Capítulo 8 - Meias verdades

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Olho para os lados antes de começar a contar minha história. Teria que ser um relato rápido e completo, que fizesse valer a pena o voto de confiança de Dulce.

Tentei se breve, mas Dulce pedia detalhes sobre cada situação que eu contava e por diversas vezes levou a mão a boca.

Ao final ela parecia chocada:

- E você estava indo levar sua irmã para quem mesmo?

- Um amigo do meu pai, que era caçador.

- É o mesmo que teve a família morta por uma legião?

- Sim, mas não sei detalhes, meus pais não pareciam muito a vontade de falar sobre o assunto.

- Eles ficaram tristes com o que aconteceu?

- Imagino que sim, minha mãe e Stela eram melhores amigas, seria estranho se não ficassem.

Dulce concordou com a cabeça:

- E o garoto que estava com você? É seu namorado?

- Mais ou menos. - corei - É complicado explicar.

- Tudo bem, temos questões mais importantes agora.

Meu coração disparou com a menção do problema no qual eu havia me metido:

- Não consigo pensar em nada.

- Imaginei que não. - ela sorriu - Acho que O Anjo será compreensivo com uma doce menina que viu um garoto caído no chão e acidentalmente foi atingida pelo trem que estava reservado para ele.

- Não consigo pensar em um mundo no qual Lúcifer acredite nessa história.

- É uma mentira?

Por um minuto pensei em responder que sim, mas quando parei por um segundo percebi que não era.

Na verdade, a história não tinha nada de diferente disso, exceto o fato da doce menina.

Por mais que parecesse um plano totalmente tendido a falhar, era minha melhor opção e Dulce parecia conhecer Lúcifer muito bem.

Um barulho no andar de cima nos assustou:

- Já deve ser dia.

- Como vocês tem noção de noite e dia estando embaixo da terra?

- Logo você vai descobrir. - ela piscou - Venha comigo.

Levantei sentindo as pernas doloridas pelo longo tempo sentada, não conseguia mensurar quantas horas haviam se passado desde que cheguei ali, mas certamente não eram poucas.

Dulce subiu as escadas que levavam ao térreo e eu a acompanhei em silencio. Antes de sairmos ela passou uma corda ao redor de meus pulsos:

- Faz parte do regulamento, querendo ou não você ainda é uma prisioneira.

Dei de ombros e estiquei os braços, não estava em condição de argumentar.

Se sobrevivesse ao encontro com Lúcifer voltaria todos meus esforços em fugir, mas para isso eu precisava ser convincente na minha meia verdade.

Dulce me conduziu até o centro da cidade novamente e eu pude entender a diferença do dia para a noite, o Inferno estava tao claro quanto um dia ensolarado.

Luzes irradiavam por todo lado e eu cheguei a me questionar se havia algum lugar ali imune a toda aquela iluminação.

Não havia céu, de fato, mas também não se conseguia enxergar o teto que era visível na noite passada. Eu não podia discutir, As Sombras eram lindas e uma ironia ao seu nome.

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now