Capítulo 14 - Poeira e Traças

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Voltamos para o quarto andar. 

O corredor de tons pêssego voltou a minha visão e de repente eu me senti cansada. Pensei que Lúcifer fosse até meu quarto, mas passamos a porta e uma pontada de insatisfação preencheu meus pensamentos, minha cama estava se distanciando e eu realmente desejava dormir.

Passamos pela sala de reuniões e mais alguns outros cômodos até chegarmos ao final do corredor. Não me surpreendi ao observar mais uma porta adornada com uma serpente e asas disformes:

- Este é meu quarto.

Era interessante pensar que Lúcifer tinha um quarto. Na verdade, era até mesmo surpreendente imaginar que o Anjo da Luz tinha uma vida, rotinas, amigos e outras pequenas trivialidades que compunham o mundo.

Ele também tinha seu mundo. Afastado de sua casa, agindo contra minha família e fugindo dela, consequentemente.

Todos nós sempre estávamos absorvidos em algum tipo de missão pessoal que nos distraía em nossa existência, pensar demais sobre isso poderia causar sérios danos, pois chegaríamos a triste conclusão que estávamos passando tempo.

Ainda estava perdida neste pensamentos quando percebi que O Anjo me observava:

- Sinto muito. - disse a ele. - Estava longe.

- Meu reino por seus pensamentos.

Sorri sem vontade e não respondi. Ele também não esperou nenhuma resposta:

- Agora que está novamente nesta realidade, gostaria de expor algumas regras que necessariamente devem ser seguidas.

Assenti com a cabeça e ele continuou:

- Ninguém acessa meu quarto, exceto Daina e sob minha supervisão e você também só terá acesso ao cômodo quando eu estiver presente. Nada do que você ver aqui poderá ser comentado com ninguém e para evitarmos discussões, não faça perguntas.

Um pouco autoritário, não era nem um desejo meu conhecer o quarto de Lúcifer, mas qualquer coisa era melhor que a festa ou ser ameaçada por alguém. 

Ele me olhava como se esperasse uma resposta:

- Concordo com suas regras.

- Devo deixar claro que você entrará em meu quarto somente porque é a única forma de adentrarmos onde pretendo levá-la, mas trabalharei nos próximos dias para modificar essa logística.

Ele abriu a porta para o cômodo menos majestoso do castelo e eu fiquei confusa. 

O quarto de Lúcifer era bem mais escuro que qualquer lugar daquele reino, não havia nenhuma janela a vista, apesar de minha suspeita que atrás das pesadas cortinas de tecido pesado e escuro, uma delas se escondesse.

Uma cama de casal rústica era o móvel de maior deslumbre do local. Sua madeira era tão escura quanto as cortinas, adornada com detalhes dourados nas bordas laterais. A colcha completamente branca estava coberta por dois travesseiros e uma almofada da mesma cor dos detalhes da cama.

O guarda roupa logo a esquerda também era de madeira escura e a única quebra na uniformidade da cor eram os puxadores das portas e gavetas, que desenhavam o mesmo símbolo das portas em um tom de ouro envelhecido.

O lustre era pequeno e proporcionava uma iluminação fraca. 

No chão havia um felpudo tapete preto que cobria boa parte do centro do quarto. Um sofá de couro ficava logo abaixo de uma prateleira com alguns livros, próximo as cortinas e a seu lado a mesinha de canto sustentava um abajur simples.

Fora isso não haviam outros móveis do quarto, era um cômodo vazio de luz e até mesmo de vida, não parecia um lugar agradável para dormir.

Queria perguntar porque o cômodo era tão contrastante com os demais locais do castelo, seja pela simplicidade da decoração, seja pela falta de luminosidade ou pela sensação incômoda de estar oco por dentro, mas esta atitude iria contra as regras.

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now