Capítulo 10: Tímida

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Lena Gellar

A cabeça de Lena Gellar doía. A impressão era a de que seu cérebro estava solto, dançando por todo o crânio.

Ela desafiava a si mesma, esforçando-se para abrir os olhos. E por alguns minutos resolveu desistir das angustiantes tentativas. Mas ao sentir um estranho remexer na cama, denunciando alguém deitado ao seu lado, ela achou forças para acordar por completo.

Desperta, Lena arrependeu-se amargamente por não ter continuado com os olhos fechados. Ela poderia ter ficado quieta, fingindo e prolongando o desmaio. Ensaiando em pensamento o que dizer a ele. Mas era tarde.

Adam Craig estava a poucos centímetros de distância, estirado no lado oposto da cama, encarando o teto. Ele e seus fantásticos olhos verdes-esmeralda. Ele e seu — ai meu Deus — corpo de deus grego. Lena, por sua vez, não podia acreditar em toda aquela bizarra situação.

"Foi ele quem salvei?", perguntou-se ela, retoricamente, em seu subconsciente. Ela pensava que nunca ficaria tão próxima de Adam. E se chegasse perto o suficiente dele, seria apenas em seus mais profundos, e sórdidos, sonhos.

— Olá, dorminhoca! — Disse o colega de escola, ainda encarando o vasto teto sob eles. Como se estivesse refletindo sobre algum ditado cosmológico a respeito da vida e morte. — Espero que esteja bem. — Continuou Adam, esbanjando um acidental sorriso galanteador. Lena descobriu, em pouco tempo de convivência, que Adam Craig não sabia controlar seu charme. Ele distribuía encanto sem, de fato, querer. Gratuitamente e naturalmente.

Ainda com o rosto virado em sua direção, totalmente paralisada, Lena encarava o menino.

Subitamente, Adam também se virou de encontro a ela. Com a mão no queixo e cotovelo apoiado no travesseiro, o garoto olhou-a pela primeira vez desde que ela houvera despertado. — Uma bitoquinha por seus pensamentos, dorminhoca! — Provocou-a, malandramente.

De repente, Lena queria se esconder. Arranjar algum buraco onde pudesse se enfiar, até que o tornado passasse e Adam Craig tivesse ido embora. Segundo ela, deveria estar horrorosa. O seu rosto ficava péssimo após horas, ou até minutinhos, de sono. Na verdade, Lena achava-se horrorosa o tempo todo. Mas a pior das situações era, definitivamente, quando acordava de breves, ou looongos, cochilos.

— Ei, dorminhoca! Pera aí! — Protestou Adam, assistindo a tentativa de Lena em sentar-se na cama. A palma de sua mão descansou em cima do abdômen da garota, impedindo com que ela se machucasse, ainda mais, no processo. — Para que a pressa? — Ela queria levantar, mas a quente palma de Adam a impedia de se mexer. — Não acho uma boa ideia, dorminhoca. Por que não continua de repouso? Pelo menos, só mais um pouquinho, hã? — Indagou o garoto, genuinamente preocupado. Prensando ainda mais a mão contra a barriga de Lena.

Lena Gellar nunca tinha ficado tão perto de um garoto como estava naquele momento. (Cai entre nós, ela nunca havia sequer sido beijada. Quem dirá tocada!?)

Percebendo a tensão da menina, Adam distanciou-se um pouco; notando que sua proximidade se tornara uma inconveniência.

— Pra você! — Disse o rapaz, de volta à beiradinha da cama, estendendo para Lena um comprimido de aspirina que antes descansava dentro do bolso da nova calça moletom. — Imagino que sua cabeça esteja doendo... humm... cê sabe, devido à queda.

Lena balançou a cabeça, concordando. A dor era insistente, e parecia piorar cada vez mais. Aceitando relutantemente o medicamento; ela o pegou às pressas da palma de Adam. Evitando uma cena embaraçosa com sua paixonite, igual aqueles momentos clichês em clássicos filmes de romance.

— Ah, pera! — Protestou o menino, impedindo com que ela engolisse o remédio a seco. — Aqui! — Disse, esticando o braço para pegar algo no chão, ao lado do pé da cama. Oferecendo uma garrafa de água, Lena estava prestes a aceitar outro dos presentes de Adam. Até que ele puxou a garrafa plástica de sua mão; pegando-a de volta para si. — Ah, espera. Tá lacrada. Eu abro para você. — Sem alguma dificuldade, Adam tirou o lacre e, voltando a oferecer a bebida para Lena, esbanjou outro de seus acidentais sorrisos.

Atrevidamente, ele atravessou a cama, parando onde ela estava deitada. Sentando ao lado da menina, Adam colocou a mão esquerda por de baixo do seu pescoço. Ajudando-a erguer, devagarinho, a cabeça (para que não engasgasse com a água).

Após ingerir o comprimido, aconteceu o que Lena mais temia: uma conversa. E ela era péssima sendo sociável.

— Você tem nome, dorminhoca? — Perguntou Adam, agora de pé. Com os braços cruzados, o menino tentava transparecer a seriedade que nunca tivera antes.

— Hummm... Annn... Ehhrr — Gaguejou Lena, morta de vergonha por bancar a boba (como sempre).

— O quê? — Perguntou ele, passando a mão esquerda no perfeito cabelo loiro (e, de quebra, exibindo o braço malhado). O gesto quase fez Lena suspirar. Adam era perfeito em todos os sentidos.

— Le... nnn... Le... — Gaguejou outra vez.

— Ótimo, estou preso aqui com uma muda. — Expressou-se Adam, olhando a sua volta. Estudando novamente o ambiente do Pare & Compre.

— Eu não s-sou muda. E nem su-surda. — Defendeu-se Lena, triste pelo comentário insensível do garoto.

— Ei. Relaxa! — Adam ergueu as mãos para o alto, em sinal de paz. — Tá legal. Não fique na defensiva. — Continuou ele, voltando a encará-la com diversão. — Então, me diga! Qual o seu nome? Devagar. Não tenha pressa. No seu tempo...

— Lena. Lena Gellar. — Falou abruptamente, atropelando as palavras. Antes que Adam pudesse chamá-la de dorminhoca pela milésima vez.

— Prazer, Lena Gellar! — Ele acenou com a cabeça, de forma sexy e provocativa. — Meu nome é Adam Craig.

— Hum... — Lena arrumava o cabelo, numa tentativa de ignorar as encaradas de Adam. Os olhos do menino a fuzilavam com curiosidade.

Colocando uma mecha por de trás da orelha, Lena acomodou-se novamente no colchão.

— Já nos conhecemos? Eu tenho a vaga impressão de já tê-la visto antes. Cê sabe... Fora daqui.

— Não que eu me lembre, Adam. — Mentiu Lena, sem saber o porquê. — Quer dizer... não, nu-nunca nos vimos. — Ele não se lembrava dela e Lena ficou arrasada interiormente. A dor no coração superando os latejos na cabeça.

— Obrigado por ter me ajudado. — Agradeceu-a Adam, deixando a dúvida de lado.

— Pelo quê? — Indagou Lena, ainda fraca.

— Por ter me salvado do tornado. — Falou Adam, incrédulo, como se fosse a resposta mais óbvia do mundo. E era.

— Qualquer pessoa teria feito o mesmo. — Lena deu de ombros.

— Sabemos que isto não é verdade. — Disse ele, contando sobre Benjamin Flickerman. — Obrigado. — Repetiu.

— Não tem de quê. — Embora não se sentisse bem, Lena Gellar resolveu tentar ficar de pé. Agora, Adam não a impedida, mas ajudava-a.

Com uma de suas mãos na sua cintura de Lena, e a outra por de trás das costas da garota, Adam serviu de apoio — como um fisioterapeuta.

Próximos com nunca estiveram, Adam voltou a quebrar a distância que havia entre eles.

— Obrigada. — Riu Lena, levemente. Ainda desconfortável com a proximidade do rapaz. Ela podia sentir a longa e pesada respiração de Adam, e adorou tudo aquilo. — Bem, foi a minha vez de agradecer.

— Tudo que precisar. — Decretou ele, mostrando lealdade e submissão. — É sério. Tudinho... — A voz de Adam soou maliciosa e convidativa. — Tenho uma dívida com você, dorminhoca.

Então ficaram ali, parados (um de frente para o outro). O Pare & Compre tornou-se pequeno, como em um sonho claustrofóbico. Um sonho claustrofóbicamente perfeito.

A Série Stay With Me: Next To You (Livro 1)Where stories live. Discover now