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Três dias se passaram e Fred ainda não tinha me ligado.

Estava fingindo ser uma mulher forte e independente, que eu não me importava e que não olhava para o celular de cinco em cinco minutos; uma mentira mal contada, claro.

Eu não saia de perto do meu celular, com medo de que ele mandasse qualquer sinal de vida e eu não conseguisse ver a tempo. Pensei em lhe mandar uma mensagem, mas achei que eu seria muito oferecida depois de ter arrastado ele pro banheiro da boate. Era a vez dele fazer algum movimento para equiparar a balança.

Depois das fatídicas quarenta e oito horas, eu mandei aquela lógica pro inferno e mandei a mensagem mesmo assim. Escrevi ela umas duzentas vezes e apaguei 199, até chegar em um "oi, sumido" ridículo e previsível, mas concluir que eu não ia conseguir fazer melhor do que aquilo com tanta coisa na cabeça.

E não obtive nenhuma resposta. Nenhuminha.

Se eu estava tentando disfarçar, significava que toda a redação já sabia que eu estava desesperada esperando a maldita ligação. Isso se devia ao fato de que meu melhor amigo era o rei das fofocas e que espalhara para todos que eu transei no banheiro de uma boate e que o cara ainda não tinha me ligado.

Grande amigo.

Mas eu sabia que era maior do que ele.

Kaila resolveu soltar piadinhas sobre eu ser uma putinha mal paga e que ele me ligaria quando recebesse o troco da passagem de ônibus, o que, de acordo com ela, era suficiente para me pagar. A filha da mãe se achava a melhor porque escrevia sobre dietas. Ela só não tinha percebido que as pessoas só faziam as dietas dela para transar mais com as dicas que eu escrevia na minha coluna!

— Cadê a sua dignidade? — Victor apareceu do nada na minha mesa e bem na hora que Henrique passava com um café, voltando da cozinha. Ouviu a pergunta de Ví, parou para olhar bem na minha cara (que eu estava tentando esconder atrás do meu biombo e do meu monitor, enquanto checava meu celular) e soltou uma gargalhada, antes de voltar para sua mesa, balançando a cabeça negativamente. — Solta isso agora!

Eu larguei o celular em cima do meu teclado e Victor deu a volta na minha mesa, pegando o aparelho e guardando dentro da primeira gaveta. Antes que eu lhe dissesse que não iria adiantar de nada, ele trancou e pegou a chave.

EI! Meus clipes estão aí!

— Mas eu...

— Você nada, piriguete, cala a boca! — Brigou comigo e eu fiz bico para ele. — Não vai ficar assim por causa de uma foda média. Vai lá atrás do número três e para de ficar aí se lamentando. Ao menos você foi metida por um gostosão uns dias atrás. Quer trocar? Eu aceito.

Acabei rindo com Victor e ele me deu uma piscadinha ao me ver abrir o meu editor de texto favorito.

— Isso, vadia, vai escrever! — Elogiou. — Sua chave vai estar com a Mirzan.

Antes que eu pudesse gritar "Não, com a Mirzan não!", ele já estava entregando a chave. Ele sabia que podia ser comprado com fofoca, mas Mirzan era incorruptível. Eu só teria o meu maldito celular de volta quando a louca quisesse, e ela não iria me devolver antes que eu estivesse superada da minha crise de inferioridade com a falta de ligação de Fred.

Resolvi que meu texto sobre A Ligação do Dia Seguinte seria o suficiente para convencê-la que eu estava curada e comecei a escrever feito uma louca.

Aparentemente sexo fazia bem pro meu trabalho.

Duas horas depois, eu estava com o esqueleto da coluna pronto e só precisava revisar e alimentar com as palavras certas, estatísticas que eu retirava perguntando para os meus colegas de andar e mais informações importantes retiradas do Google. E voilá, mais um sucesso!

Amor&SexoWhere stories live. Discover now