A Série Stay With Me: Next To You (Livro 1)

Capítulo 20 : Com fome, Madame?

Duo

Depois do ocorrido, um enorme guarda-roupa vetava a entrada do antigo vestiário dos funcionários (todo destruído pelo tornado). Por sugestão de Lena, Adam havia colocado o armário Veneza lá — como uma espécie de escudo protetor, distanciando-os do tenebroso mundo a fora. No fundo, sabiam que de nada adiantaria. Se algo tivesse de acontecer, iria acontecer. Mas a falsa sensação de segurança ajudava.

De frente ao janelão que dava para a marcenaria Jings & Jills, sentados a uma mesa redonda no refeitório, rodeado por múltiplos restaurantes (desde mexicanos a tailandeses), Adam e Lena refletiam. Ambos a seus modos.

— Você está bem? — Perguntou ela, cortês. Após reparar que Adam encarava-a, charmosamente.

— Foi aqui, não? — Sentado ao seu lado, Adam esperou o momento certo para descansar os braços nos ombros de Lena. Uma vez feito isto, ele apertou-a contra si.

— Aqui o quê? — Respondeu ela com outra pergunta, totalmente confusa. Tentando, miseravelmente, desvencilhar-se do toque do rapaz.

— Que começaram nossos flertes. — Respondeu Adam, relembrando-a do dia anterior, quando eles tiveram a primeira conversa após ela acordar. Lena tinha explicado o que havia acontecido em Birmingham. Minutos antes de irem assistir ao telejornal, e tardiamente visitar a seção de roupas (quando Adam instigou-a a roubar).

— Eu não diria que eram flertes.

— Agora são?

— Eu não diria que são flertes. — Disse Lena, rapidamente. Corrigindo-se.

— Alguma coisa há de ser.

— Por que não chamamos de divergências opinativas?

— Se é como vocês meninas-na-defensiva chamam 'estar apaixonados' hoje em dia, por mim tudo bem. — Provocou ele, como se fosse um cara bem mais velho do que aparentava ser.

Lena enrubesceu.

— Não estamos apaixonados um pelo outro.

— Tá! — Disse ele, não parecendo convencido da afirmação.

— Tá o quê?

— Eu só disse um simples tá! Só isto. Tá é tá.

— Isto mesmo. — Disse ela, a voz fraquejando. Aos poucos, Lena perdia-se gradativamente nos olhos verdes esmeralda de Adam. — Tá! — Repetiu a interjeição, sentindo-se nas nuvens.

O lindo rosto de Adam se iluminou com um sorriso malicioso. Sua face chegando mais perto da dela, como se fosse roubar um beijo:

— Vocês, garotas, sabem como partir um coração. — Resmungou ele.

Lena olhou para Adam, e engoliu em seco, quando ele avançara mais ainda em sua direção. Agora, os dois podiam sentir o hálito um do outro.

— Mas só diga por você. Não pode, e nem tem o direito, de avaliar meus sentimentos. — Sussurrou ele, em seu ouvido. Ele grunhiu suavemente para ela, perto de seu lóbulo, e depois voltou a encará-la direto nos olhos.

— Muito menos você os meus.

— Está certa. Então deixemos, aqui e agora, as coisas bem claras. Você não sente nada por mim...

— Isto.

—..., mas quanto a mim... há controvérsias.

— Fique quieto.

Adam encarou-a de cima a baixo, e franziu a testa:

— Ué? Eu também sinto sentimentos por mim. Eu sou gato demais. — Adam piscou o olho para Lena. Ele estava, obviamente, segurando-se para não rir. — O que foi? Pensou que eu estivesse me referindo a você? Que prepotência.

— Cala a boca! — Pediu ela, envergonhada. Em estado de extrema luxúria, sua voz soou lenta e vaga.

— Só estou dizendo que enquanto você, a rainha do fingimento, estiver agindo como se não estivesse rolando nada entre a gente... Também farei o mesmo.

— Mas, eu..., mas... Eu não estou fingindo nada.

— Tudo bem. — Adam fez que sim com a cabeça, e para o desprazer de Lena, distanciou-se. — Sem pressão. — De pé em frente à mesa, e de Lena, continuou: — Que tal comermos algo? Temos muitas variedades. — Disse ele, examinando a praça de alimentação por completo. Apesar do tornado, o sistema de luz estava funcionando a mil maravilhas e todo o ambiente estava iluminado; dando a energia necessária para os freezers e equipamentos domésticos funcionarem (impedindo de que a comida estragasse).

Adam transferiu o peso para o outro lado do corpo, esperando a resposta de Lena.

— Não estou com fome. — Devolveu ela. Adam olhando-a desconfiado.

— Também não. — Mentiu ele, ironicamente. A barriga tanquinho roncando. — Mas precisamos nos alimentar. Não comemos nada hoje.

Com um brilho nos olhos e uma piscadela, ele se foi. Indo em rumo a uma barraquinha de doces, no meio do salão.

— Que tal um sorvete? — Indagou Adam, abrindo a portinha que delimitava o espaço entre vendedor e cliente. — Pistache e morango? — A pergunta o fez lembrar-se de Selena, a casquinha caída ao chão e o tapa que recebera no rosto, na manhã de antes de ontem. — Talvez... Uva? — Prosseguiu ele, na tentativa de desconectar-se da lembrança.

Lena levantou, com dificuldade. Adam ameaçou ir de encontro a ela, mas Lena negou a ajuda (pedindo para que ficasse onde estava).

"Eu dou conta", pensou Lena. "Pelo amor de Deus, eu dou conta do recado".

Eles se encararam por breves segundos e, então, Lena começou a andar em direção a barraquinha.

— Eu pago! É tudo por minha conta. — Anunciou ele, antes que ela tivesse chance de protestar.

Ohh, e ela já estava pronta para aquilo. Protestar era um de seus dons e hábitos.

— Já tem algum sabor em mente? — Adam colocou as mãos sobre a bandeja metálica da barraquinha (deixando, acidentalmente, o dedão escorregar para o pote sabor maracujá). Quando Lena chegou, ele se inclinou para ela, esperando-a decidir.

— Este aqui! — Como uma criancinha, ela apontou o dedinho indicador mostrando qual sabor escolhera; deixando a marca da impressão digital estampada no vidro de proteção.

Adam tirou a carteira do bolso, e em seguida apanhou a tabela de preços; ao lado da caixa registradora. Procurando pelo sabor que ela apontara, Adam arqueou uma das sobrancelhas (mal piscando):

— O mais caro de todos?

Ela o encarou, e sorriu, quebrando a relutância do rapaz de cabelos loiros como o sol.

— Aqui está, Madame! — Falou ele, despejando com a concha três bolas num potinho de plástico (assim como o ordenado na tabela de preços). — E que nunca digam que Adam Craig negou o pedido de uma linda dama. — Acrescentou, depositando o dinheiro e algumas moedinhas no guichê.