Capítulo 30 - Verdades

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Lúcifer me encarava com uma paz excessiva no olhar e eu estava desconcertada.

Senti meu corpo estremecer, tinha que ser cuidadosa quanto a minha identidade, ao mesmo tempo precisava agir de alguma forma:

- O que te aflige?

- Não se faça de idiota. – meu sangue ferveu.

- Que deselegante.

- Qual o seu problema?

- Você explora meu castelo em locais que avisei que não deveria ir e pergunta se eu tenho algum problema?

Estava tentando não me deixar irritar pelas palavras dO Anjo, mas era impossível conter minha raiva. Caminhei até ele e me aproximei até sentir seu hálito doce:

- Existem almas vivas atrás dessas portas, se é que posso dizer que estão vivas. – respirei fundo. – E sabe-se lá quantas já não pereceram neste reino de horror!

- Todas as imagens do Inferno prevalecem sobre esse solo, você já sabia disso.

- Eu prometi ajudá-lo, jurei que ficaria por toda a eternidade se isso fosse uma forma de transformar seu coração imerso em trevas.

Silêncio.

Todos mentiram para mim.

Peter me fez acreditar que estava louca ao pensar que almas de caçadores poderiam existir neste reino. Hastiel se mostrou um general honrado enquanto perdia seu tempo torturando minha família.

Quem mais sabia deste local? Lúcifer pelo menos havia sido honesto ao dizer que não ficaria exatamente satisfeita com o que iria encontrar.

E meu correspondente, como ele sabia a atrocidade que me depararia? Não havia explicações para nada, se era de seu conhecimento ele quem deveria ter feito algo para mudar a situação.

Eu não era a salvação, eu só era uma garota.

Não existe dor maior que a da solidão, de sentir-se abandonado e só em um universo repleto de pessoas prontas para deixa-lo. Era assim que eu me sentia depois de ter confiado em todos, depois de acreditar que talvez fosse possível salvar alguém.

Minha visão romantizada era patética, eu mal podia me salvar.

Lembrei de ter prometido a Peter que não desistiria mesmo após cruzar aquele corredor, mas ninguém havia sido honesto comigo, porque eu deveria honrar minhas promessas?

Um turbilhão de pensamentos consumia minha mente:

- Como eu posso acreditar em vocês? – meus olhos marejaram. – Como eu posso acreditar em mim, se tudo o que ouvi era uma farsa.

- Senhorita...

- Cale-se Peter. – O Anjo não alterou seu tom de voz.

- Não dia a ele para ficar em silêncio quando o que eu mais quero são respostas.

As lágrimas desenharam o contorno do meu rosto e pingaram no chão. Levantei os olhos e encarei Lúcifer:

- Agatha, por que se importar com essas almas?

Senti Peter e Hastiel congelarem no lugar onde estavam, mas eu já tinha meu discurso pronto:

- Porque ao contrário de você, existe humanidade em mim. – tentei manter a voz firme. – Meu coração bate acelerado ao me deparar com o sofrimento de qualquer ser, até mesmo de você já me compadeci.

- Não é meu desejo que tenha pena de minha condição.

- Você se engana ao pensar que meu sentimento é tão medíocre, compaixão é uma atitude nobre e muito rara de se encontrar, minha empatia é tão real quanto o que vivencio e me toca profundamente.

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now