Capítulo 5

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- Acredito que você conheça mais o capô do meu carro do que eu. Brinco tentando quebrar o gelo recebo um sorriso com covinha lindo.

Encaro seus olhos azuis quase marinho escuro e me apresento estendendo a mão - Eduarda Verlati, mas pode me chamar de Duda.

- Diria que é um prazer conhecer você Duda ... Ele aperta minha mão por alguns segundos me encarando com ar de deboche  - Mas você me atropelou não é mesmo? Deixo um sorrisinho nervoso escapar.

Culpada!

- Sim, mas juro que não te vi! Justifiquei.

- Sério? Tenho um 1,91 de altura mulher! Como você não me viu? Sinto meu rosto queimando e sei que minhas bochechas devem estar ficando vermelhas.

Realmente... Olhando tamanho do homem assim de perto,  ficava difícil me defender, os pés dele estavam até meio que pra fora da cama pequena do hospital.

Voltei minha atenção para seu rosto buscando argumentos .

- Eu acho que podemos falar aqui sobre que tipo de pessoa atravessa a rua sem olhar ? Não é uma das primeiras lições da infância?

- Dirigir olhando para rua é a primeira da autoescola. Você não comprou a carta né ? Me acusa o espertinho, ele é rápido no gatilho.

- Não...  Certo, você tem razão. Sinto muito! Encaro seu pequeno curativo na cabeça com culpa.

- Tudo bem... Ele balança a cabeça com um sorriso de quem está se divertindo com a situação. - Não precisa fazer essa carinha de tristeza,  te perdoou por tentar me matar. Um sorriso surge involuntário nos meus lábios. - Afinal você não é a única mesmo.... Ele fala baixo desviando a atenção para um vaso de flores qualquer na mesinha.

- Agradeço pelo seu perdão, mas qual o nome da minha estimada e caridosa vítima? Questiono me aproximando do seu leito.

- Theodor Dias. Meu rosto se enruga numa careta e ele percebe de imediato - Pode me chamar de Théo, senhorita Duda.

Concordo com um sorriso e me sento no colchão duro da sua cama.

- Bom... Você quer que eu ligue pra alguém da sua família? Pergunto meio sem graça com a situação, tentando manter uma postura o mais tranquila possível.

Seu corpo fica tenso, toda o clima tranquilo que existia some e imediatamente seus olhos ganham quase três tons mais escuros indo para um azul petróleo.

- Não, não precisa me ajudar! A voz grossa estoura pelo guardo me assustando inicialmente e como reflexo me levanto do seu leito em um só pulo.

- É... Quem sabe um amigo ou namorada? Você precisa de alguém aqui com você, para assinar os papéis de documentação do hospital.

- Não quero ninguém, certo? Deu pra entender? A sua irritação era palpável e meus olhos se encontraram com o dele como se eu buscasse uma explicação para aquele comportamento e então como se por sintonia ele ponderou... E seu tom de voz desceu.

- Não tenho namorada e nem amigos. Uma piscadela foi lançada pra mim de um jeito engraçado enquanto ele falava, tentando amenizar o clima - Sou um lobo solitário baby.

- Bem lobinho, preciso que alguém venha assinar seus papéis, não posso deixar você aqui sozinho, sem ninguém. Deixo minha voz em um tom de brincadeira, tentando melhorar o clima tenso que havia se formado. Ele sorri fraco e vejo que teve efeito, mas mesmo assim sua cabeça balança em negativa.

Homem teimoso!

- Realmente não quero ninguém. E pode ficar com a consciência tranquila em me deixar aqui, não vou te processar, juro... Mas só por curiosidade qual é mesmo a placa do seu carro? Faço uma careta e ele sorri.

Preciso achar uma solução, odeio sentir que as coisas não estão dentro do meu controle.

Dou de ombros colocando as mãos em apoio  sobre a minha perna de forma dramática, assumindo que perdi essa batalha.

Não posso de maneira alguma deixar ele aqui sozinho, sem ninguém... E também não quero minha família descobrindo que atropelei um homem, isso iria contra todo meu plano de parecer responsável e plenamente capaz de me virar sozinha.

Tico e teco começam a martelar alguma ideia na minha cabeça, até que um sorriso surge no meu rosto. Então simplesmente pego uma prancheta marrom e velha que estava na mesinha ao lado da sua cama, e me sento novamente ao seu lado.

- Vamos lá então... Encaro seus olhos em desafio com um sorriso - Nome completo?

- O que? Uma sombrancelha se eleva no seu rosto bem desenhado me obrigando a devolver da mesma forma.

Se ele pensava que eu iria desistir ele não conhecia o meu potencial de persistência. Eu nunca deixo ninguém pra trás.

- Tudo bem Theodor Dias né, idade?. ..  Ele fica em silêncio ainda me encarando com a sua melhor cara de indignação.

- Você não tem cara de mais que 27. O encaro por segundos é então volto minha atenção para os papéis - Vou colocar 25 anos,  para você se sentir jovem.  Falo deixando um sorriso escapar e noto ele passando as mãos pelo cabelo ondulado, deixando um ar bagunçado interessante, ao mesmo tempo que mexe em sua barba pensativo. Para então me encarar.

- Tenho 23 anos. Afirma chamando minha atenção para sí.

- Sério? Questiono com uma nítida cara de quem não acredita que ele ainda seja um rapazote.

- Não, tenho 28! Quis parecer jovem. Seus ombros se levantam como um menino que faz graça, me obrigando a balançar a cabeça em negativa com um sorriso, porém logo volto ao meu objetivo principal.

- Sexo?

- De preferência todos os dias e você?

Espetinho....

Me obrigo a não rir com sua resposta boba e respondo sem olhá-lo

- Duas vezes ao dia se possível. Mas me referia ao seu gênero, vou colocar infantil e masculino aqui! Bato com a caneta na prancheta para dar ênfase na minha afirmação.

Ele ri, uma risada gostosa e grossa.

- Acho que eu não deveria confiar tanto em você para preencher a minha ficha, não é mesmo ?

- Eu acho que se você está reclamando tanto, poderia preencher sozinho e me poupar desse trabalho? Solto com meu humor sarcástico de sempre.

- Acho que eu concordo! Seu tom de voz sai agradável, como quem sabe que está travando uma confusão, mas gosta disso.

Ele pega a ficha das minhas mãos e começa a analisar item por item com atenção, eu consigo notar o seu maxilar levemente contraído enquanto ele pensa em como responder um simples questionário.

- Se você ficar me encarando desse jeito eu vou ficar inibido. Seus olhos saem de forma discreta dos papéis e me encaram de cima a baixo.

- Não estou te encarando! Minha voz afina um pouco mais do que o normal o que demonstra minha irritação com ele.

- Uou me desculpe senhorita, quando você ficou mais de 10s parada olhando em minha direção sem piscar, foi essa a impressão que deu. Ele continua olhando fixamente para prancheta. - Mas se você diz que não está eu acredito nas suas palavras. Seus olhos não saem dos papéis quando ele fala isso.

A primeira coisa que me passa na cabeça é " ele estava mesmo contando o tempo que fiquei o encarando ? Ou foi um blefe ? "

A segunda foi " Deus me dê paciência, pois se me der forças o homicídio vem " !

A covinha dele aponta em suas bochechas o que mostra que ele atingiu seu objetivo que era me irritar.

- Acho que estou começando a entender porque  você é um Lobinho solitário.  Solto irritada...

Ele me encara sério.

- Você não faz a mínima ideia...

Meu Querido, FODA-SEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora