grand finale

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- Eu quero voltar.
- Você não pode - Lucas contestou indiferente, como quem nega algo que sabe que vai acontecer, mantendo os olhos concentrados em alcançar a extremidade da agulha afiada - Agora fica quieto e me deixa terminar.
É sério. Eu quero voltar.
- Pra que? - a risada seca e sem humor algum fez com que quase deixasse escapar a agulha - Pra bagunçar com tudo de novo? Você é um egoísta idiota e sabe disso.
- É, sei. Já não dá mais pra mudar quem eu sou. Foi por isso que eu vim pra cá.
- E vai continuar. Você não queria afastar o caos daquela cidadezinha de merda? Parabéns, conseguiu. Porque você é o caos.
Lucas se afastou após retirar a agulha por completo, deixando o penduricalho prateado fincado como mágica na pele avermelhada da sobrancelha esquerda do garoto, este que respirou fundo e deu uma volta completa na cadeira de rodinhas, sentindo uma dorzinha prazerosa se espalhar pela testa ao franzir o cenho.
- Eu sinto falta dele - praticamente balbuciou, a voz se tornando cavernosa pela certeza consistente que o tomou conforme dizia aquelas palavras - Eu quero voltar por ele.
- Isso é ainda pior - Lucas murmurou insatisfeito, usando a agulha para limpar a crosta de sujeira debaixo das unhas - Parece que você gosta de ferrar com a vida das pessoas.
- Eu nunca fui o herói dessa história.
- Como pode saber? Você não ficou pra ver o grand finale - Lucas sentou na bancada, deixou a agulha de lado e encarou os olhos de águia que o encaravam de volta.
- Isso é o que os vilões fazem.
- Então quem você é?
Ele sorriu de canto, o novo piercing brilhando debaixo da luz amarelada que refletia em seus cabelos.
- Eu sou Mark Lee, muito prazer. E eu cansei. Vou voltar e ponto final.
                                  •
Mark nunca foi muito de ir a escola, ou pelo menos de acompanhar efetivamente as aulas. Usava a desculpa de que toda aquela pressão que vinha no intuito de torná-los máquinas inteligentes e instantâneas, apenas os deixava mais burros. Acreditava em partes, se fosse mesmo falar a verdade. Mas apreciava particularmente as aulas de literatura porque gostava de poemas e coisas complicadas, essas coisas que não tinham uma fórmula na medida certa e seus colegas com as melhores notas quebravam a cabeça para decifrar. Era bom porque era moldável e porque não era sempre igual ou sempre constante. Era poesia, afinal.
Acabou que sempre via Lee Donghyuck como seu poema favorito. Complicado na medida certa, meio tolo se olhar por cima e profundo até demais se parar para analisar cada palavra, cada frase, cada estrofe e o todo. Se comparar o cara que você gosta com poesia é romântico demais, Mark Lee não se importava porque havia explodido uma escola e aquilo sim era o que deveria constar nos livros dali alguns anos. Teria certeza de deixar alguém contar sua história.
Mark nunca foi a pessoa mais empática do mundo, então toda aquela adrenalina que sentia pulsar na veia ao observar Donghyuck de longe o fazia animado demais para pensar em como sua ausência o fizera sofrer. Havia esquecido que aquela parte da dor do amor também era frequentemente presente em qualquer poema de trovador.
Ele viu Donghyuck por cerca de três minutos ali da janela, mas foi o suficiente para bagunçar consigo todo, da cabeça aos pés, por dentro e por fora.
Viu nos jornais que ele estava em uma cadeira de rodas. Também viu que os pais de Lee Taeyong haviam sido presos e o filho do casal estava desaparecido junto de Jung Jaehyun. Mas ler aquilo fazia tudo parecer apenas um teatro do qual era espectador, não cooperante.
Vê-lo ao vivo através do vidro transparente e meio sujo de pó tinha o mesmo impacto que um soco na cabeça. Tudo ficava escuro no primeiro segundo, mas muito mais claro no seguinte. E mais embaçado.
Porque, estranhamente, Lee Donghyuck era o enfado de calmaria que desencadeou o caos.
Ele acabou por olhar pela  janela em um rompante intuitivo e Mark já não sabia se sua vinda era justificada por querer vê-lo ou por querer ter a sensação de ser necessário para ele. Provavelmente os dois. Odiava dualidade.
Quando os dois pares de olhos se encontraram, Donghyuck sentiu todo aquele caos que implorava para ser liberto se espalhar pela sala, pelo ar, tornando tudo meio vivo de novo. Porque mesmo não sendo de todo bom, era humano e era real.
Naquele momento ele soube que apesar de sofrimento, o caos também traz vida, porque Mark Lee era o próprio caos e Donghyuck havia cansado há muito tempo da calmaria.

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número de palavras: 769

obrigada a todos que acompanharam cool kids, sem vcs nd disso teria sido possível, se considerem parte do clube
queria poder continuar a escrever ck p sempre, mas o fim vem junto da dúvida ne
e cabe a VOCES interpretar se o mlk morreu ou n
obg a tds bjs

cool kids | markhyuckOnde as histórias ganham vida. Descobre agora