Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)

Capítulo 3 - Escolha

(quero dedicar esse cap. a @bela_chan, que me motivou a virar a madrugada escrevendo <3)

Clarissa não teve uma reação positiva a notícia, a nenhuma delas. Achei severo e injusto impor apenas o treinamento como uma solução viável para o problema e deixei aberta a possibilidade para que ela continuasse uma vida normal, longe de nós.

Eu tinha plena consciência que a segunda opção seria muito atrativa, Clarissa gostava de se envolver com o mundo das sombras, mas dava um valor indescritível para sua rotina mundana.

Gostava de ir ao shopping, virar a madrugada estudando para testes do colégio ou apenas usar seu celular para trocar SMS com seus amigos.

Eu também tinha um celular, mas só trocava mensagens de texto com caçadores e nem sabia se podia chamá-los de amigos. A maioria fazia parte de minha família, próximos ou não.

Os demais faziam parte da linhagem dos Delpolos, o que também não deixava de ser minha família.

Sempre tentei preservar Clarissa dessa situação. Quando soube que minha mãe estava grávida me escondi no quarto, dentro do guarda-roupa e fiquei observando o escuro. Meus conseguiram me encontrar após algumas horas, visivelmente preocupados.

Eles pensaram que eu estava com ciúmes ou medo de ser menos amada e iniciaram uma conversa constrangedora sobre como eles sempre seriam meus pais e eu nunca perderia meu lugar no coração de ambos, mas eu os interrompi:

- Não mamãe, eu não estava me escondendo. - olhei para minha mãe determinada.

- Então porque entrou no armário querida?

- Porque tenho medo do escuro, é de lá que vem os monstros... e eles existem! – respirei profundamente. – Mas para ter um irmão e não deixar que ele lute com os monstros eu tenho que ser mais forte.

E deixar de ter medo do escuro, acrescentei mentalmente.

Foi uma cena comovente, mas eu falava realmente sério. Não imaginava o que sentiria por Clarissa: ciúmes, amor, medo, afeto... Mas de uma coisa eu tinha certeza, não desejava que ninguém passasse pelo que passava.

Os monstros do armário, demônios embaixo da cama e olhos vermelhos no escuro eram histórias reais para mim.

Também gritava minha mãe quando tinha medo, geralmente porque eles realmente apareceram em meu quarto e ela vinha correndo para mostrar como eu deveria me proteger.

E eu tinha um medo infernal de cada uma das criaturas que insistia em aparecer embaixo da cama, dentro do armário, nos becos escuros, no vão da escada de casa; os demônios sempre descobriam uma forma de me encontrar.

Clarissa presenciou centena de vezes sua irmã mais velha sair para protegê-la e destruir todos os visitantes indesejados. Eu, por minha vez, perdi o medo por não poder tê-lo mais, afinal, uma criança dependia de mim.

Parece cruel o treinamento para se tornar um caçador das sombras, mas os pequenos demônios travessos que vinham me assustar não chegavam nem perto do que estava por vir, meus pais tinham razão em me preparar.

Com o passar do tempo comecei a enfrentar criaturas cada vez mais fortes até ganhar meu arco, que posso chamar de melhor amigo sem remorso algum.

No dia que meu pai me presenteou com flechas verdadeiras, certo que minha mira já não era um risco de vida aos caçadores ao redor, tiver a oportunidade de matar meu primeiro demônio adulto, eu tinha doze anos e nunca me esqueci da data que mudou minha vida para sempre.

Existem dois tipos de demônios, os pequenos e os adultos. Chamamos assim por dados de realidade, já que no caso dos primeiros não costumam medir mais do que sessenta centímetros.