1.3 OPENHOUSE

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A casa estava cheia. Os amigos mais próximos com quem mantive contato desde a faculdade e o pessoal do trabalho ocupavam minha sala e cozinha, conversando alto por cima do som ambiente. Eram pessoas de todo o tipo, desde jornalistas sérios, que escreviam sobre ciência e política em jornais renomados, até meus colegas da Brilho, a revista para a qual eu trabalhava, que eram todos glamorosos e bem cuidados, com línguas ferinas e olhares de águia.

Nosso emprego exigia que fôssemos assim, sempre atentos a fofocas e vestimentas. Por mais incrível que parecesse, nossa revista tinha uma tiragem bem alta e, por estar sempre se reinventando, conquistava novos públicos a cada dia, enquanto as concorrentes sofriam a crise da mídia impressa. Isso nos orgulhava muito e nos fazia uma família.

Eu estava bastante cansada. Doida para encher a cara e esquecer o que me levou até ali, àquele apartamento, para início de conversa. Queria afogar minhas mágoas de todo um relacionamento na bebida e me divertir. Mas não conseguia desconectar, e estava sempre tentando agradar a todos, ser uma boa anfitriã, apesar da bagunça generalizada.

Estava presa em uma conversa embriagada com Victor, meu melhor amigo, que sempre exagerava em eventos como esse, sendo a rainha da festa, e minha amada chefe Zara, que procurava um lugar para se sentar e descansar os pés dos saltos altíssimos. Ela acabou se acomodando no meu sofá, mas algo pareceu chamar sua atenção, ao que ela debruçou-se para pegar algo próximo ao seu pé.

Parecia ser um papel dobrado, algo que deveria ter passado despercebido na minha busca por esconder a bagunça mais cedo. Já estava me oferecendo para tirar de sua mão e guardar o que quer que fosse, quando ela abriu e leu o conteúdo, parecendo agradavelmente surpresa.

— Ai, meu deus, Rebecca! — exclamou, divertida. — Os "13 Caras Que Eu Quero Pegar" — leu em voz alta, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor, que já abriam por si só sorrisos zombeteiros. Tive vontade de me esconder.

Aquela lista devia ter o quê? Uns 15 anos? Por que eu não joguei aquilo fora?

— Você tem uma lista já? Sua safada! — Victor exclamou, e logo a festa toda explodiu em um burburinho animado me pedindo explicações e fazendo piadinhas. Fiquei corada instantaneamente.

— Isso é obra da minha adolescência movida a hormônios, não é de agora. Eu não tenho culpa! — justifiquei, esperando que o assunto acabasse. Victor me olhou desconfiado e logo tinha a lista em mãos, passando os olhos claros pelos nomes ali contidos. Tentei tirar dele, mas meu amigo era alto demais e fez questão de colocar a folha onde eu não tivesse acesso.

— Gente! É o Bruno na décima terceira posição! — confidenciou a todos. Bem o que eu não queria, que lessem aquele nome em específico.

Mas era tarde demais. Logo todo mundo estava fazendo piadinhas sobre eu não ter me dado muito bem com aquele, que o número 13 dava azar, e que eu deveria tentar com números mais seguros. Mais adiante, próximos da cozinha, um grupinho da faculdade fazia um bolão sobre qual deveria ser o próximo alvo.

Escondi meu rosto nas mãos, rindo da minha própria desgraça. Agora, não via a hora da festa acabar ou de algum outro acontecimento bombástico tirar a atenção daquelas pessoas da ingenuidade da minha versão mais nova.

Felizmente para mim, parecia que aquilo estava para acontecer.

— Você faz o que você quiser, Line. Não é sempre assim? — Uma voz grossa percorreu o ambiente, parecendo bastante irritada. Bastou um olhar para que eu identificasse ser Bernardo, o então namorado da minha melhor amiga da época de faculdade. Ela tinha sua melhor cara de impaciência, a mesma que me deixava louca da vida quando eu estava para dar uns gritos e pôr pra fora o que quer que me irritasse.

Com uma classe ímpar, ela pegou sua bolsa no aparador e foi em direção à porta, alheia ao olhar investigativo dos meus convidados. Porém, antes de sair, parou do meu lado e me sussurrou um pedido de desculpas, explicando rapidamente que eles tinham acabado e que ela estava indo para casa. Eu acenei positivamente e perguntei se ela queria que eu chamasse um carro de aplicativo. Ela agradeceu e saiu, sendo seguida de perto pelo ex, embora fossem tomar rumos diferentes. Ela, para o elevador, e ele, para o apartamento da frente, uma vez que era meu vizinho.

Aquela parecia ser uma semana propícia para términos.

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