Capítulo 29 - Portas

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Mais uma vez estávamos no corredor mal iluminado, que naquele momento parecia mais úmido e escuro que de costume.

Peter caminhava a minha frente sem dizer uma só palavra, o som de nossos passos ecoavam pelas paredes de pedra.

Chegamos ao ponto do corredor onde estive Lúcifer dias atrás, mas dessa vez não haviam vozes, tudo emergia em um silêncio aterrorizante.

O guarda parou de andar:

- A partir daqui tome muito cuidado, O Anjo encantou cada centímetro do que existe a frente para que ninguém pudesse entrar.

- Seria mais fácil se você simplesmente me dissesse o que me aguarda.

- Receio não ser a pessoa indicada para tal, só estou aqui para evitar que sua frágil existência seja destruída por um desejo tolo.

- Não é tolice. – franzi as sobrancelhas. – Faz parte da minha missão e sem ela eu jamais poderei fazer algo por vocês.

- Apenas a senhorita não percebe que é impossível se manter fiel a duas ideias.

- Irei até meus limites.

- O Anjo precisa ser salvo para que nos liberte dessa prisão, mas para tal é preciso estar ao seu lado autenticamente. – Peter aproximou-se de mim e segurou minhas mãos. – Temo que sua família busque uma forma de mata-lo.

- Lúcifer jamais será honesto comigo, preciso conhecer tudo o que há de pior para saber que poderei ajudá-lo.

- O lado sombrio da Estrela da Manhã pode cobrir sua luz com trevas.

- Eu não posso lutar por algo que desconheço e muito menos interceder por ele sem ter qualquer argumento.

- Só peço que não se esqueça de suas palavras ao cruzar esse corredor.

- O que existe de tão terrível assim?

Peter não respondeu, ao invés disso caminhou até a parede e tirou uma tocha que estava presa em um suporte.

A luz do fogo era insignificante perto da escuridão que veio a seguir.

Começamos a nos distanciar cada vez mais da entrada do calabouço e conforme andamos tive a impressão de sentir a temperatura cair 10º. Alguns passos adiante e eu já conseguia ver minha própria respiração.

O frio era agudo e me fazia bater os dentes, mas o guarda não se alterava.

Quando já não era possível sentir meus pés, tive que parar por alguns instantes e Peter veio a meu encontro:

- Está tudo bem?

- O frio está insuportável. – respondi, batendo os dentes. – Você não está sentindo?

- Não está frio.

Levei minha mão até o rosto do guarda e ele não se abalou:

- Estou congelando.

- Na verdade, seu toque está na temperatura habitual.

- Isso não é possível.

- Provavelmente é algum encantamento. – Peter me entregou a tocha e tirou seu casaco. – Vista-o.

Abracei a blusa e coloquei em volta do corpo. Como o guarda era bem mais alto que eu, seu comprimento era maior que meu vestido e me deixava desengonçada:

- Posso dizer que será a nova tendência no reino. – dei uma voltinha e pisquei para Peter.

O guarda riu alto e sua risada ecoou pelo corredor:

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora