Capítulo 11: Ela disse, Ele disse

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Duo

Na primeira noite juntos, ambos decidiram não dormir. Confiantes de que o resgate viria a qualquer momento. Mas enquanto as horas passavam, Adam foi o primeiro a perceber que ficariam muito tempo presos dentro do Pare & Compre. Lena era inocente demais para notar aquilo, e ele não queria destronar as esperanças de sua salvadora. Afinal, alguém tinha de manter-se positivista.

Sentados no refeitório da enorme loja, olhavam distraidamente para a janela de vidro ao lado (que cobria toda a parede). O ambiente exterior encontrava-se estável, a tempestade de areia tinha acabado horas antes e não havia sinal algum do tornado.

Adam Craig estava na cadeira de frente a menina. Ele não sabia se era pelo fato dela ter o salvado, mas Lena Gellar parecia-se cada vez mais com um anjo. E sendo sua salvadora ou não, era bonita. Uma verdade que ela parecia não saber.

— O que aconteceu em Birmingham? — Ecoou Adam, por toda a loja.

— Eu não sei. — Murmurou Lena, delicadamente. — Acho que ninguém de fato sabe. Era para ser só uma simples chuva de verão, não?

— Foi o que disseram na rádio local. — Concordou ele. — Bem, eu não ouvi tudo. Desliguei antes que a programação terminasse. Mas foi algo do tipo.

Lena encolheu os ombros.

— A cidade está deserta. — Continuou Adam.

— É assustador. — Lena mordeu os lábios, pensativa.

— Onde estão todos? — Perguntou Adam, franzindo a testa.

— No abrigo, de baixo da igreja metodista Espada & Cruz.

— Na quinta avenida com a décima? — Adam olhou para ela com mais atenção.

— Exatamente.

— Desculpe perguntar..., mas por que não está lá? ... junto com eles.

— Eu, literalmente, dormi demais. — Disse Lena, lançando-lhe uma olhadela tímida. — Não vi nada... não ouvi nada...

— Dorminhoca. — Brincou Adam, inocentemente, sem maldade. Mas a menina não riu.

Ele debruçou-se sobre a mesa, ficando mais próximo de Lena. Rostos quase colados.

— Passando por problemas?

— Não. — Mentiu Lena, preferindo não comentar sobre a relação com a mãe e padrasto. — Só que a noite passada foi cansativa. — Lena apoiou a cabeça na palma de uma das mãos.

Ele assentiu algumas vezes, como um psicólogo.

— Podemos ir lá... no abrigo. A situação já se amenizou. Se corrermos talvez...

— Eles fecharam as portas às dez da manhã de hoje.

— Como sabe disto? Não estava dormindo? — Provocou Adam.

— Vi no noticiário. — Retrucou Lena. — Assim que acordei.

Ambos se deliciaram da falsa briga.

— E você? O que aconteceu? Por que não está lá? — Perguntou ela a Adam.

— Hummm... posso dizer o mesmo. Dormi demais. — Ele sorriu e se levantou. — Mais especificamente... cheguei tarde. Muito tarde!

Silêncio.

— Na verdade, fui até a cidade de Silverstone. Quando voltei para cá, entrei de cabeça em toda esta confusão. — Disse Adam, resolvendo ser verdadeiro e transparente.

— Voltou sabendo do tornado? Veio salvar alguém?

— Não. Eu não sabia. — Adam deu de ombros e sentou-se no assento ao lado dela. Braço esquerdo descansando no encosto da cadeira de Lena. — Na verdade, eu estava no Motel Blake.

— Motel? Do Blake? — Perguntou Lena, aos cochichos, com as bochechas levemente coradas. — Uau!

Adam obviamente estava tentando não rir dela. "Com certeza é virgem", pensou ele.

— Se eu tivesse prestado atenção na televisão da sala de recepção, antes de ir ao estacionamento, talvez eu tivesse visto algo... alguma notícia... e evitado minha volta a Birmingham. — Adam abaixou a cabeça. — Talvez alguém estivesse comentando a respeito, mas saí às pressas de lá. — Pontuou envergonhadamente. — Nunca se deve esperar algo de bom, ou produtivo, de um menino, hum, com identidade falsa.

Sua salvadora o encarava com pena, resolvendo não o julgar.

— Eu sou muito burro. — Acrescentou ele.

— Não. Não é. — Consolou-o Lena. — Apenas desatento. Mas, todos nós somos às vezes. — Balbuciou ela. — Não olhamos a nossa volta até que algo seja tirado da gente ou, até que aprendamos a dar valor a algo superestimado e do qual não conseguiríamos viver sem.

Adam olhou para ela com mais atenção, fascinado com suas palavras e maturidade.

— Sem querer duvidar de você, e nem nada disto..., mas não tinha ninguém na estrada? Na rodovia principal? Sei lá, alertando para que ninguém entrasse nos limites de Birmingham? — Perguntou Lena, amargamente.

— Não.

— A Polícia Civil?

— Não.

— A Guarda Costeira?

— Não.

— Guardas de trânsito?

Adam riu.

— Greenpeace? — Indagou Lena, cruzando os dedos das mãos.

Sob as luzes fluorescentes do refeitório, Adam percebeu que os olhos da garota foram do castanho a uma tonalidade caramelada.

— A situação está pior do que eu pensava. — Disse Lena, pegando o menu como se fosse escolher algo para comer. Como se alguma garçonete fosse estar ali em minutos. — Estamos ferrados!

— Eu não estou.

— E por que não? — Ela abriu um sorriso falso. — Estamos nesta furada juntos!

— Exatamente. — Desembuchou Adam. — Estamos nesta furada juntos! Eu tenho você. Não podia ter pedido por companhia melhor. Você me salvou, Lena Gellar. Você é... — Adam fechou a boca. Ele iria dizer: Você é maravilhosa. Mas ao invés disto... — Você é astuta. Parece ser uma daquelas meninas inteligentes que existe em todas as escolas.

— Eu lhe garanto que poderia ter ficado preso com uma pessoa melhor que eu. Uma menina mais inteligente. — Vitimizou-se Lena, sem perceber. — Uma parceira de sobrevivência muuuito mais corajosa.

Adam piscou, colocando, carinhosamente, a mão direita sob a mão esquerda de Lena.

— Mas eu não quero ficar preso a mais ninguém que não seja você. — Ele limpou a garganta. — É uma honra tê-la como parceira, dorminhoca.

Lena endireitou-se no assento. Sua mão esquerda ainda tocando a palma de Adam.

— Tem certeza que não a conheço de algum lugar?

— Está duvidando de mim? — Lena levantou os olhos.

— Ah, não. — Disse Adam, meio sem jeito. — Não estou não. Desculpe.

Uma pontada de culpa atingiu o âmago de Lena Gellar. Nunca fora uma garota mentirosa. Mas algo dizia que se Adam descobrisse o quão fracassada ela era na escola, e em sociedade, ele se distanciaria dela.

Para Adam Craig, ela era apenas uma garota misteriosa da qual ele poderia ter visto-a na rua, ou esbarrado acidentalmente na fila da padaria. E não a Lena Gellar, sua colega de sala que vivia na biblioteca ou no banheiro escondendo-se das pessoas.

— O que acha de assistirmos um pouquinho deste noticiário? Talvez os jornalistas estejam de plantão... dizendo mais novidades. — Propôs Adam.

Lena concordou. E só então suas mãos se desentrelaçaram. 

A Série Stay With Me: Next To You (Livro 1)Where stories live. Discover now