunta com um gesto de mão impaciente – Acha que o seu tio irá atender os meus pedidos? Porque eu preciso do dinheiro para começar as melhorias nas escolas.


Inclino a cabeça para o lado e pego a taça com a mão direita, tentando ao máximo não revirar os olhos com a mentira explicita em suas palavras, bebo um pequeno gole do vinho e colocando a taça com cuidado sobre a mesa eu respondo com a voz mais suave que uma mulher inocente poderia ter.


- Tenho certeza que o meu tio pensará muito sobre seus pedidos.


É o suficiente para que ele dê um sorriso predatório e coma mais da sua sobremesa, enquanto eu finjo olhar com desinteresse o restaurante. O Narcise é um dos muitos restaurantes que tem a proteção de Alan Hoover, chefe da máfia Fallen Angels, dono dos maiores cassinos e meu tio.


Dentre todos os restaurantes esse é o meu favorito, as luzes são suficientemente claras o bastante para ver todos os movimentos, há espelhos por toda parte e os assentos são confortáveis e de onde estou dá para ver todo o restaurante em uma visão ampla. Essa noite o Narcise está lotado de pessoas, casais, idosos, famílias, todos eles reunidos em um só lugar, as vozes se sobressaem uma da outra o que me faz querer prestar ainda mais atenção a cada uma delas.


Mas não faço isso, volto os olhos para a mesa e vejo o meu tio me olhando, há uma pergunta em seus olhos, aceno sutilmente com a cabeça confirmando e ele se levanta pondo fim a discussão com os convidados.


- Creio que estamos resolvidos quanto aos problemas expostos – Colocando o guardanapo de pano na mesa, ele acena para todos – Agradeço por terem vindos.


Me levanto colocando o meu guardanapo na mesa, e dou um aceno rápido antes de ir até Alan que estende o braço para que eu o pegue, deslizo meu braço por sobre o dele e seguimos em direção a saída. Todos os olhos deslizam por sobre nós e eu mantenho a cabeça erguida, os seguranças abrem a porta e eu suspiro relaxada quando entramos no carro.


Tiro rapidamente os saltos e relaxo os pés, meu tio se senta ao meu lado e expira cansado.


- Essas reuniões são extremamente entediantes – Dou um sorriso de lado e fico observando os prédios que passam por minha janela.


- Kelson quer mais dinheiro


- Achei que sim – Vejo ele olhando para mim pelo reflexo e continuo olhando os prédios – Para que ele precisa de dinheiro agora?


- Escolas, pelo menos foi o que ele me disse


- Não acredita nele?


- Você acredita? – Devolvo a pergunta e olho para ele, Alan se encosta no banco de couro e fica me observando, suspirando dou de ombros e respondo – Não acredito em ninguém.


Ele assente satisfeito e se vira para frente de novo, vejo suas feições se endurecerem e o rosto ficar mais sombreado enquanto passamos por um túnel.


- Kelson não vai ganhar o dinheiro, e se insistir nisso você já sabe o que fazer


Alan não precisa olhar para mim e receber a confirmação, porque ele sabe e confia que eu irei fazer qualquer coisa que ele mandar, olho para a janela de novo e fico em silêncio por todo o caminho.


...


Estou tirando os brincos de esmeralda quando Ayla entra no meu quarto já de pijama. Ela caminha até mim silenciosa e começa a tirar todos os grampos que prendem o meu cabelo, relaxo na cadeira e deixo que ela termine, seus dedos são rápidos e firmes ao mesmo tempo.


- Como foi a reunião? - Sua voz soa baixinho no quarto e suas mãos continuam se movendo.


- Entediante – Ela tira o último grampo e eu me levanto, pego minha lingerie preta da gaveta e vou até o banheiro, me trocando rápido, meus pés doem e meu corpo pede um descanso – Deu tudo certo?


Volto do banheiro e a vejo sentada na minha cama de pernas cruzadas, ela assente e um sorriso aparece em seu rosto.


- Eles não sabem nem o que o atingiram


- Ótimo – Subo na cama e me deito suspirando aliviada, Ayla se vira para mim e pergunta desconfiada.


- Vai me falar porque roubamos a carga do chefe de Nova York?


- Eu precisava mais do que ele – Arqueio uma sobrancelha e digo com raiva – Além disso, o babaca precisava de uma lição depois de ter negado apoio a Las Vegas quando a máfia Italiana tentou invadir.


- Ele não deve ter ficado muito feliz – Vejo Ayla mexendo em seu celular rapidamente enquanto continua a falar – Era armas pesadas e bem caras.


- Pouco me importa o humor dele


Solto mais um bocejo e me viro de lado, minha mão toca o cabo frio da minha adaga debaixo do travesseiro, aperto de leve e a solto.


- Vai dormir aqui?


- Não, só vim anunciar que deu tudo certo – Ela se levanta mas para ao lado da cama – O Alan está sabendo?


- Não


- Achei que diria isso – Ela se vira e vai até a porta – Os garotos já voltaram, Alan nem percebeu como você mesma disse.


- Excelente – Minha voz está cada vez mais baixa, o sono está aos poucos me chamando.


- Faço a transferência das armas?


- Ainda não, quero ver a mercadoria


- Tudo bem – Ela abre a porta de leve e se volta uma última vez – Boa noite chefa.


- Boa noite Ayla.


Fecho os olhos assim que ela fecha a porta com um clique, tranquilizo a respiração e relaxo o corpo, e com a mão roçando o cabo da adaga eu durmo.

A Dama de FerroOnde histórias criam vida. Descubra agora