Capítulo 17

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     A Flor do amor é como mato de jardim. Começa sem chamar atenção e quando você nota já é grande e tomou conta de tudo.

Fernanda Rezende

Foi um dia e tanto. Não sei se foi o sono, o cansaso mental ou o meu nítido karma agindo.

Mas algo naquele dia estava me destruindo como se eu fosse atropelada por 10 cavalos de corridas me pisoteando.

E olha que geralmente eu que atropelo as pessoas. E não sou de fazer corpo mole, mas estou sentindo o cansaço me consumir como se ele fosse um usuário de drogas e eu o cigarro da paz queimando até o fim nas suas mãos.

Meu Deus, que pensamento infame. Eu realmente preciso dormir! Me recrimino.

Deixou que  meu corpo caia na cadeira macia da minha pequena sala, girando tranquilamente de um lado para o outro com meus olhos fechados, tentando me ninar em silêncio.

Uma das minhas mãos na minha cabeça, gentilmente fazendo um auto cafuné. Percebo o quão isso é deprimente e o quão eu ando solitária.

Sério mesmo Eduarda? Cadê a menina independente e que não precisa de afeto e calor humano?

Ela está bem aqui! Quase dormindo e aproveitando o poder de relaxamento que seus dedinhos tem.

 Respondo para minha consciência afetada e solto um sorriso safado percebendo o quão essa resposta é ruim e de duplo sentindo, me permitindo rir da minha própria piada idiota.

Mas então volto a relaxar os músculos e me concentrar no meu sono chegando. A sala em silêncio, o barulho das macas correndo lentamente no correndor provavelmente sendo guardadas. O som de Toc Toc de um sapato de salto alto e o apitar dos aparelhos de reabilitação em degrau.

- Humm... Sinfonia perfeita. Suspiro deixando o meu corpo inerte.

Já atendi todos meus pacientes, após uma maratona de eventos que foi ocorrendo um atrás do outro.

Primeiro uma senhora acha que seu pé não é o seu pé e por isso não quer mais usá-lo. Não fez e não faz muito sentido, mas infelizmente acontece muito em doenças neurológicas e meu trabalho foi bem intenso com ela.

Depois a adolescente de 17 anos que finge convulsão para chamar a atenção da avó e fica gritando no chão " eu tô convulsionando olha...  "Insira uma cena dramática aqui". Então depois de muito sacudir seu corpinho ela previamente nos avisou sobre sua situação final de convulsão - Minha língua tá  enrolando, enrolando minha língua ".

Foi necessário pelo menos 30 minutos do meu dia pra fazer aquele criatura parar de show. Só depois que eu ameacei chamar um médico pra abrir a cabeça dela e ver se tinha algo de errado ali, foi que ela parou e se curou milagrosamente.
  
" A o poder de uma lâmina 10

Passando esses eventos no final da tarde ainda apareceu a cereja do meu bolo. Dona Maria das Graças. Vinda diretamente da igreja, essa senhora de 69 anos, trouxe todas suas amigas freiras pra orar por ela durante sua reabilitação de ombro.

Aperto os olhos e posso lembrar exatamente a cena sentindo minha cabeça latejar em resposta.

- Dona Maria, agora precisamos alongar. Tentei parecer animada diante da plateia de freiras que observava meu trabalho - Asenhora vai segurar a bola exatamente assim. Digo com minha voz fofa, esticando os braços e demonstrando a altura e posição correta do exercício para que ela repita. - A senhora entendeu?

- Sim, entendi.

-Amém irmã. O coro de freiras ao fundo respondeu em apoio me fazendo ficar sem graça.

Meu Querido, FODA-SEWhere stories live. Discover now