Capítulo 15 - Vestidos

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Duas semanas se passaram desde o incidente da biblioteca.

Ninguém notou nossa ausência naquela noite e ninguém soube o que aconteceu. Dulce encontrou seu sapato, Julie reclamou dos pés doíam no dia seguinte, Hastiel confessou que foi dormir logo após nossa conversa e até mesmo Daina disse que a noite havia sido agradável.

A única pessoa que pareceu notar que eu não estava em meu próprio baile foi Peter, que me enviou um bilhete alguns dias depois:

"Espero que a senhorita não precise usar saltos novamente, as ingratas escadarias deste castelo poderiam causar um acidente sem volta. Fui escalado para a ronda noturna em seu andar, se precisar de algumas aulas de etiqueta não hesite em me chamar, mesmo que só as utilize nos bailes que abandona."

Achei graça no bilhete e o guardei dentro de uma caixinha.

Passei a maior parte do tempo daquela semana acompanhada por Julie. Ela me apresentou cada centímetro do castelo e eu tive certeza que me perderia se me aventurasse a caminhar sozinha.

Geralmente tomávamos café da manhã no próprio quarto, mas nosso almoço era servido em uma pequena sala, junto com os demais serviçais. Nunca encontrava Peter nestas situações, Julie dizia que ele nunca almoçava.

O reino de Lúcifer era incrível e reproduzia diversas paisagens do mundo mortal. Haviam florestas, lagos, jardins coloridos repletos de flores e até mesmo alguns animais. 

Explorei cada centímetro que pude do lugar, esquecendo-me de todos os riscos que corria ali. Na verdade, eu estava começando e me esquecer de tudo.

Naquele dia Julie, entrou apressada em meu quarto:

- Senhorita!

Eu ainda dormia e tive dificuldade de entender o que estava acontecendo:

- Senhorita, acorde. - os olhos da dama brilhavam.

Espreguicei-me preguiçosamente e abri os olhos. Julie afastou as cortinas e uma rajada de luz preencheu todo o quarto, me fazendo cerrar os olhos:

- O que foi, Julie? Para que tanto alvoroço logo cedo?

- O Anjo pediu que a levasse imediatamente até a ala da costura.

Lúcifer. Desde nossa discussão ele nunca mais aparecera, não o vi em lugar nenhum e nem mesmo tive notícias suas, essa era a primeira vez que sua menção paraiva no ar:

- E o que tem de tão empolgante nesta informação que não poderia esperar meu sono de beleza?

- A senhorita vai entender assim que chegar ao salão dos vestidos. 

Ela colocou rapidamente a mão na boca, como se não devesse ter dito aquela frase. Julie era uma menina caricata e isso me agradava imensamente, certamente ela se daria bem com Clarissa.

Dulce me trazia notícias constantes sobre minha irmã, sempre com o mesmo conteúdo: ela está bem, fora de perigo e parece feliz. Essas informações me deixavam tranquila, mas não me confortavam, era como se ela não sentisse minha falta.

Eu também não tinha o direito de reclamar, eram raros os momentos em que eu me lembrava dela, de meus pais e até mesmo de Bruno.

Senti um aperto na garganta e uma vontade intensa de estar com ele novamente. Bruno era muito além de meu namorado, era meu melhor amigo.

Não era fácil ser uma caçadora, esse fardo me privou da maioria das coisas que as outras crianças tinham. Bruno também era criança, também era caçador e isso nos aproximou.

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora