3.4 MERECIMENTO

291 13 1
                                    

No dia seguinte, cheguei mais uma vez atrasada na editora. Da minha mesa era possível ver Henrique se estabelecendo no seu próprio cercado, pendurando um quadro de cortiça cheio de fios de barbante coloridos, como um próprio CSI. Ele não tinha mentido quando disse que estaria na redação constantemente, tinham dado até um canto pra ele.

Joguei a bolsa em cima do teclado e me atraquei com os fios do telefone fixo, tentando acertar o ramal de Henrique. Três tentativas depois, ele se assustou com o toque.

Percebi sua careta confusa por ter sido desperto de algum texto que lia com muito afinco antes de pregá-lo na parede. Ele atendeu desconfiado, olhando para todos os lados, até fixar os olhos claros nos meus.

— Rebecca. — Ecoou, sabendo que só poderia ser eu quem o ligava.

— Sabe quem tem um encontro marcado para mais tarde? — Provoquei.

Ele não tinha dado a entender que eu estava muito bagunçada e oferecida pra conseguir o Evan? Pois bem. Queria que ele engolisse aqueles achismos.

— Ele mordeu a isca? Parabéns. — Seu tom não podia ser mais entediado e eu me irritei.

— Quem sabe ele não me morde. Vai me pagar um drink hoje, você sabe como o álcool deixa as pessoas mais dispostas... — Eu estava me gabando sim. Me processe.

— Boneca, você está confiante demais para alguém que claramente deixou de ler na pasta que o rapaz não bebe. — Henrique tinha os olhos apertados em deboche.

E aparentemente, tinha arranjado um novo apelidinho pra mim. Um que, eu tinha certeza, ia me irritar em tempo recorde.

Mas sua fala me atingiu de um jeito errado. Maldito Victor que tinha bagunçado todas as folhas, eu não podia sair com o homem sem aquela informação.

Bufando, eu desliguei o telefone com tudo e me levantei. Henrique ainda tinha a mão massageando o ouvido pelo som do baque quando eu puxei uma cadeira para perto de sua mesa.

— Tá. Você venceu. O que eu faço? — Meu tom era derrotista, mas, principalmente, irado. Eu me lembrava de Mirzan e seu jeito permanentemente mal humorado.

— Não sei se você tá merecendo que eu te ajude. — Henrique esnobou, arrumando as folhas em cima de sua mesa, como se pouco importasse a minha presença ali.

Mas eu conseguia ver que ele prendia o riso. O maldito.

— Vai! Me fala de uma vez e para de ser tão impossível. — Bati em seu ombro, cansada do jogo de gato e rato que fazíamos.

Só porque eu estava perdendo, claro.

Ele me encarou durante alguns segundos, com jeito de quem queria me decifrar. Boa sorte, querido.

— Tudo bem. — Suspirou. — Você pode fazer o seguinte... — Só então ele finalmente me deu um plano para conquistar Evan, embora ainda relutante.

Deixei sua mesa me sentindo completamente pronta. Meu primeiro texto para esse especial ia valer todo o dinheiro que Zara estava investindo em mim e, mais importante, toda a paciência que eu estava torrando tendo que aguentar o investigador metido.

Amor&SexoWhere stories live. Discover now