Capítulo 16: Infelizmente, não se pode mais tomar um banho digno hoje em dia

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Lena Gellar

Adam bateu na porta. Não que precisasse, mas a situação entre Lena e ele não estava das melhores. — Com licença. — Ele nunca tinha usado palavras tão educadas em vida, e percebeu que aquela era a melhor hora para acrescentá-las em seu léxico. — É a hora do meu turno. — Disse ele, apontando para a televisão. Completamente imóvel, ele esperou que Lena autorizasse sua entrada na sala de descanso dos funcionários.

— Ah, é verdade. — Murmurou ela, acomodada no puff.

— Com licença. — Repetiu Adam, adentrando o ambiente. Seu cabelo úmido indicava que ele havia tomado uma ducha antes de cobrir o horário do turno. As roupas grudadas ao corpo mostravam que não havia, sequer, pego uma toalha para secar-se.

Lena segurou-se para não revirar os olhos, visivelmente irritada com seus repentinos bons modos. "Em uma outra época, ele roubaria uma toalha", pensou ela, encarando através da camisa branca encharcada a perfeita e tentadora musculatura do jovem.

— Eles disseram algo de útil? — Indagou ele, referindo-se aos apresentadores do telejornal matutino (William Bukowski e Gertrude Timpsky).

— Nadinha. — Respondeu Lena — Estou começando a sentir saudades da Rose. — Pensou ela, em voz alta e ironicamente.

Adam ri.

— Rose McGonagall da NBC News?

Ela assentiu.

— Minha mãe também a odeia. — Comentou Adam.

Lena esbanjou um meio sorriso, com indiferença.

— Pegue! — Disse ela, levantando-se. Estranhamente próximos um do outro, Lena ofereceu o bloco de notas e ele aceitou. — Escreva tudo de importante.

— Como o quê? — Perguntou ele, ingenuamente. Com os braços cruzados na frente do peito, Adam balançou-se sobre os calcanhares.

Ela encarou-o incrédula, e ele encolheu os ombros. Em pensamento, Adam percebeu que Lena poderia ser mais dura que seu treinador do time da escola.

— Clima, a rotação e localização do tornado... — Ela listou as possibilidades. — Se alguma das Kardashians fez transplante de cérebro... sei lá... tudo que o seu processo seletivo achar de relevante.

— Okay. — Foi tudo que Adam conseguiu responder, sentindo-se burro por ter feito uma pergunta tão estúpida como aquela.

Segundos depois ele se encontrou sozinho no ambiente. Ele e a televisão. Ele e as vozes que saíam do péssimo e antigo tele receptor. E então, tomou nota:

"Socorro." 

Na seção de roupas, Lena escolhia algumas para comprar

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Na seção de roupas, Lena escolhia algumas para comprar. Fazia um dia inteirinho que estavam presos dentro do Pare & Compre. E seu instinto dizia que a ajuda demoraria para chegar. Ela precisava tomar um banho, e livrar-se do uniforme rosa-salmão. Não que ela estivesse fedendo (ou querendo transparecer uma boa imagem a Adam), era mais por questão de higiene. E Lena Gellar nunca havia ficado tanto tempo sem entrar de baixo d'um chuveiro. Ela tomava três a quatro banhos por dia. Mania de limpeza? Magina!

— Adam tem razão. — Sussurrou ela, olhando os vários zeros na etiqueta de uma camiseta Gap. — Nós somos mercenários... — Disse, simplesmente, olhando para a etiqueta; como se o preço fosse diminuir em um piscar de olhos. — Ou talvez eu que seja pobre demais além da conta. — Ela conclui, completando a frase.

Depois de, dolorosamente, notar que não havia como pagar pelos trajes em exibição na vasta loja, Lena constatou que o uniforme rosa-salmão seria, particularmente, seu figurino patenteado. Apanhando um conjunto de lingeries em promoção; Lena encaminhou-se para o banheiro. Completamente despida, ela deixou que a água quente passeasse por seu corpo. E então, foi quando tudo aconteceu.

Ela não soube d'onde viera, mas um galho de árvore atravessou a janela do banheiro, espalhando por todo o espaço cacos de vidro. De repente, um tremor surgiu. Lena Gellar não era burra, sabia do que se tratava. Era o tornado. Voltando, absurdamente, mais forte quanto antes.

Com estilhaços de vidros enfeitando todo o chão, Lena Gellar resolveu arriscar e sair do reservatório — totalmente encharcada. Ainda dentro da embalagem, e descansados em cima da pia, Lena tirou os novos trajes íntimos do pacote e os vestiu o mais rápido que pôde. Andando em direção ao uniforme rosa-salmão, pendurado no cabideiro ao lado dos armários individuais, ela escorregou. Com a queda, sua panturrilha esquerda descansou em cima de um pequeno caco de vidro. O corte não foi profundo e, felizmente, o ferimento não vazava muito sangue. Primeiros socorros não seriam necessários.

Pronta para ficar de pé, a parede da janela de vidro (atingida pelo galho) veio ao chão. Igual as famigeradas explosões em filmes de ação, foi possível ver todo o lado exterior do qual o muro a distanciava. Os vários carros do outro lado, no estacionamento, tornaram-se perceptíveis. Quase soterrada, Lena Gellar tentou sair dali. Mas não conseguiu. Tentou gritar. Mas falhou miseravelmente.

Um dos canos de água explodiu, banhando-a com o líquido mais frio que já esteve em contato na vida. Sua pele transformou-se em um misto de poeira com a água descarregada pelo encanamento. Inclinando a cabeça para cima, ela pode ver, um pouco atrás do estacionamento, o vastuoso cone de partículas da natureza. Pela primeira vez, Lena temeu por sua própria vida. E não gostou nadinha do sentimento de impotência e incapacidade.

Por um momento, ela pensou ser seu fim. O tornado estava bem ali, pronto para destruir o Pare & Compre, e derrubar em cima de sua cabeça tudo aquilo que conhecia. Até que, estranhamente, ele parou de avançar. O caminho do qual pretendia percorrer tornou-se, abruptamente, outro. Recuando e recuando, ele tomou um percurso totalmente novo, indo em direção às plantações de milho do fazendeiro Joan Crumsound. E como se não tivesse existido, ele sumiu de suas vistas. O tremor cessou, e o piso voltou a ficar imóvel e plano.

Previsivelmente, como todo príncipe encantado, Adam Craig chegou tarde. Apenas depois de todo o show. Abrindo a porta do banheiro, ele abaixou-se perto dela; e disse palavras de consolo e incentivo (do jeito que aprendera nas aulas de primeiros socorros, em West Toros High):

— Não feche os olhos, Lena. Estou aqui. Vamos lá, eu sei que consegue. Fique comigo.

E então, pegou-a no colo. 

A Série Stay With Me: Next To You (Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora