Saudades

390 23 11
                                    

Lúcia e Edmundo são os dois irmãos mais novos da família Pevensie. Isso, como todos os irmãos mais novos sabem, traz muitos privilégios e malefícios. Neste caso, uma situação péssima: seu pai conseguiu um emprego de verão no continente e levou Susana, a segunda filha, com ele e a esposa, para que ela achasse um marido e porque não havia condições de levarem quatro crianças. Pedro, o mais velho, foi levado ao chalé de Diggory Kirke, o professor que os abrigou há alguns anos no começo dos bombardeios em Londres. 

Com tudo isso, Lúcia e Edmundo foram parar em um dos piores lugares: a casa da tia Alberta e do tio Harold, pais de Eustáquio Clarêncio Mísero, seu irritante primo. 

Acontece que os pais acabaram ficando mais tempo nos Estados Unidos, até por conta da guerra, e os dois continuaram em Cambrige, aguentando a presença de Eustáquio todos os dias, por muito tempo, levando-os -especialmente Edmundo -ao limite.

E assim a sua vida correu por belos meses e os dois passaram a frequentar a escola do primo, suportando-o no caminho de volta para casa nos dias da semana. Esse é um desses dias. 

Edmundo cerra os punhos e revira os olhos, ajeitando a bolsa no ombro e olhando incrédulo para Eustáquio, que fala há dez minutos sem parar. Pior, em um monólogo irritantemente maçante. Lúcia, ajustando o chapéu que sua escola obriga as meninas a usar, afaga o ombro do irmão, indo para perto do primo:

-Eustáquio -ela chama, preparando-se para a resposta.

-O que é? -ele começa a murmurar, sem saber que os primos conseguem ouvi-lo -Alberta e Harold não deviam ter aceitado esses dois. Só trazem problemas, não conseguem notas boas, agem como se fossem adultos e não param de falar de Nárneo.

-Não é Nárneo, Eustáquio -Edmundo corrige, caminhando na frente dos dois mais novos -É Nárnia, seu idiota.

-Idiota? -o primo questiona, correndo até parar na sua frente -Não sou eu quem fica o dia inteiro murmurando sobre uma Amirah, sonhando acordado. Alberta disse que esta semana você levou uma surra por não estar prestando atenção na aula.

-O que você sabe sobre a Amirah? -Lúcia pergunta, entrando no meio dos dois, curiosa.

-Que o primo Edmundo fica o dia todo falando sobre ela e não faz mais nada da vida -ele abaixa o tom de voz, revirando os olhos e cruzando os braços como se fosse superior, mesmo que Lúcia e Edmundo sejam bem mais altos que ele -Que besteira, passar a vida sonhando com uma garota besta que nem aqui mora.

-Quem você chamou de besta, seu... -Edmundo não tem tempo de terminar a frase, porque uma garota de pele pálida e cabelos escuros como o seu aproxima-se do trio, carregando a maleta escolar enquanto caminha ao lado de duas outras meninas com olhos claros como os seus.

-Edmundo -ela chama, sorrindo de forma tímida. Lúcia corre os olhos por ela, com a confusão explícita no seu rosto. Eles ouvem risadas, as duas outras rindo da expressão da menina, que abaixa a cabeça e olha da garota para o irmão.

-Quem é essa? -Eustáquio pergunta, dizendo a palavra com nojo e inveja pelos olhares que ela lança ao primo.

-Agatha -o mais velho responde, assumindo uma careta que mostra desconforto total -No que posso ajudá-la?

-Ah, você sabe... -ela diz, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha em um movimento que deveria ser sedutor, se Edmundo não estivesse apaixonado -Eu estava com muita dúvida em matemática e eu vi que você sempre responde corretamente as perguntas da sra. Jones...

Ela não tem chance de terminar, porque Eustáquio dá um passo para frente, o vento bagunçando seu cabelo loiro, e pergunta:

-Não foi por não estar prestando atenção nessa aula que você levou uma surra, primo? -Edmundo nunca pensou que o garoto seria útil, mas sorri grato para ele e vira-se novamente para a garota. Eustáquio sai do caminho ao perceber que ajudou o mais velho.

As Crônicas de Nárnia: A princesa calormana [Em Revisão]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora