Capítulo 6 - Fuga

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  • Dedicado a Paula Marcuzzo
                                    

Bruno acelerou o carro pela estrada de pista simples que levava a uma cidade do interior de Santa Catarina, nossa melhor salvação era abandonar o carro e nos refugiar em algum local sagrado - que nem sempre eram as igrejas.

Tentei mentalmente recordar das aulas de geografia que Tio Billy me dava nos momentos vagos, mas o nome Lages não estava entre as cidades que caçadores residiam, estávamos sozinhos.

Desviei momentaneamente os olhos do Fiat, que agora eu reconhecia como um Punto, e observei Bruno. A tensão estampada em seu rosto fazia com que ele apertasse o volante, saltando os músculos e as veias em seu braço.

Olheiras começavam a aparecer e isso me preocupava. Mesmo com o descanso da última noite, Bruno havia passado um dia inteiro dirigindo, parando apenas para comermos em algum posto, sem cansaço era inevitável e isso poderia ser um problema quando tivéssemos que correr.

E não era uma possibilidade, certamente nós precisaríamos fugir a pé, o esportivo importado de cor azul que estávamos dirigindo era chamativo demais para possibilitar qualquer possibilidade de nos escondermos, abandonar o carro era a solução mais sensata.

Clarrisa também parecia assustada. Talvez fosse melhor explicar o que estava pensando para que pudéssemos traçar uma rota de fuga:

- Precisamos deixar o carro e seguir a pé, eles não vão parar de nos perseguir enquanto estivermos aqui e se descermos em qualquer lugar sagrado, mesmo que eles não se aproximem, a regra não vale para qualquer tipo de armamento.

- E eles nunca andam desarmados. - completou Bruno. - Mas não acho inteligente que nós três abandonemos o carro. Vai ser muito difícil despistá-los e já estamos dentro da cidade, não podemos arriscar a vida de outros humanos.

- E qual sua idea?

- A legião está perseguindo a mim, então eu os despisto e você leva Clarissa para um local seguro.

- Missão suicídio? - respondi sem olhar diretamente para ele.

- Podemos escolher entre missão suicídio de um ou missão homicídio, só que na segunda morremos todos.

Não fiquei satisfeita coma resposta:

- Pelo menos vamos despistá-los, as ruas aqui não são duas mãos, talvez a gente consiga.

- Ok, mas você dirige, se não der certo eu salto do carro e levo eles para outro lugar.

- O que te dá tanta certeza de que não vão seguir a mim e Clarissa?

- Eles acham que eu estou com o manuscrito.

Olhei para Bruno com um ponto de interrogação no rosto:

- Desculpe Agatha, tem algumas coisas que ainda não posso te contar. 

Por um momento lembrei da imagem de meu pai com uma folha amassada em mãos, mas ela desapareceu quando Bruno virou bruscamente em uma rua estreita da pequena cidade. Pude ver ao longe o Punto seguindo em linha reta, sem conseguir continuar nos seguindo:

- Clarissa, segure o volante, Agatha e eu vamos trocar de lugar.

Minha irmã, que até agora estava em silêncio, reagiu imediatamente:

- Fico feliz de poder ajudar em alguma coisa. - a voz de Clarissa saiu fraca.

- Essa é a parte emocionante de ser caçador. - respondeu Bruno. - Trocar de assento em um carro numa velocidade de uns 110km/h dentro de uma cidade de interior.

Ela esboçou um sorriso e meu coração acelerou com a delicadeza de Bruno:

- Talvez eu devesse reconsiderar a ideia do treinamento. - ela respondeu, pulando por cima do banco e agarrando o voltante com as duas mãos.

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora